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Doris Miranda
Publicado em 21 de agosto de 2024 às 05:30
Entre o que é considerado normal e anormal, a vida real acontece - e, como dizia Caetano, de perto, ninguém é normal. Pois é justamente pegando a diversidade das existências como norte que acontece a 16ª edição do IC Encontro de Artes de hoje (21) até sábado (24) em diversos espaços da cidade. Sob o tema Que Monstra Sou Eu, o festival reúne artistas e espetáculos que se libertam das amarras do conservadorismo e escancaram suas diferenças. >
Estão na agenda as peças King Kong Fran, de Rafaela Azevedo (RJ); Monga, de Jéssica Teixeira (CE); Cavalas, de Alana Falcão e Ana Brandão (BA); Ancés, de Tieta Macau (MA/CE); e Confabulações, da Cia Buffa de Teatro (BA); e o show musical Letrux Como Mulher Girafa, de Letrux (RJ). Para completar, tem residência artística conduzida pelas artistas Felícia de Castro, Lais Machado e Larissa Lacerda, além de oficina infantil ministrada por Maria Tuti Luisão. >
“O que engloba isso é um desejo por uma arte que nos provoque, que nos faça refletir sobre quem somos e quem podemos ser. Por isso, o IC é conhecido como o festival do ‘risco’, de proposições arriscadas, no sentido de que trazem novidades e pensamentos, sensações que nos levam para um lugar diferente”, conceitua Neto Machado, um dos curadores do festival e membro do coletivo Dimenti Produções Culturais, realizador do IC.>
Ele chama atenção para o feminino de ‘monstra’ no tema da edição deste ano: “Quase 100% da programação deste ano é feita por mulheres. Por isso, acentuamos o feminino. Também porque, de partida, as mulheres são consideradas ‘monstras’ na vida. Os corpos fora do padrão são uma marca do IC deste ano e de praticamente todos os anos do IC. Essa diversidade enorme faz parte do festival. Mas neste ano, o tema chama mais atenção para isso, quando perguntamos ‘que monstra sou eu’.”>
Todo o elenco do festival pode ser considerado desviante, mas dois espetáculos em específico chegam bem junto do tema: Monga e King Kong Fran. >
Monga, da cearense Jéssica Teixeira, foi escalada pra abrir o 16º IC Encontro de Artes, hoje, às 19h, no Teatro Cambará da Casa Rosa, no Rio Vermelho. Já na sinopse do espetáculo, em primeira pessoa, a atriz diz que não tem medo do próprio corpo. “Se uma pessoa sente medo da outra, ela se torna uma pessoa capaz de fazer qualquer coisa com essa outra. De onde vem esse medo? Já pensou até onde isso pode levar?”.>
“Monga é um abre-alas para uma discussão que o festival traz. É uma pessoa com deficiência que pensa seu lugar no mundo a partir de uma lógica que era fortemente opressora, que dizia quais corpos e corpas podem estar em certos lugares. Jéssica subverte isso e faz de sua ‘monstruosidade’ sua singularidade, sua potência”, opina Neto.>
Jéssica explica que a nudez em cena é um dos elementos que configura o espetáculo como terror psicológico: “Ficar nu é difícil, as pessoas têm medo da nudez na vida e também em cena. A nudez apavora, principalmente quando é um corpo como o meu. Este corpo acaba desnudando as pessoas e coloca o público em tensão. O silêncio, que é outro elemento do terror psicológico, também está lá”.>
Já King Kong Fran, da atriz e palhaça carioca Rafaela Azevedo, tem apresentação dupla no sábado (24), no Teatro Sesc-Senac Pelourinho, às 18h e às 20h. No palco uma irreverente e debochada reflexão sobre machismo, assédio, abuso, consentimento e violência de gênero. Tudo embalado pelas linguagens do circo e do teatro.>
Programação: www.icencontrodeartes.com.br>