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Angela Ro Ro foi naturalmente libertária

Dona de uma das vozes mais emblemáticas da MPB, cantora morreu sem o reconhecimento que merecia

  • Foto do(a) author(a) Doris Miranda
  • Doris Miranda

Publicado em 9 de setembro de 2025 às 16:49

Angela Ro Ro estava internada no Rio de Janeiro desde julho, quando passou por uma  traqueostomia; sofreu parada cardíaca
Angela Ro Ro estava internada no Rio de Janeiro desde julho, quando passou por uma traqueostomia; sofreu parada cardíaca Crédito: divulgação

A voz rouca, as canções quase sempre muito intensas e a personalidade irreverente, escandalosa mesmo. Angela Ro Ro é inconfundível e se transformou em um dos símbolos naturalmente libertário da MPB. A diva punk morreu nesta segunda (8), aos 75 anos, por causa de uma parada cardíaca que sofreu após um procedimento cirúrgico. Ela estava internada desde julho, quando passou por uma traqueostomia.

Nascida no Rio em 1949, Angela Maria Diniz Gonsalves recebeu esse nome em homenagem à cantora Angela Maria. Filha única, começou a estudar piano clássico na infância, mesma época em que ganhou o apelido de Ro Ro, por conta de sua voz rouca, que, segundo ela, herdou da mãe, a enfermeira Conceição. O pai, Ayenio Diniz Gonsalves, era policial civil. Ela dizia que odiava o apelido mas, o incorporou à sua persona.

No início dos anos 1970, foi para a Europa, onde passou por Roma e se fixou em Londres, onde trabalhou com faxineira em um hospital. Filha de pai baiano, Ro Ro era próxima do cineasta Glauber Rocha, um dos criadores do Cinema Novo. Foi Glauber quem a apresentou a Caetano Veloso, na época exilado em Londres após ser preso pela ditadura militar.

Foi convidada por ele a participar do álbum Transa, no qual tocou gaita na faixa Nostalgia, ao lado de Jards Macalé, Áureo Martins e Tutty Moreno. Além da amizade e admiração mútua, Ro Ro ganhou de Caetano a canção Escândalo, composta a pedido dela e que viraria título de um de seus álbuns: “Se ninguém tem dó/Ninguém entende nada/ O grande escândalo sou eu aqui, só”.

De volta ao Brasil, em meados dos anos 1970, evitou se lançar como cantora profissional. “Sabia que ia dar merda”, disse, mais tarde, ao justificar sua resistência à fama. O primeiro disco veio em 1979, que teve três hits: Amor, Meu Grande Amor; Tola Foi Você e Não Há Cabeça. Em 1980, no segundo álbum, Ro Ro emplacou Só nos Resta Viver, Fica Comigo Esta Noite e Meu Mal é a Birita. Em 1983, Maria Bethânia gravou a canção Fogueira, de Ro Ro, o grande sucesso do álbum Ciclo.

Compositora genial e dona de um discurso libertário, moldado pela irreverência, Ro Ro ficaria para sempre associada à palavra escândalo, o que, por muitas vezes, lhe trouxe dissabores. Mas, ela era bem mais que isso. Viveu como ativista queer sem que se planejasse para isso. “Nunca tive caso com homem. Acho que sou lésbica diamante, mereço fila de prioridade”, disse, certa vez.

No final dos anos 1990, Angela apareceu 40 quilos mais magra, resultado, segundo ela, de uma mudança de vida que a fez enfrentar a obesidade e o álcool. Voltou a fazer sucesso com a canção Compasso, na qual dizia que estava “bebendo água pra lubrificar”. Nos últimos anos, Ro Ro não conseguia mais sobreviver de sua arte. E, com a coragem de sempre, pediu ajuda financeira nas redes sociais várias vezes.