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Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2012 às 08:05
Como sempre se apresentou nu para os baianos, decidi mantê-lo sem roupa só para a pose da foto, já que agora o tradicional picolé Capelinha, como mostra o detalhe no topo da página, vem todo embecado. Nem lembra aquele tempo em que circulava protegido do sol forte em caixinhas de isopor pelas areias da praia, na orla de Salvador. Não lembrar é força de expressão, afinal, qual baiano não se recorda desse patrimônio? Criada por Antonio Mota, hoje com 76 anos, a iguaria do populoso bairro de São Caetano é um produto genuinamente baiano, mas que ultrapassou fronteiras, atestado em pedidos que a fábrica recebe de admiradores estrangeiros. Em 40 anos de existência, a marca Capelinha tornou-se pioneira em muita coisa. Seu Mota gaba-se de ter lançado o picolé de milho verde na cidade. Os produtos - que custam entre R$ 0,80 e R$ 1 - são 100% naturais, feitos com frutas selecionadas e do dia. Nem mesmo fruta fora da estação é usada. “Abacate e pinha fora de época amargam, minha filha”, ensina. Aliás, são os sabores das frutas que mais seduzem o paladar; no meio do creme geladinho vai se degustando um bago da graviola, umas sementinhas de morango, bolinhas da tapioca... Não só o sabor importa, mas também a textura. O cardápio reserva outros: o de chocolate meio amargo com leite de coco, o de doce de leite, e os clássicos de coco e de amendoim, campeão de todos as horas. O empresário me levou ao segundo andar da casa simples onde a produção é feita e mostrou o porquê desse sabor não sair de moda. Enfiou um palito, que também agora é personalizado, no galão de 20 litros de pasta de amendoim, me deu para provar e disparou: “Comi muito isso com pão”. Tá explicado por que é o mais vendido, ainda mais se for Inverno. Dono de tamanha riqueza, ele levou 15 anos para registrar a marca. O picolé foi imitado por deus e o mundo. Muitos vendedores ambulantes arrancavam a embalagem de outras fábricas e saíam gritando: “Olha o picolé Capelinha, é o original”. Em Itapuã, o dono de uma fabriqueta chegou ao extremo de espalhar a morte de Seu Mota. Mas não há nada que abale a fé e a coragem desse senhor, que adora se perfumar. Acorda às 4h da manhã e só deixa o batente às 15h30. Passa numa padaria, compra um pãozinho quente e vai se esbaldar com a amada, dona Marilene, 64 anos, que lhe deu três prósperos filhos. A venda não é só no balcão. Fornece, com desconto de R$ 0,15 em cada unidade, para festas de aniversário, empresas, eventos, casamentos chiques. Orgulha-se dos noivos que puseram o picolé no lugar da taça e posaram para a cena clássica dos braços em X. Espirituoso, diz que faz picolé de tudo. “Um gaiato da feira me provocou dizendo que eu não faria um de jiló. Não só fiz como dei a uma grávida e ela nunca mais esqueceu de mim”, diz.>