Todos Nós Desconhecidos traz olhar afetuoso sobre a solidão de dois homens gays

Com atuações delicadas de Andrew Scott e Paul Mescal, filme foi esnobado pelo Oscar

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  • Doris Miranda

Publicado em 7 de março de 2024 às 07:00

Andrew Scott e Paul Mescal vivem um romance no filme
Andrew Scott e Paul Mescal vivem um romance no filme Crédito: divulgação

Muita gente vai se referir a Todos Nós Desconhecidos como o filme em que Paul Mescal (Normal People) e Andrew Scott (Fleabag) vivem um romance gay. Principalmente depois do fenômeno pop Vermelho, Branco e Sangue Azul. Mas, o filme dirigido por Andrew Haigh, a partir do livro Strangers do escritor japonês Taichi Yamada, se apresenta muito mais como um delicado - e afetuoso - tratado sobre a solidão de dois homens gays vindos do interior para a avassaladora Londres.

Na história, Adam (Scott) é um roteirista de 40 e poucos anos, que vive sozinho em um arranha-céu ainda pouco habitado. Numa noite qualquer, ele é abordado pelo único vizinho, o jovem Harry (Mescal), que o convida para transar - após notá-lo observando-o de longe.

Convencido de que não consegue se relacionar com alguém tão próximo, Adam rejeita as investidas do rapaz. Mas, aos poucos, o flerte vai sutilmente formando os contornos de uma relação e, à medida que o namoro cresce, Adam é atraído de volta à casa onde cresceu – e abandonada por sua família há muito tempo. Lá, reencontra seus pais, mortos tragicamente em sua infância.

Com os fantasmas dos pais (ou seriam eles reflexos de sua imaginação?), vividos lindamente por Claire Foy e Jamie Bell, Adam retoma o fluxo de descobertas, autoconhecimento e perdão pendente desde a pré-adolescência. A interação vista aqui entre os atores e seus personagens, pai, mãe e filho, é uma coisa linda, que instiga lágrimas sinceras do público. E sugere que certas situações não resolvidas na infância permanecem desamarradas na vida adulta.

O nível de atuação excelente que Andrew Scott desenvolve com Claire Foy e Jamie Bell alcança o sublime quando Paul Mescal entra no jogo. A química entre eles ultrapassa aquela necessária para o jogo sexual. Diante das câmeras, os atores desenvolveram um tipo de intimidade emocional tão terno que nos permite ver as camadas das vulnerabilidades - e conquistas pessoais - de seus personagens