Sobre Hipocrisia, Sobre Oportunismo

A descoberta dos depósitos de sal instigou, há mais de 60 anos, o visionário empresário baiano Euvaldo Freire de Carvalho Luz

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  • Matheus Oliva

Publicado em 23 de dezembro de 2023 às 12:36

Sal gema
Sal gema Crédito: Divulgação

Quando todos estão mentindo tudo parece verdade. Sob o disfarce da justiça, a mentira torna-se hipocrisia. E a hipocrisia é uma mentira bem vestida.

Alagoas, na nova república, já produziu um Presidente da República, um Presidente do Senado e dois Presidentes da Câmara dos Deputados. Cargos mais poderosos do país, pela via eleitoral. Não é pouco. Hoje é protagonista de uma catástrofe que parece até repentina. Falso.

Desde a descoberta casual em 1941 até sua exploração atual pela Braskem, empresa de controle privado com relevante participação da estatal Petrobras, no capital e no Conselho de Administração, as condições e consequências da exploração do sal-gema em Maceió, eram sabidas. Todas instâncias, instituições, órgãos e autoridades, do Estado brasileiro, nos níveis municipal, estadual e federal, responsáveis por planejar, desenvolver, prevenir, fiscalizar, investigar, organizar, aprovar, orientar e sancionar conheceram a situação em algum momento.

A descoberta dos depósitos de sal instigou, há mais de 60 anos, o visionário empresário baiano Euvaldo Freire de Carvalho Luz. Espírito empreendedor aguçado, enxergou uma oportunidade. A saga da exploração de sal-gema deveria ser orgulho nacional. O Brasil tornou-se independente de importações para produção de soda-cloro, produtos básicos para qualquer civilização.

Maceió, à época, tinha população rarefeita sobre as minas de sal. Somente com o caótico processo de urbanização unido à explosão demográfica, a partir dos anos 70, em todo o Brasil, foi que a população na localidade começou a crescer, desordenamente. Um planejamento era necessário. Em 1981, o então prefeito Fernando Collor de Mello (1979 - 1982), criou o Plano de Desenvolvimento de Maceió (PDM 1981), antes da obrigatoriedade constitucional, estabelecida em 1988. O planejamento previa e orientava o eixo de crescimento e adensamento populacional ao nordeste da cidade. Ao sul, onde ficam as minas, a industria e o porto, os bairros não deveriam crescer. Fosse o plano seguido pelo poder público, a tragédia teria sido minimizada.

Com a situação de afundamento dos bairros, o senador decano, alagoano, Renan Calheiros, convoca uma CPI. Ele que foi, por indicação do ex-presidente da república Itamar Franco, em 1994, vice presidente da Petroquisa, empresa estatal ex-proprietária da mina. A Polícia Federal, essa nobre, respeitada e competente instituição, realiza operação de busca e apreensão na empresa. A indústria tão cobiçada outrora, formadora de tantas pessoas que puderam ascender socialmente, pagadora de tantos impostos, hoje é defenestrada pelo poder público, linchada por uma imprensa superficial. É espantoso que um sonho empresarial, realizado com apelo socioeconômico, com todo apoio do governo, se torne um pesadelo social, onde as forças que existem para garantir o bem estar de todos, as forças que são pagas pelos impostos arrecadados da população e das empresas, somente apareçam para acusações pós fato. Por 50 anos, omissão. Hoje, acusação. O capital privado é desalmado, a população é vítima, os poderes públicos são os heróis.

Não será com bom mocismo hipócrita, com narrativa oportunista, que sairemos da condição de nação atrasada, desigual, ignorante e violenta. O Brasil perde com a caçada aos empreendedores transformados em bodes expiatórios, e com a demonização do lucro. Tal qual a hipocrisia, os diabos só andam bem vestidos… e há muitos deles passeando por aí.

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