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Da Redação
Publicado em 28 de dezembro de 2018 às 15:00
- Atualizado há um ano
Ontem pela manhã estive no meu terreiro Ilê Axé Opô Aganju, onde sou Mogbà, para falar com meu Pai Obarayí sobre o fechamento do ano, as festividades dos últimos dias e coisas da minha vida. Cheguei às 8h da manhã e assim segui o ritual de ver o meu pai, irmão de Mãe Stella de Oxossi, quando chego em Salvador. No final do dia recebi a notícia do falecimento dela.
Oxóssi veio em seu cavalo silenciosamente, no último dia do ano, eternizar uma mulher à frente do seu tempo. Uma força da natureza manifestada no feminino que lutou bravamente pela inserção da religião de matriz africana na sociedade baiana e brasileira como as religiões eurocentricas são.
Aprendi com ela a não aceitação do sincretismo religioso. Segundo Stella "candomblé é candomblé e catolicismo é catolicismo" e eu entendo o que ela quis dizer. É que não precisamos mais ocultar as nossas crenças, deixar de respeitar os preceitos e, acima de tudo, deixar de professar a nossa fé, importante afirmação da importância de nossa existência particular e ancestral. Um sistema não deve interferir no outro para vivermos em equilíbrio.
Aliás, o desequilíbrio ambiental, econômico e social vem de vários desrespeitos e permissões sincréticos que respiramos todos os dias, aprendendo a ignorar a vida dos animais, das plantas e dos seres humanos e suas diferenças vitais.
Mas, um fato lamentável que me constrange é saber que o corpo dela estaria impedido de receber o último ritual de corpo presente chamado Axexê por estar noutra cidade, fora de Salvador sob a tutela de sua companheira.
Até respeito o desejo da sua parceira em proteger Mãe Stella mas não aceito o veto. Mãe Stella é maior que os limites de uma ligação conjugal e os seus descendentes têm direito a participar de sua despedida Axexê.
Esse ritual é importante para as pessoas que receberam Orixá na feitura e cumpriram suas obrigações durante a sua passagem na terra. É como completar o ciclo da vida com festa em comemoração aos feitos do iniciado que agora repousa.
Depois do Axexê, temos a certeza de que o espírito seguiu seu caminho, deixando, enfim, o corpo, em direção aos pés do pai maior. Mas, ainda bem que resolveram esse impasse e, enfim, podemos louvar o corpo desta grande líder religiosa, social e cultural do povo negro brasileiro. Espero que a comunidade do candomblé possa usufruir do legado deixado por Stella em obras que ela deixou refletindo a sua intelectualidade e participação social.
Por fim, digo que as crianças precisam saber da existência dessa ancestral, sua história e a beleza do seu Orixá para que o nosso futuro esteja preservado e protegido como o coração da mata.
Nos resta viver seus ensinamentos.
Olorum Kossi Purè