Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Donaldson Gomes
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 05:00
Em meio ao cenário descrito como o mais desafiador da história da indústria petroquímica mundial, a Braskem apresentou os planos para as suas unidades no Polo Industrial de Camaçari e no restante do país. Roberto Ramos, presidente da companhia, diz que o complexo baiano segue como prioridade para a empresa, mesmo em meio a uma série de iniciativas, que vão desde hibernações a transformações no uso de matérias-primas, ou ainda a otimização no uso das plantas industriais a base de nafta como matérias-primas – caso das duas centrais baianas da empresa no estado –, Camaçari segue nos planos da empresa. >
Segundo o presidente da Braskem, o objetivo da empresa é “encontrar o melhor destino para o conjunto de equipamentos” que a empresa tem instalados na Bahia. “É o nosso berço”, enfatizou durante a entrevista coletiva para a apresentação dos resultados financeiros da empresa no segundo trimestre deste ano, nesta quinta-feira (dia 7). Além de manter as duas centrais petroquímicas, Roberto Ramos acenou com a possibilidade de implantação na Bahia de um projeto verde, semelhante ao que a empresa opera no Rio Grande do Sul, onde produz eteno verde, matéria-prima para plástico a partir do etanol de cana-de-açúcar. >
“O plano ainda está em execução e espero conseguir as autorizações para fazer as transformações que pensamos em fazer lá (na Bahia), que possivelmente vão levar à produção de resinas verdes, a exemplo daquilo que a gente já faz no Rio Grande do Sul”, afirmou, sem oferecer mais detalhes. “Já temos a decisão de que o nosso investimento na Tailândia e o nosso projeto no Brasil, provavelmente na Bahia, serão verdes”, destacou. >
Em outro momento da entrevista, o presidente da Braskem ainda disse que a empresa considera utilizar produtos de origem verde, como a própria cana, mas também o milho e a agave, que está sendo pesquisada no interior da Bahia através do projeto Brave, desenvolvido pela Shell, Unicamp e o Senai Cimatec.>
“Na Bahia, temos duas baterias de fornos, como temos no Rio Grande do Sul. A planta 1 é a mais velha. Em relação a ela, ainda estamos estudando a melhor forma de utilização e a perspectiva de operarmos com outras matérias-primas, inclusive gás”, explicou. Ramos lembrou que a unidade já usa 10% de gás liquefeito, importado dos Estados Unidos atualmente. Para a central 2, as perspectivas são melhores. “A planta 2 é muito boa, vamos aumentar o percentual de gás e elevar a 30% na mistura com a nafta”, projetou. >
Segundo Roberto Ramos, os planos de investimentos da Braskem passam por definições em relação às condições para competir no mercado internacional, que passa pelo momento mais desafiador da sua história. Com o aumento na disponibilidade de produtos petroquímicos no mundo, com a entrada em operação de unidades de produção nos Estados Unidos e China, os preços dos insumos baixaram tanto que tornam desinteressante para muitas empresas continuar no mercado. >
Ele explicou que a empresa tem adotado uma série de medidas para conviver com o cenário, entretanto ressaltou como fundamental para os planos a longo prazo a aprovação de um novo regime que permita as empresas brasileiras fazerem frente à competição internacional. >
“As medidas para convivência com ciclo de baixa são várias, estamos sempre buscando a compra de fontes energéticas com custo mais baixo que o grid e a otimização de processos”, afirmou, citando como exemplo um menor número de transições nas plantas, quando uma unidade deixa de fazer um produto e passa a produzir outro – que resulta em um material intermediário, que não é interessante para o mercado e é comercializado como “sucata”. >
Se internamente a Braskem vem fazendo tudo o que está ao seu alcance, externamente o futuro da empresa e do próprio conjunto da indústria petroquímica no Brasil depende de uma sigla de cinco letras: Presiq. O programa é uma estratégia para fomentar o desenvolvimento da indústria química no país, com ações que vão desde ao auxílio mais imediato, como créditos tributários, passando pelo estímulo à inovação e a uma transição para a produção de baixo carbono. >
Questionado pelos presentes, o presidente da Braskem respondeu o processo de venda da participação da Novonor na Braskem, que está em discussão com o empresário Nelson Tanure, não deve interferir nos planos da empresa, que tem ainda a Petrobras como uma sócia com participação relevante. “A venda da participação da Novonor corre totalmente em paralelo com os nossos projetos”, garantiu. >
“A alienação das ações que a Novonor detém, em princípio, não deve gerar mudanças em nossos planos, que são bastante claros e estão sendo apresentados nas tentativas de compras da Braskem ao longo dos últimos anos”, ponderou. “Temos apresentado a todos os candidatos a comprar, inclusive ao senhor Nelson Tanure, que está sendo citado como candidato a comprar”, complementou. >
Segundo Roberto Ramos, mesmo com as possíveis movimentações acionárias, o futuro da Braskem já está traçado: “No futuro, a produção da Braskem será verde. Seja no etanol de cana, como de milho, mas também, no caso da Bahia, com o etanol de agave”.>
Resultados >
No segundo trimestre deste ano, a Braskem registrou no segundo trimestre do ano um EBITDA Recorrente de US$ 74 milhões (R$ 427 milhões), 67% inferior ao do primeiro trimestre. O resultado foi impactado por aspectos como a redução nos preços de alguns dos principais produtos comercializados pela empresa no exterior. >
No segundo trimestre, a geração de caixa operacional da companhia foi negativa em R$ 175 milhões, o que representou uma redução do consumo em R$ 761 milhões em relação ao período anterior. E isso aconteceu pela menor variação de capital de giro, sendo explicada, principalmente, pelos menores custos de produto acabado e de matéria prima e pelos esforços da companhia para otimizar os níveis de estoques no trimestre. “Os resultados evidenciam a necessidade de continuarmos focados na resiliência e higidez financeira, além de implementarmos iniciativas táticas que mitiguem os impactos do momento da indústria química no Brasil e de ações que ajudem a perpetuar o nosso negócio”, afirma Roberto Ramos. >
Com relação ao panorama do setor, a indústria química brasileira apresentou o nível de ociosidade de 38% durante o primeiro trimestre de 2025, este é pior patamar dos últimos 30 anos de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM). “O segundo trimestre foi muito desafiador. A indústria química é um setor estratégico e essencial para a economia brasileira, mas atualmente opera com o maior nível de ociosidade da história, sendo desafiada pela sua estrutura de custos e pela crescente competição global”, ressalta o CEO.>