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Autoras tiveram que deixar a Rússia após receberem ameaças de morte por suposta propaganda gay
Doris Miranda
Publicado em 10 de setembro de 2024 às 06:00
Se você é minimamente ligado na cultura pop já ouviu falar em Verão de Lenço Vermelho. O livro voltou a movimentar a internet, desta vez no Brasil, depois de ser publicado por aqui pela Editora Seguinte, braço juvenil da Companhia das Letras. Banido na Rússia, onde a trama se passa, o romance LGBTQIA+ fez com que as autoras, a ucraniana Katerina Silvánova e a russa Elena Malíssova, tivessem que deixar o país governado por Vladimir Putin após receberem ameaças de morte por suposta propaganda gay.
O sucesso do livro na Rússia aconteceu há dois anos, depois que Verão de Lenço Vermelho viralizou no TikTok - atualmente, são mais de 40 mil publicações só naquele país a respeito do livro. Publicado por uma editora independente à época, a obra permaneceu por várias semanas na primeira colocação da lista de mais vendidos.
A história gira em torno dos jovens Iura, 16 anos, e Volódia, 19, que vivem um romance, proibido na União Soviética comunista nos anos 1980, em um acampamento no verão. Vinte anos depois, depois da derrocada do comunismo no leste europeu, Iura volta ao local para relembrar o seu primeiro amor.
O bacana é que, ao contrário da grande maioria dos títulos de literatura juvenil, o Lenço Vermelho é muito bem escrito e contextualiza perfeitamente a repressão e o obscurantismo que o regime impunha à população. As autoras conseguem trançar com fluidez o cenário histórico às vivências da juventude daquela época, realçando o preconceito de gênero, a ignorância cultural, a parcialidade política e as dificuldades econômicas do período sem que o resultado seja enfadonho. Muito pelo contrário, a leitor só tem a ganhar com a riqueza da narrativa.
A história e o sucesso do livro incomodaram ativistas anti-LGBT+, que chegaram a criar uma campanha para banir Verão de Lenço Vermelho da Rússia. As críticas acusavam o livro de fazer "propaganda" ocidental e LGBT+, além de "distorcer" a história da União Soviética. Segundo o The New York Times, o escritor Zakhar Prilepin, ex-membro da Duma Federal da Rússia, chegou a sugerir que a editora responsável pela publicação fosse incendiada.
Em março desse ano, a Rússia de Putin incluiu o "movimento internacional LGBT" a uma lista de "terroristas e extremistas". Desde 2013, uma lei por lá proíbe "a propaganda" de "relações sexuais não tradicionais" entre menores. A legislação foi ampliada no final de 2022, época do sucesso de Verão de Lenço Vermelho, para proibir qualquer forma de "propaganda" LGBTQIA+ na mídia, internet, livros e filmes.
Acuada, a russa Elena Malíssova deixou seu país no mesmo ano. Em 2023, ela se estabeleceu na Alemanha, para onde a família de um dos persoangens migra depois da queda do muro de Berlim. Já Katerina Silvánova, natural de Kharkiv, Ucrânia, onde vive ainda hoje, conheceu Elena quando tinha 24 anos. Depois de criarem uma amizade sólida, as duas começaram a trabalhar em Verão de Lenço Vermelho. O resultado é, com certeza, um presente aos leitores.
SERVIÇO - Livro: Verão de Lenço Vermelho | Autoras: Elena Malíssova e Katerina Silvánova | Editora: Seguinte | Preço: R$ 79,90; R$ 39,90 (e-book) | 464 páginas