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"Este é o momento para nos encontrarmos com as nossas origens de uma maneira definitiva e honesta", diz Itamar Vieira Júnior sobre novo livro

Lançado nesta segunda (13), "Coração Sem Medo" conclui história iniciada em 2019 com a publicação de "Torto Arado"

  • Foto do(a) author(a) Gilberto Barbosa
  • Gilberto Barbosa

Publicado em 13 de outubro de 2025 às 05:00

Itamar Vieira Júnior lança "Coração Sem Medo" nesta segunda (13) Crédito: Uendel Galter/Divulgação

Rita Preta é uma operadora de caixa de supermercado que trabalha para cuidar de seus três filhos. Ela vê sua vida ser transformada quando um deles some sem deixar rastros na comunidade onde vivem, em Salvador. O que se sucede é uma jornada de Rita no presente e nas memórias do seu passado, em busca de respostas e de uma chave para um recomeço.

Esse é o ponto de partida do livro Coração Sem Medo, que será lançado nesta segunda-feira (13). Escrita pelo soteropolitano Itamar Vieira Júnior, a obra conclui a “trilogia da terra”, composta por Salvar o Fogo e Torto Arado, vencedor dos prêmios LeYa, Oceanos e Jabuti. A turnê de lançamento terá uma parada em Salvador, no dia 01 de dezembro. Antes, Itamar estará na Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no próximo sábado (19).

"Coração Sem Medo" será lançado nesta segunda (13) Crédito: Divulgação

Você já citou que a ideia para esse livro surgiu enquanto escrevia “Torto Arado”. Como foi o processo criativo e de construção dessa obra?

Durante a escrita de Torto Arado, eu já estava envolvido na pesquisa e no planejamento desses romances. Eu senti que eu precisava entender essa questão por perspectivas que não fossem necessariamente de pessoas que tinham vínculo com a terra, como em Torto Arado, mas que também eram vítimas da espoliação e de uma grande desigualdade. Coração Sem Medo tem como personagens aqueles que foram desterrados e migraram de maneira forçada rumo à cidade porque já não podiam lutar pela terra onde nasceram.

Ao contrário dos dois primeiros livros, a história de “Coração Sem Medo” ocorre em uma grande cidade. O que você vê de diferente na obra e como as disputas territoriais urbanas e do campo se entrelaçam no texto?

Eu não acho que há muito de diferente, além do fato da personagem viver na cidade. Rita Preta é uma operadora de caixa, mãe de três filhos adolescentes e um deles desaparece na comunidade onde eles vivem. Ela percorre a cidade e os lugares mais hostis para saber o que aconteceu com ele e percebe que essa história de desaparecimento e de busca cerca as suas origens e a história da sua família. Então, ao mesmo tempo em que ela procura seu filho no presente, ela tenta encontrar no passado a origem daquilo que ela tem vivido.

Vivemos em um momento em que há um resgate de um passado que ficou esquecido durante muito tempo. Qual a importância de se falar sobre herança e sobre ancestralidade nos livros?

Este é um momento para nos encontrarmos com as nossas origens de uma maneira definitiva e honesta. Durante muito tempo, vivemos uma utopia de que o Brasil era um país de encontros de pessoas de diversas origens que se miscigenaram e fundaram essa nação, mas sabemos que isso não é verdade. A ficção nos ajuda a contar essas histórias de muitas maneiras e a pensar na influência de cada uma delas. É voltar ao passado para compreender o presente e projetar um futuro diferente.

Os primeiros livros possuem uma dimensão espiritual muito forte, enquanto neste a personagem encontra as respostas a partir dos sonhos. Como esse aspecto metafísico caminha pela trilogia e ajuda na condução da história?

A trilogia prioriza personagens que transitam no mundo e eu tento apresentá-los da maneira mais completa possível, considerando também suas crenças e suas subjetividades. Os sonhos carregam essa dimensão onírica da vida, que é nossa porque somos capazes de sonhar, ainda que dependendo da sociedade que a gente faça parte, esses sonhos vão ter significados distintos .

Na sua visão, como a história da “Rita Preta” se relaciona com a realidade de outras mulheres em uma cidade como Salvador?

Salvador é uma cidade fraturada, com pessoas que habitam lugares menos hostis e outras que estão em locais onde falta tudo, onde há violência de sobra e onde falta o estado, que também é esse agente opressor. Eu morei 20 anos em Mussurunga e sei de perto o que é viver nas periferias e ter carência de serviços como saneamento, transporte e segurança. Essa personagem reverbera muitas outras que eu encontrei ao longo da minha vida e que vi serem afetadas por esse ambiente hostil que as cerca.

Como essa trilogia se conecta com a sua história e o quanto do Itamar pode ser visto nos livros?

Eu penso que o fazer literário é feito de uma boa dose de imaginação. Apesar dessas histórias serem imaginadas, também há um pouco de memória e todos nós carregamos memórias. Então o fato de essas dessas histórias me inquietarem, já faz com que elas carreguem um tanto de mim.

Os livros dessa trilogia venceram prêmios importantes como o Oceanos e o Jabuti. O que essas premiações mudaram na sua vida?

Eles foram importantes na medida que possibilitaram que o meu trabalho literário encontrasse leitores. Esse não é o propósito da minha escrita, mas esses prêmios fizeram com que as pessoas soubessem que existe esse livro e se interessassem. No fundo, gosto de pensar que escrevo para que essas histórias encontrem os leitores. Os prêmios são apenas uma consequência.

Temos visto o surgimento e a consolidação de diversas feiras literárias. Como você avalia o momento atual do mercado literário no Brasil?

É um momento muito interessante, temos cada vez mais autores brasileiros sendo publicados, em editoras de diferentes perfis. A literatura brasileira tem se tornado mais diversa, temos encontrado autores do Norte-Nordeste com mais frequência, inclusive figurando em premiações importantes. Os eventos literários têm esse papel de possibilitar esse encontro entre o leitor e o autor, mas sobretudo de disseminar a leitura e a literatura brasileira.

Você falou de autores do Norte-Nordeste, qual a importância das histórias contadas por esses autores que não estão nos grandes centros chegarem ao público?

É importantíssimo, não dá para entender o Brasil pela metade. Só vamos entender a diversidade do nosso país se pudermos conhecer as muitas histórias que formam o que nós chamamos de Brasil. Vivemos um tempo em que autores de diversos estados têm publicado e tem chegado ao público sem estarem restritos ao seus estados de origem, participando de feiras de Norte a Sul do país e isso tem sido muito bom. Se queremos pensar em uma literatura brasileira, ela precisa espelhar a diversidade do nosso país.

Qual a sua expectativa para o lançamento do livro e para suas vindas a Salvador e Cachoeira?

As expectativas são boas, porque cada livro que chega é um pretexto para sair de casa, encontrar os leitores e compartilhar as nossas experiências. Esse é um momento que eu aprecio muito e que é a parte mais importante, que é e conversar, abraçar e escutar as pessoas. As minhas histórias são sobre a Bahia e refletem a nossa gente, o nosso povo e a nossa história. Para mim, poder dividir isso com os leitores baianos é muito bom.