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Da Redação
Publicado em 19 de março de 2023 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Uma peça que custa R$ 40 mil quebra na sua empresa. Não tem estoque, é preciso pedir por encomenda, só chega em 40 dias. Reunião convocada, o chefe quer resolver o problema. Até que aquele estagiário com cabelo bagunçado, camisa xadrez e calça surrada levanta o dedo e sugere: vamos imprimir a peça. Você levaria a sério? A história acima é baseada em fatos reais e, apesar do toque dramático, ocorreu na CCR Metrô, aqui em Salvador. Graças a um projeto idealizado por estagiários, a empresa que cuida do sistema de transporte da capital abraçou a ideia e ganhou com tempo, custo e melhoria de suas peças de reposição. E tudo graças a uma impressora 3D. E os estagiários, claro. >
Desde 2021, um projeto mudou a rotina do departamento de engenharia, reverberando para todo o sistema de metrô de Salvador. Naquele ano, uma peça específica em uma das estações estava apresentando muitos problemas e o custo era elevado para a troca. Na verdade, se tratava de uma placa dentro de um equipamento, mas a fabricante não vendia apenas a parte específica. É como uma câmera do celular que quebra, mas é preciso trocar todo o aparelho. >
Foi então que o estagiário Gabriel Nobre sugeriu a compra de uma impressora 3D para confeccionar apenas aquela pecinha. Se fosse comprar o equipamento, a CCR Salvador gastaria cerca de R$ 40 mil. A impressora custou R$ 13 mil, a peça foi impressa e tudo mudou. Hoje, os estagiários imprimem de tudo, que vão de broche para funcionários a componentes das escadas rolantes das estações. Claro, tudo primeiro é avaliado pela equipe de engenheiros, que faz um levantamento da possibilidade e segurança, o tipo de plástico e a viabilidade da impressão. “O laboratório onde a impressora está é supervisionado por mim, mas operado pelos estagiários. Todos os segmentos da empresa possuem demanda para a impressora. São muitos ganhos. Pense que trabalhamos sob demanda, sem estoque. A maioria das peças chegava num prazo mínimo de 30 dias. Se for um item internacional, chega a 120 dias de espera. Ganhamos este tempo também, pois uma peça que levaria 40 dias para chegar nós imprimimos em 12 horas”, disse a engenheira da CCR Metrô, Stefane de Freitas. Fluxo A média atual é de 60 peças impressas, todo mês. Mas é uma estimativa, pois o departamento trabalha com projetos. Digamos que o setor civil da empresa solicite um projeto onde terão que ser confeccionadas 200 peças, como foi o caso do arejador de água instalado em todas as pias dos banheiros do metrô. Elas foram impressas pelos estagiários de engenharia e ficam no bico da torneira, fazendo uma economia e controle de água, impedindo vazamentos. Já outros projetos precisam apenas de uma peça.>
Em dois anos de projeto, foram feitas mais de 50 demandas na impressora. Nos primeiros 29 projetos, foram gastos com energia, filamento de plástico (como o cartucho de tinta) e hora de trabalho cerca de R$ 3 mil. Contudo, se todas as peças impressas fossem compradas, a CCR Salvador teria que desembolsar R$ 190 mil. Quer outro exemplo? Com o tempo, os rádios comunicadores utilizados no metrô pelos funcionários perdem o botão que aciona a comunicação. Para fazer a troca, é preciso levar todo o aparelho para a manutenção, que custa R$ 633 e demora um mês para retornar. Com R$ 60 reais, os estagiários imprimiram dezenas de botões, durante duas horas. Problema resolvido. “Temos um ganho financeiro, mas existem outros também. O tempo de espera nesta logística de solicitar material, comprar, chegar, estocar. Vamos lá e imprimimos sob demanda. Ninguém precisa operar a máquina, vamos no programa, fazemos o projeto e a impressora 3D faz o resto. Sem contar o upgrade, né? Temos a possibilidade de fazer uma peça melhor que a original. Ganhamos com tempo, custo e melhoria”, disse o idealizador do projeto, Gabriel Nobre, ex-estagiário e hoje contratado como engenheiro da CCR Metrô. Lógico.Atualmente, o estagiário Bruno Cruz é responsável por toda demanda da impressora. A empolgação do estudante é nítida e natural.“Tenho uma impressora 3D em casa, é o futuro. Diria que aprendo mais aqui que na própria faculdade, pois coloco em prática nossas ideias, a empresa abraça os projetos. Hoje utilizamos plásticos biodegradáveis e materiais que visam a segurança, que não propagam chamas, por exemplo. É difícil até estabelecer a quantidade de ganho disso tudo”, explica Bruno.A empresa agora estuda adquirir impressoras mais potentes para equipamentos maiores e complexos. Outros metrôs pelo país já estão de olho no projeto dos estagiários.>