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Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2022 às 06:59
Que fique claro, isso aqui não é um duelo. É a minha visão de um mundo onde, por enquanto, só resta às pessoas,tanto carnistas quanto veganas – e falo apenas das elegantes, sinceras e conscientes, que são as que cabem aqui - conviverem respeitosamente. Isso porque comer ou não comer bicho não é só uma questão de gosto ou escolha; comer bicho é um hábito entranhado como vísceras na cultura do povo brasileiro.
Assim como Bruna, uma amiga a quem amo profundamente pela mansidão e respeito que traz em sua natureza, eu fui criada no interior da Bahia, onde a carne na mesa está relacionada com status sócio-econômico. “A casa que não tem carne na mesa é uma casa pobre”, explica carinhosamente Bruna.
É por essas e outras que o veganismo ainda tem um longo caminho pela frente. Esse tempo é o tempo da história da humanidade,e na minha cabeça não há como antecipar processos evolutivos. E quando eu digo evolutivos eu não estou dizendo que as pessoas veganas são seres mais evoluídos.
Acho que essa evolução está no plano da consciência e da responsabilidade no manejo de todo e qualquer alimento, seja bicho abatido, seja vegetal envenenado. Essa guerra não é entre pessoas veganas e carnistas, mas de todas nós contra a indústria de comida suja,começando pelo entendimento da falta de escolha da grande maioria da população que alimenta, por exemplo, a produção de alimentos cárneos ultraprocessados pela indústria de commodities.
Porque são os agroboys que destroem o planeta e não o povo da roça, que sempre criou os seus bichos de forma respeitosa (sim),o mesmo respeito que os fazem consumi-lo por completo, e que é o que lhes justifica de forma muito natural em sua filosofia, a morte (ou a vida) do animal.
Mas eu também quis ser veterinária em tenra infância por amor aos bichos; eu também, já adulta,tomei a galinha nos braços sentindo-lhe o coração doido bater contra o meu, minutos antes do abate. O bicho tem saído cada vez mais do meu prato.
Dispenso as carnes frescas fácil,mas tenho loucura pelas de sol e defumadas;frango também ainda como um pouco por teimosia, mas troco qualquer coisa pelos bichos do mar ( a estes falto completamente com o respeito,devo confessar) ou por um belo, colorido e criativo prato vegano.
E é justamente por entender-lhes as distintas ideologias e lambuzar-me em ambas as cozinhas com igual tesão, que me ponho aqui nessa coluna do meio entre Bruna e essa vegana que merece todo o meu respeito,não só pela sua militância diária de alimento limpo e veganismo popular, como também pela sua trajetória como empreendedora, que é Ilza Heckert, aka Nana Vegana.
Como as duas.
APRENDENDO A LER PARA ENSINAR ÀS CAMARADAS
BRUNA MOREIRA - Nordestina do sertão da Bahia, aos 33 anos já fez linda carreira como charcuteira. Traz na memória de infância o convívio com os bichos na roça e as visitas de domingo ao açougue municipal onde, já na adolescência, ia pegar vísceras para cozinhar e comer na rua com amigos tomando cerveja. Lembra que sarapatel, buchada e mocofato estavam nas mesas de festa de ricos e pobres.
Conta de quando apaixonada pelas pancs na faculdade perguntou ao seu avó por que não comiam mais palma e bredo e ele disse “ninguém come mais isso, que é do tempo que não tinha comida e ninguém podia comprar carne”, reforçando o status da carne no sertão. Quando volta ao Pereira e faz churrasco para as amigas depois do baba, conta que quando veem os vegetais na grelha perguntam “oxe, tá faltando carne? ” E ela responde “não, tem carne e outras coisas também”. Fotos: Karina de Mello/Divulgação Ela meio que “aprendeu a ler pra ensinar às camaradas”. Hoje mora em Los Angeles, onde trabalha num restaurante brasileiro e nas horas vagas mergulha em vivências com outros latinos - sobretudo mexicanos, experimentando tacos de miúdos inimagináveis – “até a hora de voltar pra casa, que esse aqui não é o meu mundo”. Das feiras de lá, preparou essa tostada com bucho de porco – que passou por salmoura, fervura, foi refogado em guanciale e cozido em mirepoix por duas horas – com topo de rúcula baby, coentro e vinagrete de mostarda.
CONHEÇA A CHARCUTARIA ALTO NÍVEL DE BRUNA EM @AMOREIRACHARCUTARIA E ACOMPANHE OS SEUS CORRES NO @BRUNA.MOREIRAS
QUESTÃO DE VIDA OU MORTE
ILZA HECKERT - Carioca, 40 anos, dos quais 12 como vegana, por não achar justo matar bicho com tanta coisa para comer. Queria vida e não morte no seu prato. Uma escolha que foi ganhando força dentro de si à medida em que começou a perceber que aquele veganismo emocional tinha também motivações políticas e sustentáveis que passavam pela mesa. Não queria compactuar com a degradação do mundo, nem com a equação fome X desperdício, nem com a exploração de bichos, gente e terra por uma cadeia destrutiva que entope o povo de comida envenenada. O veganismo conversava com tudo isso.
Era crença, causa, questão de luta e militância. Haveria de realizar o sonho de poder sustentar a si e à sua equipe à partir do sustento de seu propósito. Uma coisa que a incomoda é a resistência de quem entorta o nariz se disser que a comida é vegana, mas ama se comer na ignorância, nem que seja para depois dizer que “sabia que tinha alguma coisa estranha”. Fotos: Eriane Soares (esq) e Christiana Gomes de Lima (dir)/Divulgação Gente que é sem graça e cara, enquanto milita, cozinha gostoso e oferece um veganismo popular. Mas se sente estimulada com o crescimento do número de simpatizantes que enxergam o veganismo como um caminho a ser seguido, aumentado a consciência da responsabilidade das escolhas e diminuindo aos poucos o consumo de carne. Curiosamente, Ilza também trouxe uma tostada com camada de hommus, cogumelos salteados com toque de alho e cominho, tomate cereja e brotos de coentro. Deu fome vegana? Conheça @nana.veg que acabou de abrir um bistrô super gostoso no Rio Vermelho.
CONHEÇA @NANA.VEG QUE ACABOU DE ABRIR UM BISTRÔ SUPER GOSTOSO NO RIO VERMELHO.