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Larissa Almeida
Publicado em 25 de dezembro de 2025 às 23:11
Pela primeira vez, o Natal de milhares de soteropolitanos foi celebrado fora de casa. Ao ar livre, dividindo espaço com uma multidão, quem marcou presença na Arena O Canto da Cidade, nesta quinta-feira (25), tinha como principal objetivo chegar mais perto do céu, ou, pelo menos, de quem costuma os aproximar de Deus: Frei Gilson. O nome dele, escrito em camisas, gravado em faixas e cantado em alto e bom som, foi também o mais ovacionado quando anunciado no palco montado na Boca do Rio, já à noite. >
Quem quis garantir um bom lugar, no entanto, chegou no tinir do sol. A partir das 12h, quando os portões se abriram, já havia público para garantir os poucos assentos disponíveis. A dona de casa Ismária da Conceição, 37 anos, chegou uma hora depois e já não conseguiu lugar para se sentar. Apesar disso, ficou feliz de conseguir ficar junto a grade, onde chamou atenção com a faixa com o nome do frei e a toalha com o rosto dele. >
Show de Frei Gilson no Natal de Salvador
Assumidamente fã, ela falou sobre a expectativa para o show. “A semana toda fiquei ansiosa, nem dormi essa noite. Há três anos acompanho ele. Fiquei fã da música e depois do rosário, que me dá muita força. Graças a Deus, meu propósito durante a Quaresma de São Miguel Arcanjo foi alcançado, algo que pedi muito em oração com ele. Meu coração está a mil hoje”, diz. >
Para acompanhá-la na programação, que começou com a apresentação do padre Jaciel Bezerra, por volta das 15h30, Ismária levou a cunhada, a irmã da cunhada e a sobrinha. A seu modo, foi a forma de não quebrar a tradição de reunir a família no Natal, algo bastante observado no público que, essencialmente, foi composto por núcleos familiares. >
Na plateia, havia uma tia e um sobrinho que, além de esperar pelo show, serviram em missão pela Paróquia Divino Espírito Santo. Ela, Maria José Moraes, distribuiu a hóstia para a eucaristia durante a Santa Missa, enquanto Gustavo Moraes, de 17 anos, ficou encarregado de segurar as placas para ajudar o público a receber o Corpo de Cristo, como simbolizado no catolicismo através do pão. Como recompensa pelo serviço prestado, ambos ficaram sentados perto do palco. >
“É uma expectativa imensa pelo grande show do Frei Gilson. Desde o Santo Rosário, eu e meu sobrinho acompanhamos as lives que ele faz. Todos os dias de quaresma nós acordamos às 4h, porque ele pede que estejamos com ele rezando e pedindo as graças de Deus”, conta. Gustavo, o sobrinho, explica que a admiração pelo frei existe por conta desses momentos. “Ele é um grande padre, frei, alguém que cativa muito as pessoas. Ele fala muito bem e é cheio do Espírito Santo, isso é o que nos faz estar aqui”, completa. >
Logo após a celebração da Santa Missa, a antecipação do público era tanta que havia lanternas acesas e câmeras apontadas para o palco antes mesmo que o nome do Frei Gilson fosse anunciado. Quando, enfim, o momento chegou – precisamente às 19h51 –, a Arena O Canto da Cidade explodiu em gritos. De todos os lados, era possível ver luzes e mãos elevadas para louvar, que se ergueram ainda mais alto quando os primeiros versos de Colo de Mãe, música em homenagem a Maria, mãe de Jesus, começaram a ser cantados. >
No repertório do frei, foram incluídas músicas que abordavam a necessidade de alimentar a alma com a presença de Jesus Cristo, como Meu Coração Está Pronto Para Te Amar e Acalma Minha Tempestade. A escolha das canções, para muitos na plateia, foi uma mensagem direta. Em outros casos, um afago pelo sacrifício que fizeram para estar ali, como na situação da enfermeira Jéssica Valcácio, 35. >
“Sou mãe de uma criança autista e tenho dois pais idosos. Não sabe o quanto que me custa estar aqui, por conta do meu senso de responsabilidade. Só que eu e Frei Gilson...”, ela pausa, com a voz embargada. “Eu sempre fui católica, mas sempre fiquei estudando outras religiões, até que isso começou a me incomodar. Foi então que Frei Gilson, com as evangelizações dele nas redes sociais, passou a me tocar profundamente. Algo, assim, que você sente verdade. É muito forte”, diz, em lágrimas. >
