Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Cia Encruzilhadas de Teatro expõe as violências do racismo no espetáculo (NU) Madrugada Me Proteja

Peça estreia nesta sexta-feira (16) para uma nova temporada no Espaço Cultural da Barroquinha

  • Foto do(a) author(a) Luiza Gonçalves
  • Luiza Gonçalves

Publicado em 14 de agosto de 2025 às 12:42

Espetáculo (NU) Madrugada Me Proteja
Espetáculo (NU) Madrugada Me Proteja Crédito: Divulgação/Fagundes

“Precisei tirar a roupa para provar que não estava com a carteira. Fiz isso atrás de um balcão e me senti humilhada.” Este relato é de Jucione Costa, baiana de receptivo que trabalha em Praia do Forte. Em abril deste ano, Costa estampou notícias nos sites do Brasil ao ser vítima de racismo, acusada de furto e coagida a despir-se de sua indumentária de trabalho para provar sua inocência. Psicologicamente, simbolicamente e, no caso dela, fisicamente, o racismo atravessa a experiência cotidiana negra, tendo como principal ferramenta o constrangimento.

É impossível não lembrar desse e de diversos outros casos noticiados, ou dos olhares de cabeça aos pés recebidos, ao ler a sinopse do espetáculo (NU) Madrugada Me Proteja, da Cia Encruzilhadas de Teatro. O projeto, que foi lançado em 2024 e agora inicia nova temporada no Espaço Cultural da Barroquinha neste sábado (16), às 19h, explora, por meio de histórias interligadas, a naturalidade do racismo que expõe os corpos até que fiquem desnudos.

“Quando começamos a criar o espetáculo, vimos que todos os dias chegávamos com histórias que tiram as nossas roupas. Depois de um ano, infelizmente, continua muito atual. E a gente tem pensado em não parar de fazer. Começar a vestir o nosso povo e só deixar que tirem a nossa roupa se a gente quiser. Então, continuaremos”, afirma o diretor Leno Sacramento.

O texto é de autoria do diretor e surge a partir de uma obra do escritor paulista Cuti. “(NU) Madrugada Me Proteja vem de um livro desse grande escritor, o Dois Nós na Noite. E dentro desse livro tem o Madrugada Me Proteja. Eu vi esse espetáculo há muitos anos e fiquei louco, precisava fazer. Inicialmente, era um monólogo, mas eu queria falar mais sobre esse despir, que não é só tirar uma roupa, é deixar a pessoa na condição de vergonha. Então, associei a outras histórias que deixam o ser humano exposto, frágil”, explica Leno.

O texto costura sete monólogos para compor o cenário de reflexão. Uma das atrizes em cena é Preta Kiran, nascida em Salvador que, após uma década em São Paulo, retornou à capital baiana para mergulhar no teatro local. Chega à Cia Encruzilhadas movida pelo desejo de aprofundar questões que atravessam sua vida desde sempre, enquanto mulher preta periférica.

“O texto parte de uma dinâmica que já é o cotidiano da Cia Encruzilhadas, que é uma companhia preta, onde as situações de vulnerabilidade que aparecem no espetáculo não são ficções, mas realidades que atravessam nossos corpos diariamente. Estar em cena expondo essas vivências é, ao mesmo tempo, um manifesto e um chamado para que a sociedade encare essas questões com responsabilidade e empatia. Seria potente se não precisássemos criar espetáculos de cunho educativo para que essas dores fossem reconhecidas, mas a arte acaba sendo também esse espaço de denúncia e reflexão”, declara a atriz.

Ela explica que, durante o processo dos ensaios, o ambiente torna-se um lugar seguro para elaborar essas experiências sensíveis, “transformando-as em gesto, voz e presença. Há uma dimensão de transmutação aí: pegamos violências reais e as ressignificamos em comunicação, educação e resistência”, enfatiza.

(NU) Madrugada me proteja
(NU) Madrugada me proteja Crédito: Divulgação/Fagundes

Encruzilhada

A volta do espetáculo (NU) Madrugada Me Proteja integra o projeto Cia Encruzilhadas – Residência Mafro: criação, formação e repertório, que, a partir de julho deste ano, tem reunido espetáculos de teatro e oficinas artísticas ministradas pelo grupo, tendo como local de ensaio, aulas e algumas apresentações o museu.

A experiência da Cia Encruzilhadas no Mafro tem se revelado uma solução criativa diante das dificuldades estruturais para a realização teatral em Salvador. Para Leno Sacramento, a parceria “foi um casamento belíssimo”, capaz de unir o público de museu ao de teatro e romper barreiras geográficas e simbólicas da arte.

Idealizada como parte das comemorações pelos oito anos de trajetória, a residência celebra o que o diretor define como “oito anos de sucesso”, sustentados por um repertório marcado pela força do espetáculo Encruzilhada, primeiro projeto da companhia e em cartaz até hoje. A peça discute o genocídio da população negra e tornou-se símbolo da identidade artística do grupo, explica Sacramento.

Para ele, o crescimento da Cia Encruzilhadas também é impulsionado pelas referências que moldaram sua trajetória, como o Bando de Teatro Olodum, do qual é membro há 28 anos, e que indicou o caminho a seguir.

SERVIÇO: Espetáculo ‘(NU) MADRUGADA ME PROTEJA’ | de 16 a 24 de agosto, sempre aos sábados, às 19h, e domingos, 18h, no Espaço Cultural da Barroquinha | Ingressos: gratuito, com retirada no local 1h antes do início de cada sessão, com doação de 1kg de alimento não perecível.