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Carmen Vasconcelos
Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 06:30
A Bahia não está apenas seguindo a rota da transição energética, ela está pavimentando o caminho. Reconhecida como o principal polo de energias limpas no país, a força dos ventos e a alta irradiação solar no território já transformam a paisagem e, mais profundamente, o mercado de trabalho. >
O que se desenha não é apenas um novo segmento, mas uma "nova matriz de empregabilidade", onde o "emprego verde" é o agente central. Mas o que é, afinal, esse tal "emprego verde"? >
Para Luiggi Pessôa, pesquisador da área tecnológica de Meio Ambiente e professor do SENAI CIMATEC, a definição é clara e urgente: é a ocupação que reduz concretamente o impacto ambiental de setores econômicos a níveis sustentáveis, unindo inovação com preservação.>
"Se a saúde do planeta, hoje, acende sete de nove luzes no vermelho, esses profissionais são imprescindíveis", completa o especialista.>
A guinada é catalisada pela Agenda ESG(que contempla os princípios da gestão Ambiental, Social e Governança), que obriga as empresas a comprovar desempenho ambiental, redução de emissões e governança. Isso está forçando um "redesenho" nos cursos técnicos e de engenharia, onde a formação clássica já não basta.>
Competências verdes>
A nova demanda se concentra nas chamadas Green Skills ou Competências Verdes, que são mais do que meras habilidades: elas englobam conhecimento, habilidade e atitude.>
Segundo o gerente de negócios da área de Meio Ambiente do SENAI CIMATEC, Pedro Pozzi, na prática, o mercado baiano tem dificuldade em preencher três posições estratégicas: tecnologia de hidrogênio de baixo carbono, com profissionais que dominem a produção, armazenamento e transporte dessa nova fronteira energética; o mercado de carbono, através de especialistas com conhecimento interdisciplinar que una o ambiental, o financeiro e o regulatório; e as habilidades digitais avançadas, por meio daqueles que dominem Inteligência Artificial (IA) e automação, essenciais para a descarbonização digital. Com uma postura bem próxima, Luiggi Pessôa complementa, listando as habilidades mais urgentes: Ecodesign/Economia Circular, Visão e Análise Sistêmica do Ciclo de Vida (ACV) e Gestão de Dados para o ESG.>
Essa exigência por sustentabilidade não fica restrita às grandes geradoras de energia. Ela se expande em efeito cascata para o pequeno e médio fornecedor baiano. "Essa necessidade de adaptação será cada vez mais evidente," alerta Pozzi. >
Para manter os contratos, as pequenas e médias empresas (PMEs),de um modo em geral, precisarão reduzir emissões, adotar a economia circular ou buscar certificações ESG. No estado, iniciativas como o PROCOMPI e o Projeto de Descarbonização de Fornecedores (em parceria com a PetroReconcavo) já atuam para levar consultoria e capacitação a essas empresas. >
Alta remuneração>
É um mercado que não apenas exige, mas remunera melhor. Pozzi confirma que há uma "valorização de profissionais com essas habilidades", o que pode implicar em remuneração mais elevada e alta procura.>
Os especialistas afirmam que, embora os empregos verdes cresçam duas vezes mais rápido no mundo, a capacitação de talentos não acompanha. >
A Bahia está agindo para fechar essa lacuna. Além da energia, o estado vê florescer oportunidades em setores tradicionais reinventados, a exemplo da moda sustentável, com uma nova geração de designers, que impulsiona a moda regenerativa, utilizando fibras naturais do semiárido e pigmentos da Caatinga, gerando empregos na bioeconomia circular e para agricultores familiares. Na pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), projetos como o CIMATEC SERTÃO focarão na integração entre bioeconomia e inovação, abrindo novas frentes em agroecologia e biotecnologia. Na verdade, o SENAI CIMATEC vem se posicionando como um catalisador estratégico, incorporando disciplinas transversais sobre Economia Circular e Mudanças Climáticas em toda a sua graduação e pós-graduação. >
Luiggi Pessôa complementa, afirmando que a transição verde é irreversível na Bahia. "O desafio, agora, é assegurar que ela seja, acima de tudo, justa e inclusiva, garantindo que as políticas públicas avaliem o potencial de crescimento de cada setor para que a Bahia não seja apenas produtora de energia limpa, mas também formadora e detentora do capital humano verde, que irá inovar nesse novo cenário global", conclui.>