Depois que passou a seguir o frei, Jéssica se crismou na Igreja Católica e, desde então, relata vivenciar a fé de uma forma que nunca experimentou. “Eu consegui me converter de coração, deixar me apaixonar novamente por Jesus Cristo, Nossa Senhora e toda a crença católica. Voltei a ter orgulho católico e foi Frei Gilson que, realmente, conseguiu me resgatar, trazendo a palavra de Deus de uma maneira muito sublime. Ele foi um pastor que conduziu a ovelha de volta”, resume. >
Para a contadora Edilene da Silva, 49, Frei Gilson é o pastor que mantém a ovelha no caminho do divino. A ovelha, neste caso, é a mãe dela, de 89 anos, que, lidando com um quadro de Alzheimer, tem em Frei Gilson a ponte necessária para se manter no presente. Foi em homenagem a ela que Edilene e o marido, o eletricista Neildo Lima, 49, foram equipados com uma cadeira de padre para ter a chance de ver o frei de perto. >
“Ela já está em um processo de demência e a companhia dela é Frei Gilson. Ela entende que Frei Gilson está no quarto com ela. Então, ela conversa com ele e, quando ouve certas canções, diz que ele está falando com ela. Explicamos, mas ela não entende. Então, só deixamos e entramos na crença dela, porque não é ruim. Ela nunca está sozinha com ele. É uma forma dela se conectar com Deus e, quando entramos no quarto dela, somos levados por essas emoções”, narra Edilene. >
Chamando a si de instrumento de Deus, o próprio frei classificou sua presença em Salvador, em pleno dia de Natal, como uma missão. “É uma alegria imensa estar aqui. Eu já vim a Salvador algumas vezes, a última talvez uns oito anos atrás. É a primeira vez que saio no Natal para fazer alguma missão. Geralmente, nessa época, sempre passei dentro do convento. Fui pároco por nove anos e sempre tinha minhas missas na paróquia”, contou. >
“Então, é a primeira experiência de show que faço no Natal e que bom é vir à cidade que tem por nome Salvador. Essa cidade se chama Salvador porque, neste dia, em um dia tão especial, na Gruta de Belém, o Salvador nasceu para toda a humanidade”, ressaltou. >
Frei Gilson ainda lembrou que, mesmo diante da diversidade cultural e religiosa de Salvador, a escolha do seu nome para comemorar o Natal segue o exemplo de Jesus Cristo, que foi até todos. “Somos um só povo, todos filhos de Jesus Cristo. O Salvador não veio resgatar uns e não outros. Então, que bom que aqui tem tanta diversidade e culturas, mas o Salvador veio para todos e para unir a todos. Então, tenho certeza de que a cidade que tem esse nome deve viver a união que Jesus quis trazer”, falou. >
Para o prefeito Bruno Reis, o evento reforça o simbolismo do Natal e a identidade religiosa da capital baiana. “A cidade que leva o nome do Salvador, no dia em que o Senhor Jesus Cristo Nasceu, realizou este evento com o Frei Gilson. Sem sombra de dúvidas, é motivo de muita alegria para todos os cristãos e para todos aqueles que têm fé em Deus. É um evento que deixa uma marca e que vai nos inspirar, nos iluminar e nos dar mais sabedoria para continuar dirigindo a cidade”, frisa. >
Também presente no evento, ACM Neto, vice-presidente nacional do União Brasil, deu ênfase à ampliação das festas de fim de ano realizadas pela prefeitura, que pôde dar continuidade ao projeto que ele iniciou em 2013. Católico, o candidato a governador da Bahia mencionou a fé que herdou da família e estaria sendo alimentada com o show do Frei Gilson. >
“Eu, que sou devoto de Santo Antônio, Santa Terezinha, Santa Terezinha e Nosso Senhor do Bonfim, acredito que para os católicos e os cristãos, de maneira geral, é um momento muito especial e estou superfeliz de ver o Frei Gilson e saber que tem aqui uma multidão. Milhares de pessoas que acordam de madrugada para acompanhar a palavra do Frei Gilson e têm oportunidade de vê-lo perto e ter um contato mais direto. Sem dúvida nenhuma, é algo muito especial”, finalizou. >