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Clã Caymmi perde um dos seus mais nobres membros

Dona de voz inconfundível e marcante, Nana Caymmi morreu aos 84 anos

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 2 de maio de 2025 às 06:00

Nana Caymmi tinha 84 anos e estava hospitalizada havia nove meses
Nana Caymmi tinha 84 anos e estava hospitalizada havia nove meses Crédito: divulgação

Nana Caymmi talvez não tenha sido a mais popular das cantoras brasileiras, especialmente se a compararmos com outras estrelas da MPB, como Marisa Monte, Maria Bethânia ou Gal Costa. Mas suas qualidades como intéprete são unanimemente reconhecidas. Da família, herdou o inconfundível timbre, uma marca do clã Caymmi, formado também por Danilo, Dori e, claro, pelo pai, Dorival. Mais recentemente, a vocação familiar foi ratificada com uma representante da terceira geração: Alice, de 35 anos.

Mas, mesmo não tendo sido uma grande vendedora de discos, Nana alcançou o grande público especialmente quando teve suas canções incluídas em trilhas de novelas, como Babilônia (2015), Sangue Bom (2013), Gabriela (2012) e Insensato Coração (2011). Um de seus maiores sucessos foi Resposta ao Tempo, parceria entre Aldir Blanc e Cristovão Bastos.

Filha do compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro, com o nome de Dinahir Tostes Caymmi, o mesmo de uma tia, irmã do pai. Incentivada pelos pais, começou a estudar piano clássico ainda criança.

A estreia de Nana em estúdio foi em 1960, ao lado do pai, com quem gravou Acalanto, composta por Dorival como uma canção de ninar, especialmente para a filha. Os versos se tornaram conhecidos por quase todas as crianças do Brasil: “Boi, boi, boi / boi da cara preta / pega essa menina que tem medo de careta”.

Naquele mesmo ano, gravou um compacto simples com as músicas Adeus e Nossos Beijos. Embora desse os primeiros passos na carreira, Nana supreendeu a todos quando decidiu deixar o Brasil e se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve seus três filhos, Stella, Denise e João Gilberto. Depois de passar quatro anos no país do marido, decidiu voltar para o Brasil, divorciada e com as crianças.

Mas a decisão de se separar foi muito mal recebida pelo pai, que não admitia ter uma filha divorciada. A insatisfação do patriarca foi tanta, que pai e filha permaneceram rompidos por cerca de sete anos, como a própria Nana lembra no filme Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, da diretora Daniela Broitman. Neste período, o irmão Dori fez a canção Saveiros para ela cantar no I Festival Internacional da Canção, da TV Globo. Mas a cantora foi vaiada ao ser anunciada a vencedora da competição.

Em 1967, foi morar com Gilberto Gil, com quem viveu até 1969, quando o compositor foi viver sob exílio em Londres. Apresenta-se no III Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, em 1967, com a canção Bom Dia, assinada em parceria com Gil.

Ao longo dos anos 1970 e 1980, gravou regularmente. Seus álbuns reuniam um repertório sofisticado e grandes músicos, como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli, além dos irmãos Dori e Danilo. No início dos anos 1990, gravou Bolero, disco inteiramente dedicado ao gênero e que acabou marcando sua carreira.

O reconhecimento popular só chegou em 1998, quando o bolero Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhido para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez.

Anos antes, Nana havia batido na trave. Sua gravação de Vem Morena havia sido escolhida para a abertura da novela Tieta. Porém, dias antes da estreia da trama, foi trocada por Luiz Caldas. “Fiquei esperando minha música tocar e aparece o Luiz Caldas dizendo que a lua estava cheia de tesão”, reclamou à imprensa.

No ano 2000, gravou outro álbum dedicado apenas a boleros, Sangra de Mi Alma, que tinha clássicos como Amor de Mi Amores e Solamente Una Vez. Nos anos seguintes, regravou as canções do pai, em quantro álbuns temáticos.

Seus últimos dois álbuns foram Nana Caymmi Canta Tito Madi, de 2019, sobre a obra do compositor pré-bossanovista, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020, com canções de seus dois grandes amigos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Nana, porém, a essa altura, já estava afastada dos palcos. Sua última apresentação foi em 2015, em São Paulo. Em agosto de 2024, o cantor Renato Brás lançou a faixa A Lua e Eu, sucesso de Cassiano, com a participação de Nana nos vocais. A voz de Nana foi capturada em sua casa, no Rio de Janeiro.

Em 2019, quando declarou ter votado em Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, foi muito criticada nas redes sociais. Numa entrevista à Folha de S. Paulo, criticou Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque por serem apoiadores de Lula. Ao jornal O Globo, comentou: “Se quiser me cancelar, cancela. Achei até engraçado: uns iam jogar meus discos fora e outros me quiseram morta”.