Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Luiza Gonçalves
Publicado em 13 de agosto de 2025 às 11:12
Buscando ampliar o campo de atuação da performance baiana e debater as violências que pairam sobre o estado através da arte, a partir de hoje (13) inicia-se a 1ª Bienal de Performance da Bahia, que reúne, em Jequié e Salvador, mais de 30 artistas, pesquisadores e pensadores em uma programação que inclui performances urbanas, oficinas, falas públicas, videoarte e exposições. O evento acontece até domingo (17), em ruas, feiras, escolas e centros culturais das duas cidades. >
Pesquisadora, artista e curadora do evento, a jequieense Padmateo explica que o evento inédito dedicado à linguagem performática vem de um sonho antigo compartilhado entre ela e amigos artistas que sentiam falta de um espaço comum de trocas na Bahia, em comparação com a oferta presente em outros estados. “Um local em que pudesse se manifestar e democratizar também a linguagem da terra, pensando a Bahia, que é extremamente performativa, ritualística. Existe uma presença da performatividade na cultura como um todo. Então, queria muito que artistas da performance pudessem também ter um espaço aqui para esse intercâmbio, unindo-se a outros festivais nordestinos”, afirma.>
Segundo a curadora, a conexão com temáticas que debatem a realidade local e que provocam a reflexão social também era uma preocupação na idealização do evento, que tem como tema para sua primeira edição a provocação Isto é Violência?. “Jequié, que sediará parte da programação, foi tida em 2023 como a cidade mais violenta do país no Atlas da Violência Brasileiro. Em 2024, teve a maior letalidade policial. Em Salvador, de igual forma, sabemos dos índices alarmantes. Temos um cenário de guerra às drogas, de genocídio da população negra e periférica, de transfobia escancarada. Então, é mais do que urgente trazer essa pauta, também através do corpo, de artistas dissidentes e, principalmente, nas ruas, onde a informação chega diretamente aos transeuntes”, defende.>
Outras questões, como o que, de fato, é violência, quais corpos violentam outros corpos, e onde reside a raiz dessa violência, estão presentes nos espetáculos. Padmateo explica que, neste ano, as obras integram a programação mediante convite, focando em performances que reencenam a violência, mas também outras intervenções que utilizam o lúdico para pensar a violência e os atos de resistência contra ela. “Trazemos os dois lados. Um lado que escancara e outro que celebra a possibilidade de estarmos resistindo”, enfatiza.>
Nas ruas>
A programação em Jequié começa a exposição Mandacaru: Aqui é um Bairro, de Alex Oliveira, na residência artística Casa 1145. No dia seguinte, Marcel Diogo apresenta, no Centro de Abastecimento Vicente Grillo, a performance Nem Tudo Que Vai na Parede é Obra de Arte. Outros destaques em Jequié incluem A Gangorra, do artista simõesfilhense Augusto Leal, também na sexta-feira, na Praça Ruy Barbosa, e Me Segura que Eu Vou Dar um Vogue, de Otacílius José, na Avenida Rio Branco.>
Em Salvador, a Bienal de Performance ocupa o Pelourinho com caminhadas performáticas, debates e ações poéticas. Abrindo a programação na sexta (15), a mestranda em dança Tiê Francisco Maria conduz, às 15h, a performance Ultrassom: Ou Toda Cidade é uma Partitura, que propõe um deslocamento pelas ruas do Centro Histórico com uma máquina que capta e amplifica a textura das ruas, convertendo-as em sons. “A premissa é extrair os sons da paisagem, seus extratos, como uma ação de escuta das curvas, ladeiras e esquinas, revelando a cidade como partitura”, descreve.>
Tiê Maria explica que sua performance trata de memórias e existências que habitam de modo silencioso a paisagem do Centro Histórico, buscando “desprender do chão os gritos, uivos, ruídos inscritos nesse espaço, acumulados em uma sobreposição de tempos de violências de raça, gênero e classe social presentes nas ruas da cidade”. Sobre participar do evento, ela afirma: “A Bienal surge como um espaço de troca com a cidade, com outros artistas da área, mobilizando discussões, encontros, nutrindo o nosso fazer e os nossos desejos. Com uma programação ampla e diversa, a Bienal materializa um desejo de quem fomenta produções em performance”.>
SERVIÇO - A programação completa pode ser acessada no Instagram @bienalperformance>