Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Roberto Midlej
Publicado em 1 de junho de 2024 às 05:00
É muito provável que você, leitor, já tenha passado por pelo menos uma dessas situações: vai para a praia desejando aquele sol de fazer derreter e quando chega lá, cai uma chuva torrencial; passa meses planejando uma viagem para aquele hotel que se dizia cinco estrelas e quando chega lá, o colchão é horrível e a piscina vive lotada, sem espaço para você; ou vai ao cartório apenas para reconhecer a firma, mas a burocracia o faz ficar por lá por pelo menos umas quatro horas. Quem nunca, né? >
E é a partir de situações como essa, vividas por nós todos no dia a dia, que a série Cilada foi concebida por Bruno Mazzeo. A produção, que foi exibida no canal Multishow até 2009, virou quadro no Fantástico e deu origem a um filme, Cilada.com (2011), que levou três milhões de pessoas aos cinemas. (vale um parêntese aqui: o que aconteceu com o Multishow, que agora só faz produções de humor da pior qualidade?! Parece tudo genérico do Vai que Cola, que, aliás, já parecia um genérico do velho Sai de Baixo).>
Depois de 15 anos, Cilada está de volta, agora no Globoplay. Os novos episódios se passam quando Bruno e Debora (vividos por Bruno Mazzeo e Debora Lamm) já tem dez anos de casados. Ainda juntos, os protagonistas passam por uma crise na relação e estão dispostos a salvar o relacionamento. Para isso, resolvem consultar um terapeuta de casais e aí, claro, nasce mais uma cilada: a profissional sugere que eles sejam sempre sinceros um com o outro. >
Bruno segue à risca o conselho da terapeuta e diz a Debora que teve um sonho erótico com a prima dela. O resultado é mais uma briga, claro. Mas tudo sempre é tratado com o humor e a leveza que caracterizam os textos de Bruno Mazzeo, que tem uma grande habilidade para criar bons diálogos, sem resvalar nos exageros ou na caricatura. >
É impressionante como a maioria das piadas ali soa realista e, certamente, por algumas vezes, você vai ver uma cena e dizer: "Já passei por isso!". E mais: a série não se sustenta exatamente em piadas isoladas, mas nas situações que os personagens vivem, o que a torna ainda mais divertida. Mazzeo é mesmo um roteirista muito talentoso e já tivemos uma demonstração disso na ótima série Filhos da Pátria, que foi exibida na Globo e também está no Globoplay. >
De quebra, Bruno herdou do pai - Chico Anysio - a capacidade de interpretar diversos personagens. Em Cilada, por exemplo, ele interpreta também o antropólogo Albênzio Peixoto, que faz uma análise pretensiosamente séria das situações vividas pelos personagens, com falas rebuscadas e cheias de jargões da sua profissão. >
Mazzeo interpreta também Alexandre Focker, claramente inspirado em Alexandre Frota e que representa o arquétipo do macho-alfa. Focker diz frases impagáveis, como "os direitos das feministas vão até onde começam os direitos dos machistas" e gagueja ao tentar falar palavras supostamente difíceis, como "psicologia" ou "instituição".>
Cilada é daqueles programas que te pegam discretamente, sem muito estardalhaço, e entretêm facilmente. Aí, quando você se dá conta, já maratonou os dez episódios numa sentada. E ainda é um pretexto para reunir a família: este jornalista estava assistindo sozinho e, quando percebeu, o filho de 13 anos também já estava ao seu lado, divertindo-se com as situações de Bruno e Debora.>
A releitura de um clássico 62 anos depois>
Há 62 anos, Tom Jobim e João Gilberto realizavam um show que apresentava a bossa nova ao mundo, em uma das casas mais prestigiadas dos EUA, o Carnegie Hall, em Nova Iorque. Naquela noite de 21 de novembro de 1962, os dois músicos, acompanhados de colegas como Roberto Menescal, Sergio Mendes e Carlinhos Lyra, mostraram aos americanos canções como Samba de Uma Nota Só, Manhã de Carnaval e A Felicidade. Em outubro do ano passado, o espetáculo ganhou uma nova edição, no mesmo local, com artistas como Alaíde Costa, Carlinhos Brown e Seu Jorge, além do próprio Menescal. Agora, a gravação de 2023 chega às plataformas de música, sob o nome The Greatest Night Bossa Nova. "Foi muito importante ter Menescal, que é um cara importantíssimo na música brasileira e que segue fazendo da bossa nova algo vivo e mutante. Também foi importante ter Alaíde Costa e dar a possibilidade de trazê-la para um lugar que acolheu a música brasileira", revela Max Vianna, produtor do álbum. No total, são 16 faixas, sendo a maioria com a dupla Seu Jorge e Daniel Jobim, neto de Tom. A Carlinhos Brown, couberam as versões de Manhã de Carnaval e Ararinha. Há também a participação de revelações mais recentes, como a paranaense Carol Biazin, de 27 anos, que interpreta Samba de Verão. A anglo-americana Celeste ficou com How Insensitive, versão em inglês de Insensatez.>