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OPINIÃO
Milhares de seres humanos ainda estão aprisionados nas trevas do trabalho forçado, uma mancha no tecido da consciência coletiva
Matheus Oliva
Publicado em 9 de dezembro de 2023 às 10:00
Sábado passado, 2 de dezembro, Dia Internacional para a Abolição da Escravatura.
Uma das mais antigas e persistentes desumanidades da humanidade. O projeto V-Dem, da Universidade de Gotemburgo, Suécia, mediu a performance de liberdade, direitos e obrigações do trabalho, no planeta.
O indicador uiva para alguns líderes ocidentais como um lobo mudo uiva para a lua. Milhares de seres humanos ainda estão aprisionados nas trevas do trabalho forçado. Uma mancha no tecido da consciência coletiva dos seres conscientes.
Catar, país ostentador de valores materiais e pregador fundamentalista islâmico, anfitrião da Copa do Mundo da FIFA em 2022, exerce a exploração sistemática dos trabalhadores migrantes. Falta de valores humanos. Não há leis trabalhistas que garantam mudarem livremente de local de trabalho e a apreensão de passaportes é uma prática comum entre os empregadores.
Hotéis, restaurantes, parques de visitação e todo o turismo incentivado para visitação tem amparo na exploração escravagista dos migrantes ludibriados pelo brilho ofuscante do reflexo da luz solar escaldante nos arranha céus de aço e vidro espelhado.
Também é anfitrião do Hezbollah (“Partido de Deus”), de lá é comandado o grupo político - paramilitar atuante na fronteira norte de Israel, que tem como valores o anti-semitismo e a pregação anti-ocidental.
Conflitos armados e situação política desestruturada criam, no Afeganistão, ambiente onde pessoas são forçadas ao trabalho e ao casamento, o tráfico humano abunda.
Eswatini, mínimo país entre Moçambique e África do Sul cujo valor extraído da riqueza natural concentra-se no poder local monárquico, o trabalho forçado ocorre no trabalho doméstico, agricultura e até nos mercados de varejo.
Coreia do Norte, há diversos relatos de campos de trabalho forçado. Eritreia, o programa nacional de serviço obrigatório do governo tem recebido críticas generalizadas pela sua natureza coercitiva.
Coreia do Norte e Eritreia, cada uma à sua maneira, mostram como o trabalho forçado pode ser uma ferramenta de controle estatal.
Todos os países com alto índice escravagista são autocracias.
Inescapável concluir: democracias são necessárias para a liberdade. São elas que verdadeiramente protegem os direitos dos trabalhadores, promovendo a dignidade humana e combatendo a escravidão moderna.
E quanto vale uma brasileira, um brasileiro? A esperada classificação do Brasil no Índice PISA de educação, reflexo do sistema educacional perverso, revela o "ultrágico" desenvolvimento intelectual e social do jovem brasileiro que não tem valor no mercado de trabalho.
É preciso que o dinheiro arrancado do suor de brasileiros e brasileiras pelo Estado, retorne para a população em boas doses de educação para construção da liberdade e dignidade de brasileiros e brasileiras.
Enquanto que em Brasília a pauta seja a apropriação político-ideológico-financeira do país, o Brasil no geral se fragmenta em uma sociedade desvalorizadamente desigual.
Festa nababesca, ao estilo Catari, mil e uma noites nas arábias, patrocinada por associação de magistrados para homenagear um ministro supremo, que comemora ao samba no pé, uma poderosa presidência rodiziada, junto a cerca de 1.200 convivas, clérigos, jornalistas, outros ministros e meia Brasília e meia, revela que o senso de realidade e impedimento já não existe no Brasil.
Ministro homenageado que, quando de fora, advogou a favor do mandato por tempo limitado na corte. Hoje, no conforto da poltrona e salário vitalícios, pensou melhor e mudou de ideia, talvez de valores.
Impossível.
O perdularismo da gestão de recursos públicos, a corrupção, a incompetência de planejamento e execução, a pauta ideológica supremacista, o desrespeito à livre iniciativa, o tutelo do dependente assistencial, os privilégios instituídos e autárquicos… impossível qualificar para inovar, criar e, sobretudo, gerar riqueza. Estudantes mal preparados não tem valor quando adultos.
O resultado é uma população precariamente trabalhadora, que luta por sobrevivência, privada do sonho de ascender e prosperar em liberdade na sociedade brasileira. Esta é a escravidão moderna brasileira, fruto de uma república vilipendiada em seus valores.
Matheus Oliva é Criador da MO - Movimento & Oportunidade