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Da Redação
Publicado em 9 de julho de 2024 às 09:00
No ambiente de trabalho, as emoções negativas são frequentemente vistas como inimigas da produtividade e do bem-estar. No entanto, como ilustrado no filme “Divertida Mente 2” (Inside Out 2), da Disney Pixar, as emoções são como uma paleta de cores que compõem a totalidade de uma pessoa. Ignorá-las é impossível.>
É preciso abraçá-las, entender como superar as dificuldades e tirar proveito das vantagens e aptidões que cada um de nós possui. As emoções têm um papel crucial no nosso dia a dia e podem ser transformadas em forças poderosas para apoiar a equipe de trabalho. Compreender e canalizar essas emoções de forma construtiva incentiva um ambiente mais equilibrado, resiliente e colaborativo.>
Por que não devemos ignorar as emoções negativas?>
No primeiro filme, Divertida Mente (2015), Riley era criança e precisou aprender a lidar com as emoções que conhecia: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojo. A sequência conta com a menina pré-adolescente se mudando para uma nova cidade, São Francisco, na Califórnia. Nesta época, cheia de descobertas, cinco novas emoções aparecem: Ansiedade, Vergonha, Inveja, Tédio e Nostalgia.>
Essas emoções, inicialmente percebidas como perturbadoras, acabam sendo essenciais para a jornada da personagem. No ambiente corporativo, emoções como as descritas acima não devem ser ignoradas ou suprimidas, mas reconhecidas e compreendidas.>
Ansiedade: como canalizar o melhor desse sentimento>
Considerada um dos principais transtornos da vida moderna e da era da informação, a ansiedade atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. O Brasil é o grande campeão, com 18,6 milhões de pessoas que sofrem desse transtorno, de acordo com dados de 2023 da Organização Pan-Americana da Saúde, o que representa 9,3% da população.>
Apesar disso, essa emoção é uma sensação normal que, se controlada, pode ser positiva. No contexto profissional, a ansiedade costuma surgir com novas responsabilidades, mudanças de função ou adaptações a novas tecnologias. Equipes que reconhecem essa emoção tendem a trabalhar juntas para construir resiliência.>
A melhor maneira de combater a ansiedade é dar protagonismo e voz aos trabalhadores, fazendo com que se sintam valorizados, além de proporcionar treinamentos, mentorias e um ambiente no qual a aprendizagem e o crescimento são incentivados. Isso transforma a ansiedade em uma oportunidade de desenvolvimento.>
Tédio: como ajudar na motivação?>
O tédio é outra emoção explorada em "Divertida Mente 2". Embora frequentemente visto como negativo, o tédio sinaliza a necessidade de agir e tentar algo novo. No filme, o tédio ajuda Riley a lidar com a intensidade da vida adolescente. No ambiente profissional, a sensação de tédio é positiva quando incentiva a busca por novas soluções e abordagens inovadoras.>
Equipes entediadas com processos repetitivos ou falta de desafios são indicativos de que é hora de introduzir mudanças e incentivar a criatividade, pois o excesso de tédio costuma resultar na síndrome de Boreout: um fenômeno psicológico que ocorre no meio corporativo, caracterizado por tédio extremo e falta de desafios e estímulos nas atividades diárias. Diferente do Burnout, causado por excesso de trabalho e estresse, o Boreout surge quando o ambiente empresarial é monótono e subutiliza as habilidades do indivíduo.>
A síndrome geralmente tem consequências negativas tanto para o indivíduo quanto para a organização, incluindo queda na qualidade das entregas, aumento do absenteísmo e rotatividade de funcionários. É importante que empresas e gestores estejam atentos a esses sinais e busquem criar um ambiente de trabalho mais dinâmico e envolvente para prevenir a ocorrência dessa síndrome.>
Inveja: por incrível que pareça, pode ser positiva>
A inveja, constantemente percebida como negativa, é retratada no filme de maneira mais benigna. Ela pode servir como motivação para alcançar melhores resultados e desenvolvimento pessoal. Na esfera profissional, essa emoção deve ser direcionada para melhorar o desempenho e buscar reconhecimento.>
Quando os colaboradores percebem qualidades desejáveis nos colegas de equipe, como habilidades ou sucesso, ganham mais motivação para atingir seus próprios objetivos, transformando a inveja em admiração e inspiração.>
Vergonha: como superar o medo do julgamento>
Em "Divertida Mente 2”, a vergonha também aparece pela primeira vez. No contexto profissional, a vergonha está no limiar entre a autopreservação e o medo de realizar novas tarefas ou assumir responsabilidades mais complexas.>
Apesar de ter importância no sentido de ser um sentimento que faz com que as pessoas prestem atenção ao julgamento alheio e respeitem as normas sociais, a vergonha também é paralisante e impede que profissionais brilhantes demonstrem seu potencial pelo medo de rejeição.>
Além disso, o medo de errar também paralisa. Quando colaboradores entendem que errar faz parte do processo e que reconhecer esses erros é um passo para a melhoria contínua, a vergonha pode se transformar em um fator positivo.>
Nostalgia: a influência positiva>
No filme, a nostalgia aparece como uma emoção que, embora melancólica, carrega traços positivos. Ela ajuda a valorizar experiências passadas e enfrentar desafios futuros com maior senso de controle. No meio corporativo, essa sensação, conhecida como "saudade", tende a reforçar os laços de equipe e promover um ambiente colaborativo. Lembrar de sucessos passados motiva a equipe a continuar trabalhando duro e a se unir em torno de objetivos comuns.>
Entretanto, é preciso ter cuidado para não se perder em sentimentos nostálgicos, mantendo abertura para o novo e para o desconhecido. Mudanças e despedidas acontecem, e estar preparado para elas é fundamental. Nostalgia é um bom sentimento, mas não se deve exagerar na dose.>
Assim como Riley e suas emoções aprendem a trabalhar juntas em "Divertida Mente 2", os profissionais podem encontrar força nas emoções negativas. Reconhecendo e canalizando essas sensações de maneira construtiva, as equipes desenvolvem uma dinâmica mais equilibrada e resiliente. Desta forma, as emoções negativas não apenas coexistem com as positivas, mas também contribuem significativamente para o sucesso e a harmonia no ambiente de trabalho.>
*Lucas Nogueira é Diretor Regional da Robert Half>