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Agência Brasil
Publicado em 22 de agosto de 2025 às 10:25
Na abertura da turnê nacional que celebra seus 37 anos, o Balé Folclórico da Bahia (BFB) chega nesta sexta-feira (22) ao Rio de Janeiro, onde apresenta, no Teatro João Caetano, o espetáculo O Balé Que Você Não Vê. Fundado em 8 de agosto de 1988, o BFB vai passar pelas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil. As regiões Norte e Nordeste também estão nos planos, mas sem datas previstas.>
A capital carioca terá duas apresentações, nesta sexta-feira (22) e sábado (23). Em seguida, a agenda tem Campinas (25 e 26/09), São Paulo (28/09), Franca (1º/10), Florianópolis (17/10), Goiânia (22/10), Porto Alegre (28/10) e Novo Hamburgo (30/10). Esta é a primeira vez que a companhia faz uma temporada por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, e do Ministério da Cultura.>
O Balé Que Você Não Vê é inspirado na luta cotidiana de uma companhia profissional para se manter viva financeiramente e tecnicamente. Para o diretor-geral e fundador da companhia, Walson Botelho, mais conhecido como Vavá Botelho, a montagem reflete a resistência da dp BFB. O espetáculo é montado com base em três coreografias desenvolvidas especialmente para a produção: Bolero, de Carlos Durval; Okan, de Nildinha Fonseca; e 2-3-8, de Slim Mello. Além delas, está incluído também o repertório clássico do grupo, com Afixirê, uma coreografia de Rosângela Silvestre.>
“[O recado da companhia com o espetáculo] é que a gente existe neste país. São 37 anos de quase invisibilidade de uma companhia que é visível no mundo inteiro, extremamente conhecida, com um trabalho desenvolvido há 37 anos e reconhecido mundialmente em todas as instâncias e, no entanto, no país, a gente tem muita dificuldade em mostrar essa nossa existência de maneira geral”, contou em entrevista à Agência Brasil.>
Balé Folclórico da Bahia no Rio
As apresentações na capital fluminense fazem parte da oitava edição do MoviRio Festival, que, durante quatro dias consecutivos, terá mostras competitivas, palestras, workshops e intervenções artísticas, com foco no intercâmbio e na troca de experiências que impulsionam a dança e sua transversalidade.>
Para trazer boas energias e garantir o Axé para a temporada, na quinta-feira (21), véspera da estreia no Rio, o BFB fez uma cerimônia de lavagem das escadas e da entrada do Teatro João Caetano. Vestidos de branco, os bailarinos seguravam potes com água e flores na mesma cor, enquanto os atabaques ecoavam na Praça Tiradentes.>
Temporada nacional>
O diretor destacou que a temporada de O Balé Que Você Não Vê pelo país foi elaborada para festejar os 30 anos da companhia, mas, por falta de apoio financeiro, só foi para frente sete anos depois, com o patrocínio do Will Bank.>
“Apoiar o Balé Folclórico da Bahia, em sua primeira grande turnê pelo país, é a nossa forma de reconhecer e mostrar para todo mundo a potência que esse grupo construiu em 37 anos de muita história e talento”, afirmou o CEO do Will Bank, Felipe Félix.>
Sucesso internacional>
O Balé Folclórico da Bahia, que tem sede no Pelourinho, em Salvador, já se apresentou em mais de 30 países e 300 cidades do mundo. Para Vavá Botelho, esta montagem trará mais visibilidade do grupo no Brasil, o que não ocorreu até agora.>
O fundador atribui a falta de visibilidade no Brasil, em parte, ao preconceito que ainda existe em relação à cultura popular e ao folclore, que segundo ele, são vistos como formas menores da cultura brasileira.>
Essa situação, no entanto, também já foi enfrentada pela companhia fora do país. Em 1994, o BFB foi convidado para se apresentar na Bienal de Dança de Lyon, na França. Botelho lembra que, de início, houve um desprezo da imprensa e do público pelo fato de o festival levar uma companhia folclórica, mas o BFB conseguiu reverter a situação.>
