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Roberto Midlej
Publicado em 6 de dezembro de 2024 às 03:00
O cineasta francês Bernard Attal vive em Salvador desde 2005 e hoje mora em um imóvel no Santo Antônio Além do Carmo, com vista para a região do Comércio. Além disso, frequenta a Cidade Baixa porque tem um escritório ali. O movimento na área sempre lhe chamou a atenção, especialmente pela diversidade de profissionais que atuam ou atuavam no local, incluindo pessoas que prestam serviços em áreas hoje consideradas meio obsoletas, como engraxates e alfaiates. >
Preocupado com a decadência da região, Bernard decidiu realizar um filme para chamar a atenção para o problema: o documentário Porto de Origem, que está nos cinemas de Salvador. Além de ouvir especialistas que falam sobre a história e a arquitetura da região, Bernard também ouviu anônimos, especialmente comerciantes e prestadores de serviço que trabalham ali e muitas vezes têm uma relação nostálgica com o bairro.>
Mas o diretor admite que também houve uma curiosa motivação para realizar o filme. Em 2014, a avó dele morreu e, como parte da herança, lhe deixou um envelope com títulos de investimentos antigos, que não tinham mais valor. “Meses depois, olhei os papéis com mais atenção e percebi que havia um título relacionado à Bahia”, lembra Bernard. O papel havia sido emitido por uma empresa francesa que tinha participação na reforma do Porto de Salvador após a Primeira Guerra Mundial. Era o estímulo que faltava para que Bernard desse início ao filme.>
Revitalização>
“Queria também fazer um filme sobre o bairro do Comércio e sobre como as pessoas vivem aqui, no bairro que é muito negligenciado. E queria também tratar da revitalização do Comércio, de que há tantos anos se fala”, justifica Bernard. Chama também a atenção do cineasta a importância dos trapiches do Comércio. Um deles, o Trapiche Barnabé, passa por uma reforma na qual o próprio Bernard está envolvido.>
Há ainda uma outra motivação para o filme: o diretor é leitor assíduo de Jorge Amado, que usa a região da Cidade Baixa como cenário de diversos livros. “Li tudo dele e o que me chama a atenção é que ele é um dos poucos escritores que fala do Porto. Em Capitães da Areia, o Porto é o lugar central. Ele é o único que fala dos trapiches e eu não podia deixar de mencioná-lo no filme”. Por isso, o documentário usa um pequeno trecho do clássico livro de Jorge Amado.>
Há, inevitavelmente, um toque de nostalgia na obra, como se vê nos depoimentos dos prestadores de serviço que atuam ali. O dono de uma loja de tecidos, por exemplo, se queixa da concorrência com os produtos chineses. Muitos são idosos que se recusam a trabalhar em outros locais, como o alfaiate e o engraxate, ambos com mais de 90 anos. >
“Por um lado, queria mostrar essas pessoas que resistiram e fizeram questão de ficar lá, mesmo com problemas como a falta de segurança. E também queria mostrar as empresas que estão ali e fazem o Porto continuar vivo, como os moinhos de trigo”. Mas o filme também tenta olhar para o futuro e pensa sobre como a área pode ser revitalizada.>
Para Bernard, Salvador deveria se espelhar em cidades como Barcelona, na Espanha, e Marseille, na França, para revitalizar aquela área. “Marseille, como Salvador, tinha muitos problemas de segurança. E tem um patrimônio histórico que vai até a Antiguidade. A cidade foi revitalizada graças a políticas públicas”.>
O filme já estreou em Salvador e chegará a outras cidades baianas, como Vitória da Conquista, Barreiras e Luís Eduardo Magalhães. >
Em cartaz no UCI Shopping da Bahia e Cineflix (Shopping Bela Vista)>