O gafanhoto cor de rosa

Esse mundo é um espanto atrás do outro e posso provar. Pois não é que localizaram recentemente um raríssimo gafanhoto cor de rosa? Rosa choque, ainda por cima. O inseto, que normalmente é marrom e verde, foi encontrado por um cidadão comum do País de Gales que cuidava das flores no jardim. Eram Dálias, dizia a reportagem.

Anotei em meu caderno o nome das flores que o cidadão comum cultivava no País de Gales quando deu de cara com o raro gafanhoto cor de rosa. Tive o cuidado de circundar as informações que recolhi sobre elas com um marcador de texto. As dálias não são raras, ao que se sabe. Oriundas do México, têm cerca de quarenta espécies.

É mesmo uma sorte danada um achado desses. Infelizmente, ainda não consegui ver um animal marinho por acaso, que é um dos meus sonhos. Quando passo pela orla, fico sempre atenta ao menor sinal de movimento no mar. Basta os telejornais anunciarem que baleias e golfinhos estão em nossas águas, para a esperança pousar perto.

Qual nada, camaradas. O acaso fecha a cara para mim, quando não me ignora. Claro que eu sei que há passeios turísticos que cobram preços espantosos para promover esses encontros. Mas quanto vale a mágica de, sem esperar ou pagar nada, topar com um desses gigantes dos oceanos saltando bem diante dos olhos?

Em um site sobre objetos e animais estranhos achados por acaso, descubro que existe um tipo de coral conhecido como “pensamento do mar”. Que nome bonito é esse, minha gente? E o que dizer do antigo brinquedo chinês chamado “As quatro felicidades”? São dois bonequinhos, feitos de cobre, ligados pela barriga como siameses.

Em leitura livre, as quatro felicidades são a chuva, a noite de núpcias, passar numa prova ou teste e encontrar um velho amigo. Bom, quanto a essa última, um amigo de verdade é quase tão raro quanto um gafanhoto rosa choque. Reaparecem de repente, quando estamos distraídos, cuidando das nossas dálias no País de Gales.

Isso de espantos e belezas faz pensar numa frase de Guimarães Rosa que se tornou viral na internet. Realmente foi escrita por ele, é o trecho de um conto chamado “O espelho”, contido no livro Primeiras estórias. O nosso “gafanhoto” Rosa diz que tudo nesse mundo “é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles”.