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Marcos Palmeira fala sobre degradação do Rio São Francisco: 'Que Brasil a gente quer?'

Em entrevista ao CORREIO, ator falou sobre o jagunço Cícero, de 'Velho Chico', e coronelismo

  • Foto do(a) author(a) Laura Fernades
  • Laura Fernades

Publicado em 31 de julho de 2016 às 12:05

 - Atualizado há 2 anos

“Que Brasil a gente quer?”, questiona o ator carioca Marcos Palmeira, 52 anos, ao citar a degradação do Rio São Francisco, o uso exacerbado dos agrotóxicos, a corrupção e a desigualdade social. “O que é sustentável?”, continua provocando o ator que está no ar como o rude jagunço Cícero, em Velho Chico, novela de Benedito Ruy Barbosa exibida às 21h, na Globo/TV Bahia.“É importantíssimo levar para a novela das nove a questão dos agrotóxicos, principalmente no país que mais produz no mundo”, acredita Marcos Palmeira. Dono de uma fazenda de alimentos orgânicos em Teresópolis, no Rio de Janeiro, e defensor ferrenho de um mundo mais sustentável, o artista também está gravando um documentário, dirigido por João Amorim, que apresenta projetos sustentáveis espalhados pelo Brasil, como possíveis soluções para um planeta em crise.Marcos Palmeira vive Cícero, em 'Velho Chico'(Foto: Caiuá Franco/TV Globo)Em entrevista ao CORREIO, Marcos Palmeira fala sobre o coronelismo retratado em Velho Chico, também vivido por ele na novela Renascer (1993), sobre agricultura familiar, poluição do Rio São Francisco e amor pela vida rural. O ator conversa, ainda, sobre os desafios em viver o violento Cícero que, nos próximos capítulos da novela, escrita por Edmara Barbosa e Bruno Luperi, vai tentar afastar Santo (Domingos Montagner) de sua grande paixão: Tereza (Camila Pitanga). Confira!Cícero e Tereza têm uma relação dúbia. Os dois cresceram juntos e ela garante que ele é como um irmão, apesar de Cícero alimentar um amor platônico. É mesmo amor de irmão?Ele é apaixonado por ela, é um amor platônico. Era aquela criança que achava que namorava, mas ele cresceu e continuou com sua relação de amor incondicional. Ela é bem resolvida, mas ele não tem muita inteligência emocional, apesar de ser capaz de fazer qualquer coisa. Como é um homem rude, é capaz de qualquer coisa por amor.Quais foram os principais desafios em interpretar Cícero?Primeiro foi um mergulho no escuro, a partir da proposta do Luiz [o diretor artístico Luiz Fernando Carvalho]. Ele disse ‘vamos lutar pelo amor de Tereza e ver no que vai dar’. Fui surpreendido e entrei de cabeça. Queria estar nessa obra, fosse como fosse, até como assistente de direção. Estou me divertindo muito em fazer, é muito marcante na minha carreira, mas não é fácil. Cícero é capaz de ir para qualquer lugar: redenção, violência, assassinato... Estou muito à vontade, muito imbuído dele.Cícero vai tentar separar Tereza e Santo em 'Velho Chico'(Foto: Renato Rocha Miranda/TV GloboVocê se identifica com o personagem?Não... A não ser essa relação com os animais, ligado aos cavalos, que adoro. Mas não vivo amor platônico, não tenho essa coisa da violência, da agressividade.Como é reviver esse universo rural do coronelismo, que você encontrou na novela Renascer (1993), também assinada por Benedito Ruy Barbosa?Maravilhoso. Estou em casa nesse sentido. Para mim, o melhor do brasileiro está no interior. Sou muito próximo da minha realidade interiorana, apesar de ser um cara urbano também. Transito bem entre os dois universos.Velho Chico realça o debate sobre a agricultura sustentável e, na vida real, você pratica isso com uma fazenda de alimentos orgânicos, na região serrana do Rio de Janeiro. Por que é importante levantar essa bandeira?É importantíssimo levar para a novela das nove a questão dos agrotóxicos, principalmente no país que mais produz no mundo. É importante levantar a questão do agronegócio, da agricultura familiar e dar alternativas como a agroflorestal, cujo forte é conseguir recuperar as matas ciliares do Rio São Francisco.

Importante mostrar como resgatar aquela região tão desgastada, contaminada, empobrecida. Fico muito feliz de estar dentro desse processo, mesmo de forma indireta, já que o discurso não está na minha boca. É importantíssimo contrapor ao coronel que não está preocupado com o que produz.O amor proibido é um dos fios condutores da novela, mas o Velho Chico é o grande protagonista da trama que leva seu nome. Qual é a importância de se voltar as atenções para o Rio São Francisco, uma das bacias hidrográficas mais relevantes do Brasil e da América do Sul?O São Franciso é o nosso Rio Nilo e está totalmente poluído, degradado. Não tem mais vegetação de ponta a ponta. Se vendeu um projeto de transposição falido, de R$ 330 milhões. Quem paga essa conta? O cara que vivia da pesca está vivendo do turismo, porque não consegue pescar. O ribeirinho foi muito prejudicado, os índios... A novela trata de questões muito importantes. Mas a gente continua fomentando a concertação de renda, cada vez mais. O mundo não deu certo ainda. A novela é um grande reencontro com a brasilidade, com a história do nosso país e nosso povo, segundo Luiz Fernando Carvalho, diretor artístico de Velho Chico. O que acha desse resgate de valores para uma reflexão crítica sobre a história do Brasil?Que Brasil a gente quer? Que cultura a gente quer? O que é sustentável? O país não investe em educação, mas a economia não é a coisa mais importante. Eu não acredito nessa coisa desenvolvimentista das grandes obras. As pequenas ações é que geram as grandes modificações. O Brasil precisa dar uma estancada nisso, vamos reavaliar. Vamos formar esse novo cidadão. Tem que distribuir, de verdade.

O dinheiro e a comida estão no mesmo patamar: não faltam, estão mal distribuídos. O dinheiro roubado até hoje já teria resolvido a pobreza, o problema da educação. O Brasil é novo, estamos aprendendo. Este é um momento muito importante de reflexão, onde todo mundo “entende de política”, o que é muito bom. Só acho ruim quando cria a divisão entre petralhas e coxinhas. Posso ser contra, mas dividir isso com você. Não se desfaz amizade por causa de política, futebol, nem mulher. Uma novela dessa, dentro da rede globo, é um marco.Além de Velho Chico, há novos planos para 2016? O que pode nos contar?Estamos lançando a série do Multishow E Aí Comeu, em agosto. Além disso, vou começar a gravar o documentário Manual de Sobrevivência para o Século XXI, dirigido por João Amorim, sobre tudo o que é feito no Brasil para melhorar a qualidade de vida, todos os grandes projetos em prol da humanidade.

É quase um reality comigo, vou viver de perto essas experiências. Estou sempre querendo fomentar essa discussão. Se a gente puder abrir duas arestas para esse olhar mais voltado à preservação ambiental, é importante para que a gente possa acreditar de verdade que um novo mundo é possível.