Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

O tempo que a maternidade pede

Não é apenas um bebê que nasce, mas uma mulher que renasce e que precisa de tempo

Publicado em 12 de outubro de 2025 às 08:00

Maternidade
Maternidade Crédito: Shutterstock

Licença, agora sou mãe. O filho nasce e a vida da mulher nunca mais vai ser a mesma. O mundo vira de ponta-cabeça e o centro das atenções é o pedaço de gente que brotou da gente.

Dias e noites confundem-se no choro miúdo, na mamada interminável, na vigília de cuidados. Entre banhos, golfadas, vacinas, as mães vão tentando se ajustar à nova rotina. O primeiro sorriso banguela desmonta o cansaço. O dente que desponta traz na carona viroses. E o tropeço das primeiras palavras? Cada fase exige entrega, e cada entrega tem um custo invisível: noites mal dormidas, banhos aligeirados, comida fria, reuniões adiadas, projetos engavetados. Um corpo que já não se governa sozinho.

As fases de crescimento não entram nas estatísticas, mas moldam destinos. No torno do ser, as mães vão se refazendo. Recentemente, me tornei dinda-avó. Vi minha única afilhada se tornar mãe e escolher acompanhar integralmente o desenvolvimento da filha no primeiro ano de vida. Privilégio viver esse início com a inteireza que o momento merece. Poucas mulheres recebem o bebê no colo nas condições ideais. Muitas carregam o filho mole nos braços com a dureza da vida. Com os boletos a pagar. Como vou dar conta?

Não é apenas um bebê que nasce, mas uma mulher que renasce – e que precisa de tempo. Tempo para se refazer da travessia do parto. Tempo para aprender a ser colo. Tempo para se reconciliar com o espelho, com o mercado – o das compras e o de trabalho. Com o lazer, a atividade física. Consigo mesma.

As relações amorosas clamam por paciência, cumplicidade e participação ativa. Na vida pessoal, a negociação é constante com os próprios desejos. Há períodos em que eles são silenciados. Amordaçados. Os filhos crescem, ficam independentes e a gente continua tentando se organizar tendo outro coração batendo fora do corpo.

Há leis que parecem nascer do coração antes mesmo de ganharem tinta e papel. O projeto de lei que amplia a licença-maternidade em até 120 dias, a contar após a alta hospitalar de mães e bebês, é um gesto de reconhecimento do óbvio: a maternidade não cabe em calendários estreitos.

A medida anunciada durante a 5ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres altera a Consolidação das Leis do Trabalho e a Lei de Benefício da Previdência Social. É fruto de muita luta feminista. O que esse projeto de lei traz é o reconhecimento de que cuidar de uma nova vida não é tarefa que se esgota a curto prazo. É um ciclo de dedicação sem fim. Que a sociedade, enfim, entenda o peso e a beleza do maternar.

Fernanda Carvalho é jornalista, escritora, autora do Livro A Luz da Maternidade – Relatos de Parto sem Dor conduzidos por Gerson de Barros Mascarenhas