Boca de Brasa mostra voz da periferia no Centro da cidade

Movimento Boca de Brasa vai até sábado (23)

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  • Roberto Midlej

Publicado em 21 de março de 2024 às 22:29

O Quabales foi uma das atrações musicais da abertura
O Quabales foi uma das atrações musicais da abertura Crédito: Paula Fróes/CORREIO

A voz da periferia está chegando ao Centro da cidade e vai mostrar o que o povo de lá é capaz de produzir em arte e cultura. Será assim nestes três dias do Movimento Boca de Brasa, que começou nesta quinta-feira (21) e segue até sábado em diversos espaços da Barroquinha. Ali acontecerão performances, apresentações musicais, experiências gastronômicas e exibição de curtas-metragens produzidos por artistas que vivem nos bairros periféricos de Salvador.

Ontem, na abertura do evento no Espaço Cultural Barroquinha, o público pôde ver uma amostra do talento dessas pessoas, nas apresentações dos grupos de dança e de cantores. Um deles foi o cantor Sérgio Login, que é do bairro de Valéria e jamais havia se apresentado na região central da cidade. “Para mim, cantar no Centro é realização de um sonho. Eu sempre canto na Suburbana, mas é minha primeira vez aqui”, comemorou Sergio, que, desta vez, cantou músicas de Fantasmão, Leo Santana e Igor Kannário.

Mas quem quiser conhecer as músicas dele pode se preparar: Sérgio canta no sábado, no mesmo palco, a partir das 18h e vai ser um dos artistas que abre a apresentação do Afrocidade. E não para aí: o clipe de uma canção de Sérgio, Tire do Seu Coração Esse Preconceito, será exibido no Cine Glauber Rocha, que também vai mostrar ao público curtas-metragens produzidos por artistas revelados na periferia da cidade.

No ano passado, Sérgio participou das atividades formativas do Espaço Cultural Boca de Brasa CEU de Valéria e passou por cursos de sonorização, iluminação e coreografia. Foi também um dos 40 contemplados pelo Boca de Brasa com um prêmio de R$ 10 mil, que usou para produzir o clipe que será exibido no cinema.

O presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, fala da importância desse encontro da periferia com o Centro: “Salvador é muito Centro, mas temos uma Salvador invisível, que está, por exemplo, em Cajazeiras ou no Subúrbio: não é tudo centralizado aqui [no Centro]. Então, fazemos aqui para chamar a atenção e dizer ‘olha a cidade que a gente tem!’”.

Outro artista que passou pela formação em um dos polos criativos do Boca de Brasa foi o cantor Di Cerqueira, que mora na Ribeira e frequentou a unidade da Cidade Baixa. Nesta sexta-feira, ele abre o show do Attooxxa. “O Movimento Boca de Brasa traz para o Centro o que é produzido nas periferias e às vezes o Centro não enxerga. É muito importante trazer a periferia para cá”.

Allan Santana é bailarino e integra o Balé da Comunidade, que frequenta o Boca de Brasa de Cajazeiras. “Hoje, dez dançarinos do grupo se apresentaram aqui. Para nós, é muito importante unir as forças dos artistas periféricos e fazer essa mistura, mostrar as potências de nossas comunidades”.

O prefeito Bruno Reis destacou a potência cultural de Salvador. “Estamos tendo a capacidade de potencializar ainda mais uma das melhores características do soteropolitano: a influência da cultura africana na nossa alma”, disse. Reis anunciou também que até o final do ano novos espaços Boca de Brasa serão inaugurados: na Ribeira (no Mercado Iaô); um em parceria com o Malê Dibalê; uma unidade em Itapuã; uma em Queimadinho; outra em parceria com o Terreiro de Gantois e mais duas em escolas municipais, sendo uma em Brotas e outra na região de Pau da Lima.

Hoje, começam os paineis de discussão. Um deles, chamado O Mundo é um Grande Gueto, às 11h, na Barroquinha, terá a participação de MV Bill, um dos fundadores da Cufa - Central Única das Favelas. Ao meio-dia, tem Culinária Musical com o afrochefe Jorge Washington, no Café Teatro Nilda Spencer e mais três paineis de discussão.

A programação completa está no site movimentobocadebrasa.com.br