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Editorial
Publicado em 16 de dezembro de 2018 às 14:30
- Atualizado há um ano
O IBGE divulgou recentemente uma pesquisa que revela o aumento substancial dos índices de pobreza e, mais preocupante ainda, da extrema pobreza no Brasil. Pelos cálculos do instituto governamental de pesquisas, quase dois milhões de brasileiros desceram à parte mais baixa da pirâmide social – aquela em que estão as pessoas que sobrevivem com meros US$ 1,90 por dia, algo em torno de R$ 140 por mês, de acordo com o limite definido pelo Banco Mundial. Além de entender como esse processo em larga escala ocorreu, é preciso planejar de imediato mecanismos para reduzir em curto prazo de tempo tamanha chaga social.
Não é necessário conhecimentos especializados para perceber que o aumento da extrema pobreza é reflexo direto de uma crise da qual o país tenta escapar há aproximadamente quatro anos. Os números, nesse caso específico, falam por si mesmos. Sobretudo porque a medição do IBGE se baseia em dados de 2016 e 2017, quando a curva para baixo na economia nacional atingiu seu grau mais baixo desde o início da espiral negativa. Antes, eram 13,5 milhões de pessoas sobrevivendo em condições de vida degradantes. Agora, são 15,2 milhões. É como se toda a Bahia, e mais um pouco, fosse habitada somente por pobres em seu grau mais agudo
Se em 2016 a extrema pobreza abarcava 6,5% dos cidadãos, no ano seguinte o percentual pulou para 7,4%. Para piorar, esse crescimento se deu para todas as direções. No Nordeste, região onde o problema é mais intenso, estados como Maranhão e Piauí viram a miséria atingir, respectivamente, 20% e 17% de sua população, seguidos por Alagoas, com 16%. Bahia e Sergipe vêm logo atrás, empatados com 15%. A quantidade salta aos olhos mais sensíveis, no entanto, a mazela identificada pelo IBGE está longe de ser enfrentada só pelos nordestinos.
Fora o Norte, com média de extrema pobreza superior aos 10%, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, economicamente menos desiguais, também assistiram ao aumento no contingente de miseráveis. Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro têm 6%, 5% e 4% de seus habitantes sobrevivendo com menos de um sexto de salário mínimo por mês. São Paulo e Rio Grande do Sul, apesar do baixo percentual de 3%, são estados que possuem grandes contingentes populacionais. Trocando em miúdos, embora o índice seja menor, ele abrange uma enormidade de habitantes.
A pesquisa do IBGE aponta também o que poderia ser feito para erradicar a extrema pobreza no país. De acordo com os cálculos do instituto, seria necessário gastar R$ 1,2 bilhão por mês para que sepultássemos de vez uma mancha que avança em compasso rápido sobre o Brasil. Em especial, através de programas de transferência de renda combinados a projetos educacionais e de inserção no mercado de trabalho que possam ir além do Bolsa Família.
Para efeitos aritméticos, a soma indicada pelo IBGE é muito menor do que as dezenas de bilhões roubados pelo quadrilhão que assaltou o Brasil nos últimos anos, em esquemas descobertos pela Lava Jato e seus infindáveis desdobramentos, cada um com uma conta gigantesca. Mas nem o combate à corrupção nem investimentos na área social surtirão efeitos duradouros se não vierem acompanhados de medidas capazes de reaquecer o mercado e devolver os postos de trabalho perdidos no rastro da crise e da má gestão. O governo que assume em janeiro terá que confrontar a extrema pobreza de modo emergencial, sob pena de ver o país virar uma nação onde a miséria avança sem freios.