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Gil Santos
Publicado em 17 de setembro de 2021 às 11:16
- Atualizado há 2 anos
Um dia após o Ministério da Saúde recomendar a suspensão da aplicação da vacina contra a covid em adolescentes, o prefeito Bruno Reis afirmou que a decisão foi equivocada. Durante o evento virtual, nesta sexta-feira (17), o gestor disse que haverá uma reunião à tarde da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) para discutir o assunto e que pode seguir vacinando, contrariando o Ministério.>
“Eu considero essa decisão equivocada, mas todas as decisões que foram para vacinar, eu cumpri. E as que foram para não vacinar, eu também cumpri. Eu não vou manter a vacinação sem o respaldo legal, e sem ter a segurança necessária para a população”, disse.>
Bruno Reis explicou que vai pedir uma resposta da CIB e que se a comissão entender que a imunização deve seguir ele dará continuidade ao processo. Nesta quinta-feira (16), a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, órgão vinculado ao Ministério da Saúde (MS), emitiu uma nota técnica comunicando a revisão da recomendação para imunização contra a covid-19 em adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades.>
O ministério diz que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda vacinação de crianças e adolescentes, o que não é verdade - a OMS orienta a imunização a partir de 12 anos – e que pode haver complicações para esse público. Entidades especializadas no assunto, como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), criticaram a decisão.>
“Tudo isso contribui para gerar ainda mais instabilidade nesse processo. Uma decisão como essa precisa ser previamente comunicada e tem que ser com bastante respaldo. Mas o que estamos vendo no Brasil hoje é uma confusão. O Ministério da Saúde toma uma decisão. A Anvisa é contra essa decisão. O Conass e o Conasems são contra essa decisão. As associações de imunização são contra essa decisão. O Ministério da Saúde, de forma isolada, tomou essa decisão”, disse.>
O prefeito afirmou que vai requerer um posicionamento da CIB na reunião de mais tarde, e adiantou que a posição da prefeitura é de seguir vacinando. Ele contou que Salvador tem vacinas suficientes para aplicar a terceira dose em idosos e, ao mesmo templo, imunizar os adolescentes.>
Bruno Reis voltou a criticar a distribuição de doses feita pelo Ministério da Saúde, e contou que 74 mil adultos com 18 anos ou mais ainda não procuraram os postos de vacinação. Outros 129 mil não voltaram para tomar a segunda dose e estão sendo alvo de busca ativa. A cidade tem 99 mil doses de CoronaVac em estoque e se não forem usadas, serão devolvidas.>
“Está comprovado que essas vacinas não provocam reações adversas nos adolescentes e a gente poderia estar usando para vacinar esse público, mas elas estão paradas”, disse.>
Existem mais 17 mil doses de Pfizer no estoque que também podem ser usadas na proteção dos jovens. Quem está com a segunda dose programada até 11 de outubro já podem procurar os postos.>
Anvisa mantém autorização A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou comunicado nesta quinta, onde afirma que investiga o caso da morte de uma adolescente de 16 anos após aplicação da vacina da Pfizer. No entanto, a agência diz que até o momento "não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina".>
"A Anvisa já iniciou avaliação e a comunicação com outras autoridades públicas e adotará todas as ações necessárias para a rápida conclusão da investigação. Entretanto, com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina", publicou a Anvisa.>
A instituição disse também que com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações da bula aprovada quanto à indicação de uso da vacina da Pfizer na população entre 12 e 17 anos.>
A Anvisa ainda destacou que o uso do imunizante em adolescentes com 12 anos ou mais está autorizado em outros países, como Austrália, Canadá e Estados Unidos.>
Decisão O Ministério da Saúde suspendeu a vacinação para adolescentes sem comorbidades e orientou que a vacina só seja aplicada em pessoas entre 12 e 17 anos que tenham "deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade", diz a nota.>
A decisão do Ministério estaria embasada nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de não recomendar a imunização desse grupo, pelo número baixo de casos graves e pelos poucos estudos sobre a vacinação nessa faixa etária.>
O ministro Marcelo Queiroga afirmou que a vacinação foi interrompida para investigação de eventos adversos, e que não será retomada até que haja evidências científicas sólidas. O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, afirmou que foram registrados cerca de 1.500 episódios dentre esses 3,5 milhões de adolescentes vacinados. A maioria é leve, mas citou a morte de uma adolescente paulista, que é investigada pela Anvisa, como motivo de monitoramento.>
Repercussão Segundo o Conass e o Conasems, a decisão de suspender a vacinação para adolescentes sem comorbidades foi tomada "sem qualquer consulta prévia às representações estaduais e municipais da gestão do Sistema Único de Saúde ou mesmo à Câmara Técnica Assessora do Programa Nacional de Imunizações (PNI)".>
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) também criticou a decisão da Saúde, que segundo a entidade "gera receio na população e abre espaço para fake news". O SBIm ainda afirma que as justificativas apresentadas pelo Ministério da Saúde não são claras ou não têm sustentação. "A SBIm, portanto, entende que o processo deve ser retomado, de acordo com o que já foi avaliado, liberado e indicado pela Anvisa", diz.>
Após declarações do ministro, a Pfizer reforçou que não há relação causal entre a morte da adolescente e o imunizante e ressaltou que a definição da utilização e disponibilização da vacina no Brasil é feita com base em critérios de recomendação do Programa Nacional de Imunizações (PNI).>