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Osmar Marrom Martins
Publicado em 2 de junho de 2018 às 09:35
- Atualizado há 2 anos
"Menina diga onde é que tu estava onde é que tu estava/onde é que estava tu/passei a noite procurando tu/procurando tu". Com certeza se você gosta de São João já ouviu muito essa música ou pelo menos escutou seus pais cantarolando. Era o chamado forró malícia cantado pelos baianos do trio Nordestino que tinha como vocalista Lindu, considerado o maior de todos.>
Lá pelos anos 1970, 1980 e 1990, nos tempos em que as festas juninas tinham como trilha sonora xotes, xaxados e baião, ou um bom arrastapé (hoje se toca arrocha, sertanejo, pagode menos forró) era comum ouvir, assim que acabasse o Carnaval, as emissoras de rádio tocarem os clássicos Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês e sua Gente, Genival Lacerda, Trio Nordestino entre outros.>
Velho Sapeca Que beleza, que legal, tá nascendo cabelo na cabeça do meu pai, que beleza, que legal (Zé Duarte) Mas como tudo na vida, o forró foi deixando de ser ingênuo (só falar de amores perdidos e saudades, entre outros sentimentos nobres) para entrar na "malícia". Inicialmente além da clássica Procurando tu, tinha Genival Lacerda com "Ele está de olho é na butique dela" (Severina Xique Xique) ou "Ela deu o rádio". Marinês bradava que era "pequenininha mas só gosta de tudo grande" numa referência à sua cidade natal Campina Grande, na Paraiba. O baiano Virgilio dizia ter tomado "uma surra de cacete".>
Com milho cru Bote cravo, canela, manteiga e banha E uma gostosa pamonha só se faz com milho cru Com milho cru (Zé Nilton) Talco no Salão Com a chegada de uma nova geração de forrozeiros como Sandro Becker, Zé Nilton, Zé Duarte o forró começou a ficar mais picante. Época em que Sandro Becker, hoje dono de uma casa de comidas tipicas e shows de forró em Natal (Casa do Matuto) reinou absoluto. Quem não lembra de "Tico mia na sala, tico mia na cama" ou de "Aracaju, Aracaju/ toma banho de mar no norte depois vai tomar no sul"? Não tinha para ninguém. "Nós que faziamos o forró de duplo sentido ou forró malicia, usávamos da picardia, da cacofonia, pois era tempo da ditadura e e havia muita censura", revela Sandro Bechker em conversa com a reportagem do CORREIO.>
Briga no Casamento Não fure Quinho não, Que Quinho é gente boa e não gosta de confusão (Sandro Becker) Com 40 discos gravados mais de 50 sucessos como Gatinho Angorá (Selma) Bria no Casamento (Não fure Quinho não) Julieta ta tá (primeiro forró popular a invadir as rádios do eixo Rio São Paulo), Sandro hoje canta outro tipo de forró. E explica: "Todo artista inteligente tem que se reciclar; tem que ouvir e fazer coisas novas". Nessa pegada apareceu a sergipana Clemilda, uma senhora com jeito malicioso cantando "Talco no Salão/ pro forró ficar gostoso e ter mais animação". Se Sandro e Clemida eram considerados picantes demais, o caldo engrossou quando entraram em cena Zé Nilton e Zé Duarte.>
É de Zé Nilton sucessos como "Com milho cru" (uma boa pamonha só se faz com milho cru) e a hoje impensável Bota no toco: "Bota no toco deixa amarrado/ eu só gosto de mulher e eu não gosto de... (Na gravação aparece a voz digamos no popular de umma bicha ou viado) respondendo toda vez que ele cantava o refrão: "Voce não faz meu estilo" ou "Fechei o comércio". Zé Duarte não ficou atrás com "Tá nascendo cabelo na cabeça do meu pai". Ou Negão dos Oito Baixos com "Xoxó tá tão bonita".Essa música é o reflexo de uma época em que era muito comum usar preconceito para fazer entretenimento popular, diz Marcelo Cerqueira sobre a música Bota no Toco Sem espaço pra forró de duplo sentido Apesar de não ter mais o mesmo espaço nas festas como antigamente o chamado forró malicia ou de duplo sentido em tempos atuais seria inviável. Como bem falou Marcelo Cerqueira, presidente do GGB (Grupo Gay da Bahia) referindo se à música de Zé Nilton, Bota no Toco: "Essa música é o reflexo de uma época que era muito comum usar preconceito para fazer entretenimento popular. O forrozeiro é um debochado, ou mesmo um brocha que para afirmar sua masculinidade oprime outra sexualidade, humilha, tortura, desqualifica". Indignado ele arremata: "As expressões 'bota no toco' e 'deixa amarrado' são reveladoras de uma maldade tão profunda que dói na alma". Há quem tenha saudade desse tempo. Respeito a diversidade. Luiz Gonzaga e Trio Nordestino, por exemplo, gravaram canções nessa linha, que não são pejorativos, diz Del FelizQualidade Defensor de um forró mais romântico, o cantor Del Feliz reconhece que as músicas de duplo sentido ocuparam grande espaço na mídia e geraram fama de muitos artistas durante um longo período. "Há quem tenha saudade desse tempo. Respeito a diversidade. Luiz Gonzaga e Trio Nordestino por exemplo, gravaram canções nessa linha, que não são pejorativos. Tinham um humor e alguma ingenuidade", completa o artista.>
Umbu Azedo Tem umbu rachado, tem umbu maduro nunca tinha visto umbu ser tão azedo (Manhoso)>
As mais mais>
Bota no Toco Zé Nilton>
Briga no Casamento Sandro Becker>
Velho Sapeca Zé Duarte>
Talco no Salão Clemilda>
Com milho cru Zé Nilton>
Viagem da Carmelita Sandro Becker>
Xo Xó tá tão bonita Negão dos Oito Baixos>
Umbu Azedo Manhoso>
Só capim canela Manhoso>
Julieta Tá Sandro Becker>
Tico-Tico Sandro Becker>
Todo Mundo Lá Tem Culpa Zé Nilton>
Surra de Cacete Virgilio>
Ta nascendo cabelo na cabeça do meu pai Zé Duarte>