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Roberto Midlej
Publicado em 2 de maio de 2025 às 06:00
Nana Caymmi talvez não tenha sido a mais popular das cantoras brasileiras, especialmente se a compararmos com outras estrelas da MPB, como Marisa Monte, Maria Bethânia ou Gal Costa. Mas suas qualidades como intéprete são unanimemente reconhecidas. Da família, herdou o inconfundível timbre, uma marca do clã Caymmi, formado também por Danilo, Dori e, claro, pelo pai, Dorival. Mais recentemente, a vocação familiar foi ratificada com uma representante da terceira geração: Alice, de 35 anos. >
Mas, mesmo não tendo sido uma grande vendedora de discos, Nana alcançou o grande público especialmente quando teve suas canções incluídas em trilhas de novelas, como Babilônia (2015), Sangue Bom (2013), Gabriela (2012) e Insensato Coração (2011). Um de seus maiores sucessos foi Resposta ao Tempo, parceria entre Aldir Blanc e Cristovão Bastos.>
Filha do compositor baiano Dorival Caymmi e da cantora Stella Maris, Nana nasceu no Rio de Janeiro, com o nome de Dinahir Tostes Caymmi, o mesmo de uma tia, irmã do pai. Incentivada pelos pais, começou a estudar piano clássico ainda criança. >
A estreia de Nana em estúdio foi em 1960, ao lado do pai, com quem gravou Acalanto, composta por Dorival como uma canção de ninar, especialmente para a filha. Os versos se tornaram conhecidos por quase todas as crianças do Brasil: “Boi, boi, boi / boi da cara preta / pega essa menina que tem medo de careta”.>
Naquele mesmo ano, gravou um compacto simples com as músicas Adeus e Nossos Beijos. Embora desse os primeiros passos na carreira, Nana supreendeu a todos quando decidiu deixar o Brasil e se casar com o médico venezuelano Gilberto José Aponte Paoli, com quem teve seus três filhos, Stella, Denise e João Gilberto. Depois de passar quatro anos no país do marido, decidiu voltar para o Brasil, divorciada e com as crianças. >
Mas a decisão de se separar foi muito mal recebida pelo pai, que não admitia ter uma filha divorciada. A insatisfação do patriarca foi tanta, que pai e filha permaneceram rompidos por cerca de sete anos, como a própria Nana lembra no filme Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, da diretora Daniela Broitman. Neste período, o irmão Dori fez a canção Saveiros para ela cantar no I Festival Internacional da Canção, da TV Globo. Mas a cantora foi vaiada ao ser anunciada a vencedora da competição. >
Em 1967, foi morar com Gilberto Gil, com quem viveu até 1969, quando o compositor foi viver sob exílio em Londres. Apresenta-se no III Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, em 1967, com a canção Bom Dia, assinada em parceria com Gil.>
Ao longo dos anos 1970 e 1980, gravou regularmente. Seus álbuns reuniam um repertório sofisticado e grandes músicos, como João Donato, Helio Delmiro, Toninho Horta, Novelli, além dos irmãos Dori e Danilo. No início dos anos 1990, gravou Bolero, disco inteiramente dedicado ao gênero e que acabou marcando sua carreira.>
O reconhecimento popular só chegou em 1998, quando o bolero Resposta ao Tempo, de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, foi escolhido para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, de Glória Perez. >
Anos antes, Nana havia batido na trave. Sua gravação de Vem Morena havia sido escolhida para a abertura da novela Tieta. Porém, dias antes da estreia da trama, foi trocada por Luiz Caldas. “Fiquei esperando minha música tocar e aparece o Luiz Caldas dizendo que a lua estava cheia de tesão”, reclamou à imprensa.>
No ano 2000, gravou outro álbum dedicado apenas a boleros, Sangra de Mi Alma, que tinha clássicos como Amor de Mi Amores e Solamente Una Vez. Nos anos seguintes, regravou as canções do pai, em quantro álbuns temáticos.>
Seus últimos dois álbuns foram Nana Caymmi Canta Tito Madi, de 2019, sobre a obra do compositor pré-bossanovista, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020, com canções de seus dois grandes amigos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes.>
Nana, porém, a essa altura, já estava afastada dos palcos. Sua última apresentação foi em 2015, em São Paulo. Em agosto de 2024, o cantor Renato Brás lançou a faixa A Lua e Eu, sucesso de Cassiano, com a participação de Nana nos vocais. A voz de Nana foi capturada em sua casa, no Rio de Janeiro.>
Em 2019, quando declarou ter votado em Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, foi muito criticada nas redes sociais. Numa entrevista à Folha de S. Paulo, criticou Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque por serem apoiadores de Lula. Ao jornal O Globo, comentou: “Se quiser me cancelar, cancela. Achei até engraçado: uns iam jogar meus discos fora e outros me quiseram morta”.>