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Luiza Gonçalves
Publicado em 1 de julho de 2025 às 08:00
Se em suas cores, elementos e sonoridades a feira inspira e invade a arte, a recíproca também pode ser verdadeira. Provocando feirantes-artistas e levando interpretação e canção para esse espaço ancestral, o projeto Vozes da Feira propõe oficinas de música e teatro na Feira de São Joaquim, que serão realizadas de 4 de julho a 22 de agosto. A ação é idealizada pela Wilson Sons e será conduzida pelos atores Jorge Washington e Luciana Souza, além do cantor Dão Black. >
“A Feira de São Joaquim é um espaço emblemático de Salvador, um lugar que guarda histórias, memórias e saberes fundamentais para a cultura e o desenvolvimento socioeconômico da cidade. A partir do diálogo com os próprios feirantes, entendemos que a arte seria uma ferramenta potente de escuta, expressão e pertencimento. Assim surgiu essa iniciativa, que utiliza o teatro e a música como caminhos de valorização e visibilidade para as pessoas que fazem a feira acontecer todos os dias”, defende Adriana Medeiros, supervisora de Marketing do Tecon Salvador, unidade de negócios da Wilson Sons.>
Medeiros explica que o Vozes da Feira nasce do projeto social da Wilson Sons, que busca atrelar transformação social ao fortalecimento dos vínculos com os territórios do entorno portuário, gerando impacto social positivo e duradouro nos locais onde está inserida. “A Feira de São Joaquim representa um patrimônio vivo da cidade, e iniciativas como o Vozes da Feira são caminhos para reconhecer e fortalecer essa riqueza. A arte é uma ferramenta de transformação: ela inspira, promove autoestima e abre horizontes”, pontua.>
O otimismo de Adriana com a realização do projeto é partilhado por Nilton Ávila, presidente do Sindicato dos Feirantes. “A gente recebe com muita surpresa, mas também com muita alegria um projeto dessa magnitude cultural na feira. Estamos ansiosos para ver começar”, partilha. Ávila destaca o potencial cultural rico e espontâneo da feira, “um celeiro cultural a céu aberto”, diz, e prospecta os diferentes rumos que isso pode tomar após a oficina, tanto para fora das barracas como internamente, somando-se a outras ações artísticas que já acontecem no espaço. “Espero que dê tudo certo, que a gente consiga levar isso à frente, porque é um projeto muito bom para a Feira de São Joaquim, para os companheiros, e pode ativar ainda mais esse olhar de pertencimento”, finaliza.>
Oficinas>
Atrelando formação técnica a espaços de escuta e valorização das vivências pessoais, as oficinas serão destinadas exclusivamente aos feirantes e seus ajudantes, às quartas e sextas-feiras, no Píer. A aula inaugural do projeto Vozes da Feira será aberta ao público, no Píer da Feira de São Joaquim, no dia 4 de julho, às 16h. Após as aulas, em agosto e setembro, os alunos e alunas farão Mostras Artísticas resultantes das oficinas, em apresentações também abertas, em São Joaquim. A primeira será no dia 25 de agosto — Dia do Feirante.>
Responsável pela oficina de teatro juntamente com Jorge Washington, Luciana Souza pretende dar continuidade à sua visão artística do teatro nos palcos e no ensino como ferramenta de auto fortalecimento, enfrentamento e transformação. “A oficina de teatro e música Vozes da Feira, destinada a trabalhadoras e trabalhadores da Feira de São Joaquim, maiores de 18 anos, que, em sua maioria, estão na informalidade, são de classes menos favorecidas, afrodescendentes e que desempenham funções relevantes para o trabalho e desenvolvimento econômico da cidade de Salvador, reúne especificidades que interessam a um fazer teatral que desperte sobre a própria cidadania, sobre direitos e deveres, sobre o espaço da própria Feira, que tem uma importância cultural, histórica e econômica para a cidade”, defende.>
Souza explica que, durante as semanas de oficinas, serão elaboradas cenas que darão forma a um espetáculo itinerante, que será apresentado nos diversos espaços da feira e terá como público outros/as feirantes e frequentadores. “Eu considero essa uma oportunidade muito rica pra nós, que vamos conduzir a oficina, como para os participantes, e eu desejo que a gente possa criar uma relação onde as pessoas possam se sentir estimuladas à criatividade, ainda que seja no seu próprio local de trabalho, mas que elas possam ter momentos para sonhar, criar, improvisar, brincar, trocar, experimentar outros papéis e despertar para outras possibilidades que a vida oferece”, compartilha a atriz.>
Para o cantor e compositor Dão Black, que chefiará a parte musical do projeto, a feira é um território fértil de expressões artísticas e saberes populares que precisam ser valorizados. Ele enxerga nos feirantes não apenas vendedores, mas artistas natos, com ritmos próprios, histórias marcadas por sonhos e um domínio intuitivo da voz e do corpo. “A música transforma tudo, transformou minha vida em algo muito melhor”, afirma. Por isso, além do trabalho vocal e rítmico, Dão propõe mergulhar nos desejos mais íntimos desses trabalhadores — como o de ver um filho se formar, mudar de vida e romper ciclos. Para ele, o espetáculo é uma chance de abrir caminhos e despertar novas possibilidades de existência por meio da arte. “A feira já é um palco. O Vozes da Feira só vai revelar a potência que já está lá, viva, esperando ser escutada.”>