Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Estadão
Publicado em 18 de junho de 2024 às 07:14
A edição comemorativa de 20 anos do Rock in Rio Lisboa começou no fim de semana. No sábado, 15, e domingo, 16, o festival recebeu nomes como a banda americana Evanescence, o cantor britânico Ed Sheeran e o brasileiro Jão - todos eles estarão também na edição brasileira, em setembro.>
Em conversa com jornalistas, Roberta Medina, vice-presidente da Rock World, definiu o programa do dia 16 como o "Dia da Disneylândia", diante da presença de famílias com crianças e carrinhos de bebê e um público jovem. E, seguindo essa mesma analogia, o que se viu no Palco Mundo, o principal do evento - para ficar em dois artistas que também estarão no Brasil -, foi Ed Sheeran proporcionando aos fãs uma delirante volta em uma montanha-russa daquelas cheias de curvas, subidas e descidas. Já o brasileiro Jão deu ao público um passeio por um carrossel. Com certa magia, sim, mas com uma emoção prevista. Sem riscos e controlada.>
Aos 33 anos, o britânico Sheeran apresentou-se com o conceito de show que oferece, nos palcos, há mais de uma década. Sozinho, sem banda. Ele mesmo comanda tudo e toca seu violão. Pop puro para fechar a noite.>
Embora o palco por vezes pareça vazio, Sheeran o preenche, aos poucos, com canções como Castel on the Hill, de 2017, com a qual abriu a apresentação. Quem não sabe de seu voo solo pelos palcos do mundo chega até a esticar os olhos procurando pela banda. Tudo é muito bem produzido e as bases que ele utiliza são exploradas sabiamente.>
O roteiro segue por canções como Shivers, The A Team e Give me Love, momento em que ele pede e a plateia de 80 mil pessoas - informada pela organização do festival - acata para, a partir daí, passear com emoção pelo setlist escolhido por Sheeran. No caso, bastante parecido com o que apresentou recentemente em seu concerto de Munique, na Alemanha.>
No mashup que traz Take It Back, Superstition, de Stevie Wonder, e Ain’t no Sunshine, de Bill Withers, Sheeran mostrou o vocal afiado que, no começo dos anos 2000, chamou a atenção nas redes sociais. O mesmo se dá no rap You Need Me, I Don’t Need You, de 2011.>
Caminhando>
Desde esse primeiro contato com seus ouvintes, Sheeran caminhou. Sabe se comunicar de forma direta e quente com a plateia. Quando canta Love Yourself, do repertório de Justin Bieber, em versão de voz e violão, leva jovens adultos para momentos de pura nostalgia. Em Shape of You, a ordem é dançar.>
Embora muitos torçam o nariz para suas canções repletas de "Oh, oh, oh" ou "Ah, ah, ah", Sheeran tem, além de talento, o entendimento do que dar ao público. Maturidade profissional, em melhor tradução.>
Não foi o mesmo que se deu com Jão. Os fãs do cantor lotaram a primeira parte da plateia. Havia cartazes, gritos e choros costumeiramente dirigidos aos grandes ídolos. Mas tudo limitado. A grande massa do festival o ouvia apenas com curiosidade, fisgada por canções como Idiota e Me Lambe, estrategicamente alocadas no final da apresentação.>
Pouco antes de subir ao palco, Jão, em conversa com os jornalistas, disse ter concebido show especial para Lisboa, "que nunca mais se repetiria". "É cinematográfico, teatralizado.">
Foi e não foi. Jão fez seu show de sempre, o que é cada vez mais comum entre artistas do cenário atual. Eles passam por um bocado de festivais ao longo do ano, mas pouco inovam ou ousam.>
Limitações>
Jão faz um bom pop: basta ouvir a ótima segunda parte do álbum Super, a Supernova, lançada no dia 12 de junho. Mesmo comercial, sua música é bem-feita. Pesam, no entanto, duas limitações do artista: a vocal e a capacidade de se entregar emocionalmente, seja no palco ou em gravações - basta ouvir a insossa versão que fez para Jardins da Babilônia, gravada para a novela Família É Tudo.>
Por vezes, as performances parecem arrumadinhas demais. Mas o show de Lisboa foi um passo importante para ele. Antes de subir ao palco, o cantor negou que faça esforço para criar uma carreira internacional. Paranoid, sua primeira canção em inglês, foi, segundo ele, algo normal: "Gosto de compor em inglês". Ele será uma das atrações do Rock in Rio. Até lá, tem tempo para pensar se consegue ir além de sua bolha de fãs e conquistar a posição de um ídolo pop - brasileiro ou até internacional.>