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Roberto Midlej
Publicado em 26 de dezembro de 2024 às 12:02
A jornalista e produtora Tais Bichara, 34 anos, sempre gostou de futebol, mas, ao mesmo tempo, se sentia meio “deslocada” daquele mundo por ser um ambiente muito machista. Na infância e na adolescência, foi, segundo ela mesma, uma “viciada” no esporte. E, embora não fosse muito de frequentar estádios, era uma assumida “torcedora de sofá”. >
Mas Tais teve uma fase de “bode” em relação ao futebol, quando cansou do domínio masculino no meio. “Sempre consumia o futebol praticado por homens e praticamente só havia homens na cobertura esportiva. Acabei me afastando do futebol por causa do machismo”, afirma a jornalista.>
Lembremos que há 20 anos, quando Tais era adolescente, o futebol feminino profissional estava dando seus primeiros passos no Brasil e ainda era algo meio “exótico”. Hoje, embora não seja tratado ainda como o seu equivalente masculino, não é raro ver a Globo transmitir uma partida de futebol feminino entre clubes. E a Seleção aparece com frequência na TV aberta, mesmo em amistosos. Creia, acro leitor: até 1983, no Brasil, as mulheres eram proibidas de praticar futebol em razão de um decreto-lei publicado na ditadura de Getúlio Vargas, em 1941.>
Mas agora, Tais parece estar novamente em paz com o seu esporte favorito, graças principalmente a uma série documental que ela criou e dirigiu: Donas do Baba, disponível no YouTube da produtora Movioca. Dividida em cinco episódios, a série mostra mulheres que atuam no futebol feminino, mas não apenas em campo. Cada capítulo tem uma personagem protagonista, sendo todas baianas. Um episódio, por exemplo, é dedicado a uma jornalista. Em outro, torcedoras de Bahia e Vitória são retratadas. Há ainda uma advogada especializada em questões envolvendo futebol.>
“Donas do Baba foi o meu caminho para fazer as pazes com o futebol”, diz Tais. Desde o início do projeto, ela sabia que desejava ir além do campo. “Não queríamos falar estritamente do futebol feminino, mas das relações das mulheres com o futebol. Além disso, queríamos mulheres baianas”, diz Tais, que é nascida em Feira de Santana.>
A personagem do primeiro episódio é a jornalista Clara Albuquerque, que já trabalhou no CORREIO e hoje é correspondente do canal TNT Sports. Clara reunia todas as características que Tais procurava, especialmente pelo fato de ser uma mulher cobrindo o futebol feminino. “Ela tem uma experiência muito específica, porque faz tudo sozinha. Ela mesma se grava e produz as reportagens dela. Além disso, foi morar no exterior. E eu não queria uma apresentadora, mas uma mulher que enfrentasse um batalhão de homens”, diz Tais. A diretora diz que há um momento emblemático neste capítulo, quando a câmera mostra que Clara é a única mulher presente numa entrevista coletiva da Juventus, da Itália.>
Há também um capítulo dedicado a torcedoras de Bahia e Vitória. Para Tais, trata-se do episódio mais “pop”. Não à toa, foi aquele que se tornou frequente na programação do Cinefoot, maior festival de cinema do Brasil dedicado ao futebol. Rosicleide Aquino representa o rubro-negro e Stéfani Coutinho, o tricolor. “Fazemos um paralelo entre as duas: vamos até a casa delas, mostramos o preparativo para ir ao jogo, durante o jogo e também após a partida”, observa Tais. Outros três episódios completam a série: um sobre a advogada esportiva Juliana Camões; outro, com a jogadora profissional Dias e um último, sobre duas meninas que sonham se tornar atletas profissionais. >
Esta é a primeira experiência de Tais como diretora, já que normalmente ela é assistente de direção ou produtora. A princípio, ela descartou assumir a direção e chamou o colega Rodrigo Luna para isso. Mas ele insistiu que a amiga deveria dirigir e os dois acabaram dividindo o posto. A pesquisa foi de Eric Carvalho, que divide o roteiro com Pedro Perazzo. Apesar de ter homens atuando nessas funções, Tais fez questão de chamar mulheres para as chefias de equipe, além de fotografia (Liz Riscado) e direção de som (Ana Luiza Penna).>
Disponível no YouTube da produtora Movioca>