Na balaustrada do Rio Sena

A natação foi na Bahia, por décadas, coadjuvante do remo. O primo pobre. Os clubes de regatas Vitória, São Salvador, Itapagipe e Santa Cruz se denominavam Clubes de natação e regatas

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  • Nelson Cadena

Publicado em 18 de abril de 2024 às 05:00

Os parisienses e visitantes, pela segunda vez na história, estarão na balaustrada da margem do Rio Sena, desta vez para assistir à inédita cerimônia de abertura fora dos estádios, nos Jogos Olímpicos de 2024. Segunda vez? Exato. Nas primeiras olimpíadas parisienses, em 1900, as provas de natação foram realizadas no Rio Sena, os nadadores contornando as correntezas. Não existiam piscinas olímpicas. Nos Jogos de Atenas, marco inicial das olimpíadas modernas, em 1896, foram disputadas no mar provas de 100, 500 e 1200 metros livres. Natação em piscinas somente a partir de 1912, nas olimpíadas de Londres.

As voltas que o mundo dá. A natação olímpica, que teve sua origem no mar, foi por décadas rejeitada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) quando da proposta da Federação Internacional de Natação (FINA) de incorporar as provas de longa distância, em águas abertas, prova onde a baiana Ana Marcela Cunha conquistou o ouro, em 2020, nas olimpíadas de Tokyo. E, enquanto em Paris, em 1900, os nadadores enfrentavam a correnteza do Rio Sena, três anos depois Raul Drumond nadava o percurso entre Montserrat e o Porto da Barra. Doravante as provas de natação no mar, incorporadas às nossas festas populares.

A natação tinha sido introduzida na Bahia, por Lei, em 1895, como uma das disciplinas do Ginásio da Bahia, hoje Colégio Central, como prática esportiva junto com a ginástica, esgrima e exercícios militares, por Antônio Bussone, contratado como professor. O Colégio Ypiranga, que o educador Isaías Alves assumiu em 1911, também introduziu as aulas de natação no currículo escolar. O esporte começava a ganhar certa notoriedade, a partir das façanhas do super atleta Raul Drumond, nadador, remador e balonista; das performances de Toma Millim, Arlindo Dunham, Oscar Pereira, Jorge Costa e do surgimento dos clubes Jaqueira Water-Pólo Club e Santos Lyra, ambos da Jaqueira.

A natação foi na Bahia, por décadas, coadjuvante do remo. O primo pobre. Os clubes de regatas Vitória, São Salvador, Itapagipe e Santa Cruz, que surgiram entre 1899 e 1904, se denominavam Clubes de natação e regatas _ O Vitória nunca assumiu a denominação, nasceu como clube de Críquete__ mas, natação era formalidade. Incluíam um páreo, assim denominado, nas competições de remo, este, com muitos páreos disputados e no geral os nadadores eram remadores, sua principal atividade. Rebobinando o filme, foi o Rio Sena que possibilitou a Paris introduzir as regatas à vela e o remo como competições olímpicas, em 1900. Franceses e britânicos, então, dominaram o certame.

Em 1924 americanos, suíços e britânicos conquistaram mais da metade das medalhas nas regatas em disputa. As provas de remo seriam realizadas no Rio Sena urbano, a expectativa era levar milhares de parisienses e turistas, para as margens. Mas, o banho foi proibido em 1923, já pela falta de condições ambientais e, então, o COI optou por uma paragem distante do rio, praticamente sem público.

Com essa decisão, a maioria dos parisienses e visitantes foram privados de assistir as façanhas de um certo Jack Kelly, o triplo vencedor do ouro na modalidade, nas Olimpíadas de Antuérpia e de Paris. Kelly era solteiro e charmoso. Cinco anos depois, já casado com Margareth Catherine, celebrou o nascimento de uma linda filha, Grace, que viria a ser atriz de cinema em Hollywood, e, a partir de 1956, Princesa de Mônaco, após esposar o príncipe Rainier III.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras