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Luiza Gonçalves
Publicado em 11 de março de 2024 às 14:48
O debate sobre identidade, raça e o antirracismo tem sido protagonista nas atuações da filósofa Djamila Ribeiro, do dramaturgo e apresentador Aldri Anunciação e da atriz Luana Xavier. Agora os caminhos desses três se unem na primeira adaptação de uma das obras de Djamila para o teatro. Juntos eles dão continuidade às reflexões sobre o racismo estrutural. >
Trata-se do espetáculo “Pequeno Manual Antirracista”, com texto e direção de Aldri e que traz marca a estreia de Luana Xavier em um monólogo. A peça estreia no dia 15 de março e permanece em curta temporada até o ultimo dia do mês. O texto é baseado no livro homônimo de Djamila.>
Aldri, autor do premiado "Namíbia Não!", destaca a importância de trazer para suas atuações a pauta antirracista: “É uma pauta universal. Eu me aproximo e faço parte dela. É muito importante eu colocar o meu trabalho, que é um trabalho de ficcionista, ou de escritor, ou de autor, ou de comunicador", diz o também apresentador de TV. >
Aldri explica que a ideia de adaptar Pequeno Manual Antirracista para o teatro vem da vontade de explorar os pensamentos filosóficos e a ironia da autora em uma linguagem mais ‘entretida’: "O assunto do antirracismo não pode ficar restrito somente nos âmbitos literários do pensamento. O que me motiva a adaptar para o teatro é justamente caminhar nesse lugar que a Djamila já vem pautando, que é de aproximar a comunidade, as comunidades negras e não negras, sobre um assunto tão importante que é o antirracismo”. >
O espetáculo >
A narrativa se inicia na sala de aula da professora Bel (Luana Xavier), que se vê sitiada por um tiroteio que acontece do lado de fora, a partir de uma manifestação desconhecida inicialmente. Todos ficam presos na sala e, nesse momento, ela procura fazer uma conferência sobre o antirracismo, tentando fazer alguma relação com o que ocorre do lado de fora da sala. >
A obra também pretende explorar a relação entre Bel e seu filho Alain, destacando o afeto negro com uma forma de combate ao racismo. Aldri explica que o processo de criação do texto se iniciou a partir de uma pesquisa e conversa para entender as motivações de Djamila ao escrever o livro e as personalidades que ela destacou nele. >
Aldri Anunciação e Luana Xavier se conheceram no set de filmagem do filme Medida Provisória, onde o autor pôde conversar e saber mais da atriz, que já chamava sua atenção pelos debates promovidos por ela nas redes sociais. “Ela tem essa linguagem do humor e, ao mesmo tempo, ela é uma atriz muito dramática. Eu pensei que talvez isso fosse ingredientes de qualidades e de apetências muito fortes de uma atriz para poder contar essa história da professora Bel e do seu filho Alain, contar essa história de modo afetuoso, do afeto como ferramenta antirracista".>
Luana Xavier já tinha familiaridade com as obras de Djamila, especialmente os livros “Quem tem Medo do Feminismo Negro” e “Pequeno Manual Antirracista”. Depois de uma reunião com o diretor e com o aval da escritora, ela afirma que o caminho que se trilhou foi de alegria, mas com o desafio de estar pela primeira vez só em cena: “Eu descobri durante o processo de ensaios que fazer monólogo é babado hahaha”, brinca rindo. >
Antirracismo >
“Eu dependo do antirracismo para existir. Se a sociedade não estiver preocupada, engajada e realizando o antirracismo na prática, Luana Xavier não terá espaço no mundo. Porque o racismo oprime, segrega, tira emprego, destrói famílias, mata”, afirma Luana. >
Neta da atriz Chica Xavier (1932-2020), ela destaca que o legado artístico, religioso e social de sua avó foi importante para que ela percebesse que o engajamento nas relações raciais e a luta pelo reconhecimento dos artistas negros deveria ser parte de sua trajetória pessoal e profissional. >
A atriz revela suas expectativas sobre a peça: "Sem dúvidas quem assistir essa peça vai levar o debate para casa e para outros espaços de convivência. E se cada um, ao sair da plateia, for comentando sobre cenas e acontecimentos dizendo o que absorveu daquilo ali, acho que a peça terá cumprido o seu papel. Pelo menos no meu entendimento, como atriz, como pessoa que dá voz a essa história, eu acho que a função dessa peça é incitar o debate, o incômodo, o desejo de ação ou pelo menos tirar pessoas da inércia quando o assunto for antirracismo”, sintetiza.>