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Luiza Gonçalves
Publicado em 15 de abril de 2025 às 09:23
De uma brincadeira entre avó e neta surgiu o incentivo para explorar a escrita, a ilustração e o universo da literatura. Por que não estimular a arte quando a criatividade se manifesta de pronto? Foi o que aconteceu com a estudante paulista Camila do Prado, 12, em uma visita à casa de sua avó Conceição Andrade, 72, em Salvador. Um momento de desenho entre as duas fez surgir na mente de Camila a ideia de uma história de amizade entre dois objetos inusitados: uma lâmpada e um rato, que se tornou o primeiro livro infantil das duas. Nesta quinta-feira (17), A Lâmpada e o Rato será lançado na livraria LDM do Shopping Bela Vista, em evento gratuito que terá contação de história e oficina com a psicóloga e educadora infantil Joana Trigo. >
Camila e Conceição dividem um amor pela literatura. A neta encanta-se pelo universo de histórias mirabolantes e livros escolares; já a avó é médica e escritora de crônicas e poesias. “Eu acredito que a literatura é a explicação, o caminho para tudo. Se você parar de ler, se concentrar só numa tela — principalmente uma criança que está em formação, que está formando os conceitos — ela fica muito limitada ao que recebe já pronto”, afirma Conceição Andrade.>
Percebendo a criatividade de Camila nos desenhos que realizava desde pequena, há dois anos Andrade motivou a neta a compartilhar as histórias por trás das ilustrações, dentre elas A Lâmpada e o Rato. “Ela começou a desenhar, se empolgou, deu título e me contou essa história. Eu escrevi, e ela foi me mandando todas as ilustrações e a capa. Quando o livro ficou pronto e decidimos publicar, todo mundo se animou. Foi uma brincadeira bem estruturada e com uma finalidade”, relata a avó. A parte favorita do processo para Camila foram os desenhos. “Eu gostei muito, mesmo sendo cansativo, acho que valeu a pena. Dá uma vontade bem grande de fazer vários outros livros”, conta, animada.>
Nesta história infantil, uma lâmpada velha e esquecida, prestes a ser descartada, encontra conforto na amizade de um ratinho, que mobiliza seus amigos para ajudá-la a encontrar um novo lar. No caminho, ela conhece uma criança solitária que, mesmo sabendo que a lâmpada não acende mais, decide lhe dar um espaço em seu quarto, enxergando nela algo além da utilidade. O livro aborda temas como solidão, amizade e acolhimento que, segundo Camila, podem ajudar crianças a enfrentar o cotidiano e serem mais felizes.>
“A maioria dos livros das crianças hoje tem uma lição de moral, né? E a que eu coloquei no livro vai ajudar as crianças quando elas crescerem. Eu acho superimportante que as crianças, desde pequenas, aprendam esses fundamentos de educação, amizade, pra não cair em situações como depressão, bullying, fazer bullying com outra pessoa. Daí, eu acho que um livro que traz essa história pode ajudar bastante a ir contra essas coisas ruins”, defende a escritora mirim.>
O processo de escrita do livro também foi reflexivo para Conceição, apresentando-se como uma alternativa não só de conexão com sua neta, mas de inspiração para atividades que não dependam de telas. “ Camila disse assim: ‘Por que não pensar fora da caixinha?’ Acho que essa expressão também reflete estar fora do celular, fora da tecnologia. Publicar livros físicos acho que é uma coisa que exige muita coragem, hoje, porque é um momento em que as pessoas não abrem o livro. A gente, nesse momento, quer que as pessoas leiam. É um pouco a ideia daquela: ‘Seja você a gota limpa do oceano que você deseja’. Se você faz, a outra pessoa também pode se motivar a fazer”, pontua.>
Em casa, o exemplo tem surtido efeito. “Não tenho certeza se vai ser minha profissão no futuro. Por enquanto, levo mais como um hobby. Mas eu estou gostando desse processo de criar história e ser escritora”, afirma Camila.>