“Foi um sucesso tão grande que a gente foi contratado, em princípio, para fazer três apresentações e fizemos sete, porque, com um ano de antecedência, os ingressos iam se esgotando”, revelou, acrescentando que, mesmo assim, os cartazes de divulgação espalhados na cidade ocultavam a palavra Folclórico do nome do Balé.>
Em outro exemplo do reconhecimento no exterior, Vavá lembrou que o calendário oficial da cidade norte-americana de Atlanta comemora, sempre em 1º novembro, o Dia do Balé Folclórico da Bahia, por todo o trabalho de promoção, divulgação e valorização da cultura negra no mundo, inclusive nos Estados Unidos. Isso, segundo o diretor-geral, se contrapõe à situação do grupo no Brasil, onde enfrenta diversos obstáculos para se manter, especialmente, pela falta de patrocínios.>
“A gente tem muita dificuldade, desde sempre, em circular pelo país, em mostrar nosso trabalho, montar trabalhos e em ter patrocínio. O Balé nunca teve um patrocínio de manutenção. Nós recebemos apoio, extremamente importante e vital, se não, não existiríamos, da prefeitura e do governo do estado, através das secretarias de cultura”, comentou.>
Esse apoio, conforme o fundador do BFB é feito por meio de editais, que têm um limite de valor pequeno, porque são projetos divididos com inúmeras instituições no estado da Bahia e em Salvador.>
“Isso colabora para que a gente possa sobreviver, viver e pagar as nossas contas, uma vez que a gente tem um elenco e uma companhia muito grande. Temos um teatro [Teatro Miguel Santana] em Salvador, onde completamos, no dia 25 de julho, 30 anos em cartaz, e onde funciona a sede do Balé. Antes pandemia, eram espetáculos diários. Depois, a gente só conseguiu voltar com três dias na semana, com lotação esgotada”, afirmou.>
Fada madrinha>
No meio da sua trajetória o BFB encontrou uma pessoa que contribuiria diretamente com a divulgação da companhia no exterior: a crítica de dança do jornal The New York Times Anna Kisselgoff, que fez um artigo elogioso ao trabalho.>
“O prazer dos dançarinos, músicos e cantoras em fazer o que eles fazem sobre o palco, é tão obviamente parte da vida deles, que contagia todo o teatro”.>
A avaliação da jornalista chamou atenção “Eu já assisti seus maravilhosos bailarinos em diferentes países, sempre se comunicando com o público. Crianças e adultos são tomados de imediato pelos ritmos e encantos de sua arte”. Conforme o BFB, em 1994, a Associação Mundial de Críticos reconheceu a companhia como a melhor de dança folclórica do mundo.>
Zebrinha>
A direção artística do BFB, desde 1993, está sob a responsabilidade de José Carlos Arandiba, conhecido como Zebrinha. A principal fonte de inspiração para as pesquisas do grupo é a própria Bahia e suas manifestações populares.>
“O nosso grande empenho e grande projeto é a formação de artistas dançarinos em todas as áreas técnicas, e esse espetáculo é tudo aquilo que damos em sala de aula e nunca apresentamos”, disse em entrevista à Agência Brasil.>
“A gente quer surpreender o mundo e mostrar que os dançarinos do Balé Folclórico da Bahia podem se inserir, podem dançar e representar qualquer estilo de dança, porque essa é a preparação que os alunos têm”, contou, acrescentando que o BFB tem dois grandes propósitos: a formação e a preservação das culturas afro-brasileira e nordestina.>
“Esses são os dois grandes objetivos e, juntando esses dois objetivos, fazer com que os adolescentes e jovens que entram na nossa companhia aprendam que não são cidadãos de segunda classe e que podem se transformar em artistas de ponta. A gente tem conseguido isso na nossa trajetória”, pontuou Zebrinha.>