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Roberto Midlej
Publicado em 27 de setembro de 2023 às 06:00
O caso do Bebê Diabo, nos anos 1970, e a gangue dos palhaços, na década de 90, são duas histórias que ficaram muito conhecidas em São Paulo, mas chegaram a ter repercussão no Brasil. Ganharam um tom de lenda urbana com o tempo, mas o fato é que os dois casos foram temas de reportagem - ou seria história de ficção? - de um jornal que vendia muito e tinha fama de sensacionalista: o Notícias Populares (NP), que circulou em São Paulo de 1963 a 1991. >
Agora, os bastidores daquela redação caótica estão retratados na série ficcional Notícias Populares, que estreia nesta sexta no Canal Brasil, às 22h30. Os próximos seis episódios serão exibidos no mesmo horário, às sextas, e a produção também vai ficar disponível no streaming, no Globoplay + Canais.>
A série é uma criação do jornalista André Barcinski e do cineasta Marcelo Caetano, com direção deste segundo. A participação de Barcinski enriquece a série, afinal ele trabalhou no jornal por cerca de um ano e meio. "Foi uma experiência curta, mas muito intensa. E tenho amigos que trabalharam lá por décadas", lembra André.>
Antes de ir para o NP, o jornalista trabalhava na Folha de S. Paulo, no prestigiado caderno de cultura, Ilustrada. "Era o que todo jornalista queria. Quando disse a meus pais que ia para o NP, eles disseram: você vai jogar sua carreira no lixo! Mas eu via ali uma oportunidade de aprender um jornalismo que só se aprendia na prática", revela André.>
A HISTÓRIA>
A trama da série se passa no início dos anos 1990, quando o jornal está em crise e sofrendo críticas pelo teor sensacionalista. Paloma (Luciana Paes), antiga correspondente em Paris de um dos maiores jornais do Brasil, é convocada para chefiar os repórteres e modernizar o NP. Para isso, vai precisar driblar seus próprios preconceitos para cobrir casos absurdos como como as histórias do bebê diabo, do bando de palhaços e de uma rebelião de prostitutas. A cada capítulo, o espectador vai conhecer os bastidores de uma reportagem diferente que foi publicada no jornal.>
Embora a série não use personagens baseados diretamente em pessoas que passaram pelo jornal, há alguns que são como uma fusão de vários jornalistas do NP, diz André Barcinski: "A Paloma, de certa maneira, representa não só a mim, mas muitos jornalistas que vieram de outro estilo de jornalismo e foram subitamente jogados naquele caldeirão fervente que era o NP".>
Luciana complementa: "A minha personagem não existiu, só que ela é a maneira que o espectador vai ter para observar o NP, com esse olhar de ‘normalidade’ sobre o que acontecia no jornal. Aos poucos ela vai se transformando e transformando a maneira com que ela vê o Brasil".>
O elenco tem ainda a participação especial de Bruna Linzmeyer, que vive Rata, jornalista em uma das principais emissoras de TV do país. A repórter rivaliza com o ‘NP’ na busca por matérias inusitadas e consegue dar furos históricos, deixando Paloma preocupada com a concorrência.>
Embora lide com temas meio escabrosos, a série pende para o humor, sem deixar de fazer importantes críticas ao jornalismo e a busca às vezes inescrupulosa por boas manchetes. O tom do humor é determinado também pelo retrato de uma redação absolutamente caótica, barulhenta e cheia de gente, ao contrário de hoje, em que as redações dos jornais estão cada vez mais reduzidas, diante da concorrência dos meios digitais.>
Mas talvez a maior virtude de Notícias Populares seja a qualidade de sua cenografia, que faz uma reprodução precisa da redação daquele jornal, segundo os autores. A geladeira enferrujada, as máquinas de escrever velhas e barulhentas, as paredes repletas de pôsteres de mulheres nuas e propagandas de bebidas... tudo ajuda o espectador a ser transportado para os anos 90.>