Fila rápida: ao contrário do primeiro turno, eleitores relatam espera menor

Muita gente decidiu votar cedo para ficar 'livre': 'Depois daqui, vou para um churrasco', contou uma dona de casa

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  • Thais Borges

Publicado em 30 de outubro de 2022 às 13:37

. Crédito: Foto: Paula Fróes/CORREIO

Foi assim: chegar e votar. Ao contrário do primeiro turno das eleições presidenciais, a maioria das pessoas que compareceu às urnas neste domingo (30), logo nas primeiras horas da manhã, encontrou um cenário diferente. Entre os 11,2 milhões de baianos aptos a registrar seu voto neste domingo, o esquema foi outro: depois de cumprir o dever com a democracia, era só partir para trabalhar, descansar ou esperar pelos resultados. 

Pensando justamente em evitar as filas do último dia 2, quando alguns eleitores chegaram a passar mais de uma hora esperando nas seções, muita gente chegou cedo. Foi o caso da dona de casa Mariana Ribeiro, 64 anos, que chegou ao Colégio Estadual Nelson Mandela, em Periperi, antes mesmo da abertura dos portões, que aconteceu às 8h.  A dona de casa Mariana Ribeiro chegou antes da abertura dos portões (Foto: Paulo Fróes/CORREIO) “É o dia da democracia para o pobre. A gente só tem o direito de votar e tentar fazer alguma coisa”, disse ela, que mora no Rio Sena. Na fila, enquanto esperava a escola abrir, a dona de casa Tânia Maria, 58, disse que nem pensou em não comparecer neste domingo, apesar da demora no termo anterior. “Foi muita agonia no primeiro turno. Depois daqui, vou para a casa da minha filha para um churrasco”, contou ela, que mora no Alto do Cruzeiro. 

Lá, as duas conheceram a chapista Magali Caldas, 54, que preferiu se precaver. Diabética, na outra vez, teve que voltar para casa quando viu o tempo de espera provocado pelas filas e só depois retornar. Dessa vez, levou uma sacolinha com lanche. “Não posso ficar muito tempo sem comer. Decidi vir cedo para me livrar desse negócio. Depois, vou cuidar dos meus três netinhos em casa”, explicou.  Magali levou um lanche para se precaver (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Em poucos minutos, a aposentada Nazareth de Carvalho, 70, conseguiu votar. Queria “ficar livre” também, em suas palavras. Pela idade, já não era obrigada a votar. Ainda assim, decidiu ir à escola. “Foi bem rápido. Gosto de vir cedo, porque vou fazer o almoço na casa da minha filha hoje. Eu vim também porque gosto de ter tudo em dia, todos os documentos certos”, diz. 

A dona de casa Arlane Moreira, 24, levou a filha, a pequena Maria Cecília, 8 meses. Como a pequena ainda amamenta, não tinha com quem deixá-la. Apesar da tensão política crescente nas últimas semanas, ela diz que evita discussões.“Todos nós temos direito de dar o nosso voto. Não quero confusão. Nunca briguei com ninguém por isso. Quem quiser discutir, que discuta só”, enfatizou. O autônomo Edvan da Silva, 42, foi um dos 2,4 milhões de baianos que se absteve no primeiro turno. Ele explicou que não quis ir e, assim como em outras eleições, deixou de votar. Neste domingo, porém, a decisão foi outra. “Agora eu tomei uma atitude e vi que eu precisava vir. Não vai tirar um pedaço de ninguém assinar um número, não é? Vou votar agora para ver se alguma coisa se modifica”. 

Responsabilidade No Colégio Estadual Dom Bertholdo Cirilo dos Reis, no São João do Cabrito, até ‘doguinho’ participou. Como seu tutor, o pescador Jeferson Jesus, 33, precisava ir até a instituição, o cachorro Quininho - ou Orelhudo, para os mais chegados - fez questão de acompanhá-lo. “Ele está comigo há mais ou menos um ano e vai comigo a todo lugar. Se eu entrar no buzu, ele vai atrás”, contou o pai de pet. 

