Sabe aquela compra dividida e sem juros? Pode deixar de existir

Governo, bancos e varejistas estudam medidas para reduzir taxas; briga é de R$ 1 trilhão

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  • Flavio Oliveira

Publicado em 19 de agosto de 2023 às 05:00

Medida, se efetivada, vai impactar negativamente o setor de comércio Crédito: shutterstock

Governo, bancos e empresas de varejo estão negociando fórmulas que resultem na redução de juros cobrados na fatura do cartão de crédito. No momento, é quase certo que o crédito rotativo será extinto. Mas não é só isso. Entre as propostas em discussão está o fim das compras a prazo e com taxa zero. Uma ideia que põe bancos e comércio em pé de guerra, pois o parcelamento sem juros movimenta cerca de R$ 1 trilhão por ano.

Segundo pesquisa da Serasa, a inadimplência caiu pelo segundo mês seguido, mas há pouco a se comemorar. Mais de 71,4 milhões de brasileiros continuam endividados e têm pelo menos uma conta em atraso. O volume de dívidas se tornou uma grande questão para a economia do país, pois diminui o dinheiro disponível para o consumo. Pesquisas, como as realizadas pela Serasa, indicam o cartão de crédito como o principal vilão do endividamento no Brasil. Pensando nisso o governo, desde o início do ano, constituiu grupos de trabalhos para pensar soluções. Uma delas já foi posta em prática: o Desenrola. De 17 de julho a 11 de agosto, os bancos já renegociaram R$ 8,1 bilhões em dívidas, beneficiando mais de um milhão de clientes em todo o Brasil.

O Desenrola, porém, além de ser pontual, só resolve o problema gerado no passado. Por isso, os trabalhos continuam para evitar que o problema se repita no futuro e ao mesmo tempo injetar mais recursos na economia. É aí que entra o rotativo e a compra parcelada.

O rotativo é a linha de crédito mais cara do Brasil, chegando a 473% ao ano. O consumidor entra nessa linha automaticamente ao não pagar a fatura integral do cartão, como se estivesse recebendo um empréstimo para garantir o pagamento e não entrar no cadastro negativo (ficar com o nome ‘sujo’). A ideia já expressa à imprensa pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que participa do grupo de trabalho, é extinguir esse tipo de financiamento. A alternativa seria o consumidor recorrer a outras opções de crédito (consignando, direito ao consumidor, etc.) para quitar a fatura ou dividir o valor em aberto em 12, 24 ou 36 meses, uma opção também cara e já disponível.

Os bancos argumentam que as compras parceladas sem juros é uma das causas da inadimplência, ou seja, um fator de risco que é computado no cálculo que vai determinar a taxa de juro cobrada pelo atraso. E por isso defendem que o parcelamento deve incluir a cobrança de juros (mais parcelas, mais juros).

Essa proposta é quase uma sentença de morte para os representantes do comércio. O Brasil é um país de renda média, e o consumidor local só terá acesso a determinados bens de consumo se puder parcelar sem ter que pagar a mais por isso. Falamos de geladeiras, fogão, televisores e também de camisas, relógios, smartphones e até comida, remédios e roupas. O varejo defende que diminuir a quantidade de parcelas ou aumentar o custo – via juros – dos itens comercializados em lojas vai representar uma dificuldade a mais para o setor, com impacto no número de pontos de vendas e de empregos. Uma queda nas vendas ao consumidor também teria impacto em outros setores, como a indústria, que produziria e empregaria menos.

Sobre a mesa há uma sugestão de se chegar a um meio-termo. O número de parcelas e a taxa de juros estariam vinculadas ao item a ser consumido. Por exemplo, a compra de uma geladeira teria condições diferenciadas de parcelas e taxas em relação à aquisição de uma camiseta. A resolução do problema, com perdas e ganhos envolvidos, é uma aposta para aquecer o consumo e fazer atividade econômica girar mais rapidamente e trazer reflexos positivos no emprego e nos números do Produto Interno Bruto (PIB).

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null Crédito: reprodução

O apagão da terça (15) perturbou a rotina, mas gerou muita risada. O melhor do Brasil continua sendo o brasileiro e seu senso de humor peculiar, que permite transformar tudo em piada, mesmo pagando caro pela energia para sofrer com blecautes.

Europeus se organizam contra invasão de turistas

O turismo é o setor econômico com retomada mais consistente após a crise provocada pela pandemia. Enclausuradas por dois anos como medida de segurança sanitária, solteiros e famílias querem tirar o tempo perdido e viajar. Salvador, por exemplo, tem se beneficiado deste momento. O número de passageiros no aeroporto da cidade no primeiro semestre deste ano superou em 8% a quantidade registrada entre janeiro e junho de 2019, quando ainda não existia a covid-19.

A atividade turística, que é uma dádiva para a economia da capital baiana, tem grande peso no PIB municipal e cria oportunidades de emprego, trabalho, renda e divisas, parece ter se tornado uma praga para requisitados destinos europeus nesta época de verão no hemisfério norte, mesmo tendo importância econômica em países como Espanha, Grécia e Itália, onde moradores têm se organizado em movimentos para restringir o fluxo de visitantes por causa de transtornos gerados aos residentes.

Em Barcelona, na Espanha, bares e restaurantes estão proibindo que as mesas sejam ocupadas por apenas uma pessoa. A preferência é pela ocupação de famílias e grupos de famílias que estão de passagem pela cidade. Contaminados pela descontração das férias, esses grupos são mais propensos a abrir a carteira e gastar mais que solitários espanhóis nativos. Os “inconvenientes” causados pelas hordas de turistas vai além dos restaurantes e incluem praias, museus e ruas (como a famosa Las Ramblas) lotadas. Interessante notar que Barcelona, maior cidade da Catalunha, é centro de um histórico movimento separatista que voltou a ganhar força na última eleição do país.

A Grécia é outro país em que a extrema-direita, que na Europa se pauta por pautas xenofóbicas e antimigração, onde os residentes tem tratado mal os turistas. Praias estão lotadas, ocupadas por quiosques, cabanas, cadeiras e mesas alugadas a preços abusivos - praticamente privatizadas - e sem espaços para o lazer dos locais, reclamam os moradores. Uma espreguiçadeira de luxo na ilha de Paros, nas Cíclades, pode custar até 120 euros (R$ 650) por dia.

"O verão grego é parte de nossa alma, é parte de nossa identidade: não vamos deixar que ninguém o tire de nós!", diz o manifesto de uma articulação popular conhecida extraoficialmente como "movimento das toalhas".

A Itália, que elegeu a neofascista Giorgia Meloni, registra movimentos semelhantes e alguns monumentos históricos amanhecem com faixas dizendo que turistas não são bem-vindos. A imprensa local parece conectada a esses grupos e dá amplo espaço a histórias sobre depredações causadas por visitantes de outros países. É claro que monumentos históricos que são patrimônio da humanidade devem ser protegidos e preservados, e vândalos punidos. Mas esse tipo de agressão não é comum. Mas o fato é que os italianos estão cada vez com menos paciência para comportamentos reprováveis de estrangeiros que, inspirados por Fellini, mergulham na Fontana di Trevi, ou para aqueles que picham estátuas, arrancam pedaços do Coliseu ou surfam nos canais de Veneza.

Que o turismo cresça cada vez mais em Salvador, mas que esse tipo de turista depredador não chegue por aqui, que nossas praias sigam gratuitas e democráticas e, sobretudo, que a capital baiana seja uma cidade tão boa para seus moradores quanto para os visitantes.

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