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Roberto Midlej
Publicado em 7 de julho de 2023 às 06:00
Zé Celso Martinez Corrêa teve vários momentos importantes na Bahia, onde esteve algumas vezes com seus espetáculos celebrações, sendo a última delas em 2016, quando trouxe o projeto Dionisíacas, com quatro partes, e encenado em uma tenda montada no campus da Ufba. >
Aqui também tinha muitos amigos e parceiros e recebeu um título que adorava: “Eu tive a honra, de Mãe Stella da Bahia me conceder a honraria de ser um Exu senhor das artes cênicas. Eu me orgulho desse título”, disse, referindo-se à ialorixá Mãe Stela de Oxóssi (1925-2018).>
Outro título ficou pendente. A Ufba aprovou, em 13 de junho do ano passado, o nome do paulista para receber o título de Doutor Honoris Causa. “O contexto de guerras culturais que vivemos no Brasil faz-nos pensar na importância de uma das figuras individuais mais influentes em toda a história do teatro brasileiro”, justifica a universidade.>
Os artistas baianos manifestaram-se sobre a morte do diretor Zé Celso Martinez Corrêa. Um dos depoimentos mais contundentes foi o de Caetano Veloso, que tinha identificação estética com o dramaturgo principalmente por causa do Tropicalismo, dos quais os dois foram representantes. >
Nas redes sociais, o compositor registrou o impacto que a peça O Rei da Vela, dirigida por Zé Celso, lhe causou, em 1967, logo após Caetano gravar o álbum Tropicália: "A revelação de Oswald [de Andrade, autor do texto], os cenários de Eichbauer, o Brasil nu e fantasiado, as pessoas sobre o palco atuando como nunca se fizera". A capa dp disco Estrangeiro, lançado por Caetano em 1989, traz um ilustração usada no cenário da peça, criado por Hélio Eichbauer (1941-2018).>
Caetano Veloso
Outro tropicalista baiano, Gilberto Gil, publicou uma foto ao lado de Zé Celso e escreveu: "Zé Celso marcou a história do Brasil e seu legado será eterno! Nossos sentimentos a familiares, amigos e admiradores". Daniela Mercury também se manifestou: "Receba o amor, o beijo e toda a admiração e gratidão pela sua arte transformadora. Você sempre transbordou, iluminou, libertou os corpos e mentes e gritou por nós contra todo tipo de opressão. Você era o próprio teatro, a própria arte". No final do ano passado, a cantora lançou a canção Macunaíma, composta por ela em parceria com Zé Celso e Fernando de Carvalho.>
O diretor baiano Márcio Meirelles disse que "Zé revolucionou o mundo, revolucionando o teatro". Márcio lembrou do período em que o colega esteve na Bahia em 1972 para apresentar a trilogia formada por Os Pequenos Burgueses, O Rei da Vela e Galileu Galilei: "Implodiu minha cabeça e meu coração. Era o teatro que precisava conhecer e, a partir daí, comecei a fazer". Márcio revelou que conheceu o colega paulista e lhe falou sobre o desejo de montar a peça A Tempestade, de Shakespeare. "Ele me convidou para compartilharmos a direção. Não aconteceu. Fiz a minha e ele continuou. E continuamos, cada um na sua tempestade".>
Fernando Guerreiro, diretor de teatro e presidente da Fundação Gregório de Mattos disse que "o teatro brasileiro brasileiro pode ser dividido em antes e depois de Zé Celso">
Fernando Guerreiro
Diretor de teatro e presidente da Fundação Gregório de MattosLuiz Marfuz, dramaturgo também da Bahia, se manifestou nas redes: "Vai, Zé Celso Martinez Correa. Vai (re)encantar outros mundo. Pobres ficamos sem a sua presença, ricos seremos com o seu legado. Obrigado por deixar nosso mundo melhor, nossa vida: menos careta e respirável; nossa arte: indevasssável e infinita".>
O crítico de teatro Marcos Uzel falou sobre a passagem de Zé Celso por Salvador em 1997: "Lembro das quatro horas de duração do espetáculo Bacantes, no Solar do Unhão, em 1997, com uma multidão baiana em comunhão com aquela luxúria teatral, aquele verdadeiro ato de epifania cênica". Ele citou também a homenagem que o Prêmio Braskem de Teatro (na época, chamado de Prêmio Copene) do ano 2000: "Ele fez do palco do TCA uma festa de largo. Dançou ao som percussivo do Ilê Aiyê, derramou vinho na estatueta, jogou-se no chão... Fez um carnaval".>
Marcos também destaca a exibição de Os Sertões em 2007: "Lembro de ter ido ao Museu Du Ritmo assistir ao mega épico Os Sertões, a saga tragicômica e orgiástica desse ícone do teatro brasileiro, então no alto dos seus 70 anos! Não se pode falar da história da modernidade cultural no Brasil sem citar Ze Celso".>