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A rebeldia e as inseguranças da adolescência no livro 'Rock Circus'

Obra de Dênisson Padilha Filho se passa no bairro da Pituba, na Salvador dos anos 80

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  • Roberto Midlej

Publicado em 17 de setembro de 2022 às 07:00

 - Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Mila Souza)

"A adolescência é aquela fase da vida em que a gente vai mudando de casca. Mas já não cabemos nessa casca e estamos em busca de outra. E, enquanto não consegue essa outra casca, a gente está nu, vulnerável e simula outra casca. O adolescente está cingido numa casca forte e poderosa, mas na verdade está sem casca nenhuma". É assim que o escritor baiano Dênisson Padilha Filho, de 51 anos, se refere a esta fase da vida, que inspira seu mais recente livro de contos, Rock Circus (P55/ R$ 45/ 76 págs).

O narrador e protagonista é um menino cujo nome não é revelado, que tem entre 12 e 13 anos, morador do bairro da Pituba, no comecinho dos anos 1980. Órfão de pai, ele é tímido e bem comportado, mas, como os meninos de sua idade, precisa mostrar-se rebelde e inconformado para ser mais aceito. Seus amigos Bugre, Alemão e Zarolho são como ele. "Precisam simular um caráter periculoso, fingem que são barra pesada, mas no fim isso é um disfarce para timidez e insegurança", diz Dênisson.

Os quatro rapazes se aventuram pelas ruas da Pituba, bairro onde moram, para observar as prostitutas, furtar lanches dos outros na praia ou para espiar às esconidadas um casal que costumeiramente transa num determinado lugar que eles decobriram. 

Mas, embora se passe na Pituba e, eventualmente, cite até ruas do bairro, Rock Circus não corre o risco de interessar só a um público local. Afinal, todos nós passamos por essas agruras da adolescência, em busca da tal casca a que Dênisson se refere. "A Pituba é o lugar onde as histórias estão ancoradas, mas aquilo pode acontecer em qualquer lugar e os dramas colocados pelos garotos, quanto mais pessoais, mais universais são", diz o autor.

E o tal circo do título? Dênisson diz que é inspirado no Circo Relâmpago, que funcionou na Pituba, onde, na fase áurea do rock e do punk, se apresentavam por lá bandas como a Camisa de Vênus, de Marcelo Nova.

Mas Rock Circus não é exatamente um livro sobre rock. Não espere ver muitas referências a bandas, músicas ou discos, salvo uma coisa ou outra, como o punk rock, de que Dênisson é fã. Tanto que um dos citados é a Olho Seco, banda punk paulista criada em 1980, que teve duas décadas de carreira e está de novo na ativa. "Tem pitadas de rock, que está no livro muito mais como símbolo de rebeldia. O rock está mais presente como atitude que como gênero musical",explica.

Desabafo contra a opressão

O cineasta Fernando Gronstein Andrade resolveu "sair do armário" - expressão que ele mesmo faz questão de usar - há cerca de seis anos. Pouco depois, em 2017, gravou o vídeo Cê já se Sentiu um ET?, em que falava sobre sua homossexualidade. A partir daí, sofreu ataques de ódio e foi alertado sobre sua integridade física. Como vem de uma família com boas condições financeiras, Andrade resolveu realizar o sonho de adolescência e morar na Califórnia.

Mas, mesmo longe do Brasil, o cineasta - que dirigiu também Quebrando o Tabu, sobre legalização das drogas - estava preocupado com a ascensão da homofobia por aqui, especialmente após a ascensão da extrema-direita. Resolveu então realizar o filme Quebrando Mitos, que está disponível por um mês gratuitamente no site quebrandomitos.com.br. "Decidimos fazer um filme que expusesse a fragilidade da masculinidade catastrófica do presidente Bolsonaro, partindo da minha vida", explica o cineasta, que divide a direção do documentário com o namorado, Fernando Siqueira. Quebrando Mitos parte da angústia pessoal de um jovem para mostrar o sofrimento que as minorias passam quando se sentem ameaçadas pelos que chegam ao poder. 

Música Preta A cantora e compositora Melly (foto) é uma das atrações neste sábado no evento Salvador Capital Afro, que está acontecendo na Casa Rosa, no Rio Vernelho (Praça Colombo, 106). Em suas músicas, ela carrega a inspiração no Soul, R&B e Trap, referências da música preta. O público vai curtir também a discotecagem do DJ Leandro Vitrola e a banda Quabales, grupo percussivo do Nordeste de Amaralina. Todas as atrações são gratuitas e os ingressos podem ser retirados no Sympla. Meelly (divulgação)  Cinema no TCA O filme Medida Provisória é a atração deste domingo, no Teatro Castro Alves, com ingresso a R$ 1 (inteira). O drama com toques de thriller se passa em um futuro próximo distópico no Brasil, onde um governo autoritário ordena que todos os cidadãos negros voltem para a África, criando caos, protestos e um movimento de resistência que inspira a nação. É o primeiro filme do ator baiano Lázaro Ramos. No elenco, estão Taís Araújo e Seu Jorge. A produção é uma adaptação para o cinema da peça teatral “Namíbia, Não!”, de Aldri Anunciação. “Este filme é o resultado do acúmulo de minhas experiências e de uma tentativa de encontrar outra forma de debater a condição dos negros no mundo”, afirma Lázaro Ramos.

Cultura e feminismo O Bazá Rozê, feira artística feminista que está acontecendo no Palacete das Artes (Graça), começa neste sábado, às 13h, com o Carrinho Multimídia de Missy Blecape. Para as crianças, tem Show de Bolha de Sabão Gigantes (16h) e muita música com a cantora Maeana. No domingo, tem o espetáculo Suspiros e Burbujas com a Cia Laguz (16h). Na sequência entra em cena o desfile RoZê comandado pela Drag Queen Towanda Verde Frita. O encerramento fica por conta da banda Microtrio (18h). Contribuição artística: R$ 10, a partir das 17h