Jeferson tinha ido justificar o voto. Há cerca de duas semanas, foi assaltado e perdeu todos os documentos. Já solicitou um novo RG, mas o documento não ficou pronto a tempo.“Queria muito votar hoje. Estou preocupado, porque sei que a disputa está grande e sei que meu voto seria importante".  Jeferson foi votar com Quininho (Foto: Paula Fróes/CORREIO) O auxiliar de troca Juracy Santos, 40, esperou aproximadamente meia hora na fila para a seção 381. Segundo ele, é “comum” que isso aconteça na seção. “Sempre é assim aqui. No primeiro turno, demorei mais de uma hora. Quando acabar aqui, vamos para a escola dela, que é mais tranquila”, disse, referindo-se à esposa, a boleira Dinaildes Reis, 39, que o acompanhava. “Fora isso, zero problemas. Quando chegar em casa, vamos fechar os portões e nada de rua até amanhã”, acrescentou.  

Aos 75 anos, a doméstica Maria Antônia dos Santos também é mais uma das eleitoras que não têm mais obrigação de comparecer à urna pela idade. Essa, porém, não era uma possibilidade para ela. “Como é que está tudo bem com o litro de óleo por R$ 13? Com tanta gente morrendo aí? Eu tenho 75 anos, mas, enquanto eu andar com minhas pernas, não deixo de vir. Se você não plantar, como você vai comer? Vai comer o que o povo planta por você?”, argumenta.   No Colégio Dom Bertholdo, algumas seções tinham filas, mas ainda era menor do que no primeiro turno (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Tranquilidade Já no Colégio Sartre, no Itaigara, o clima também foi de tranquilidade. A administradora Tatiana Alcântara, 47, conseguiu votar em poucos minutos. “A gente tem que exercer nosso direito de voto. Tudo é importante, então tem que votar pelo que acredita”, diz. Ela também conta que respeita todas as escolhas políticas. “Não discuto, até porque o voto é secreto. Eu sou da paz”, completa.  No Sartre, no Itaigara, movimento durante a manhã foi tranquilo (Foto: Paula Fróes/CORREIO) O administrador Marcelo Moura, 47, até ficou surpreso com a rapidez do processo, em comparação ao termo anterior. Ainda que esperasse que fosse mais rápido, não achou que seria tanto quanto foi.“Da outra vez, fiquei uma ou duas horas. Mas não deixo de votar. Também não discuto com ninguém por política. Eles estão todos ricos, então não vale a pena”. No colégio, era comum ver famílias votando juntas. Foi o caso da médica veterinária Luciana Cruz, 49, e do empreendedor Victor Aede, 42, , que levaram as filhas gêmeas Amora e Maitê, 8. Desde mais novinhas, elas sempre acompanharam os pais. “Até falei: ‘ hoje não precisa, pode ter fila’. Mas elas falaram: ‘a gente vai”, contou a mãe.  Luciana e Victor levaram as filhas Amora (de amarelo) e Maitê (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Acabou que não teve fila. “A gente vota aqui desde 2018 e hoje foi o dia mais tranquilo de todos”, disse o pai, Victor. Antenadas na disputa, as meninas sempre perguntam aos pais. Na escola, até debatem com os colegas. “E sempre falam na primeira pessoa. Dizem ‘eu voto em Lula’, meu amigo ‘vota em outra pessoa”, explica Luciana. 

Maitê estava confiante. “Não estou ansiosa. Lá na escola, só um não vota igual. Todos os outros perguntam em quem eu voto e eu digo”. Depois de acompanhar os pais, as duas já tinham programação definida. “Eu vou para a piscina, vou comemorar o Halloween, depois vou comemorar o aniversário da minha tia. De noite, os resultados”, disse Amora.