Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Do barro ao asfalto: conheça a sensação no motocross e no kart nordestino

Aos oito anos, Nicolle Campos já desponta dos adversários e chama atenção pela versatilidade nas pistas; a atleta quer chegar longe

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Harfush
  • Vinicius Harfush

Publicado em 12 de agosto de 2023 às 05:00

Nicolle Campos tem apenas oito anos e compete no kart e no motocross
Nicolle Campos tem apenas oito anos e compete no kart e no motocross Crédito: Reprodução/Instagram

Trocar o tempo de tela no Tik Tok pela prática de algum esporte é o sonho de todos os pais da nova geração. Tornou-se comum vermos crianças e adolescentes que perdem parte do tempo de diversão memorizando coreografias ou curtindo a trend mais nova do momento nas redes sociais. Mas no caso de Felipe Campos, 32, a escolha da filha Nicolle Campos, de apenas 8 anos, surpreendeu o pai por ter acontecido justamente o inverso. A pequena deixou de lado as telas e investiu o tempo de suas brincadeiras nas pistas de velocidade, com curvas e ultrapassagens que dão mais adrenalina que qualquer novo desafio proposto no Tik Tok.

E o mais especial: escolheu justamente o esporte que o pai praticava. E foi assim “do nada”, como descreve o pai, que a garota nascida em João Pessoa, na Paraíba, se tornou um dos grandes prodígios do automobilismo no nordeste, com potencial para surpreender todos Brasil afora. E se a história já parece curiosa, aqui vai mais um elemento surpreendente. A paixão de Nicolle pelas pistas não se resume ao kart, ela ainda compete e se destaca em campeonatos de motocross disputados em seu estado, Paraíba, e nos vizinhos nordestinos.

Isso já lhe rendeu um bom reconhecimento na região desde que começou a competir, no segundo semestre de 2021. Isso porque o rostinho de criança esconde uma menina corajosa e talentosa, que já acumula prêmios em campeonatos estaduais como o título paraibano, alagoano, além do primeiro lugar na Arena Nordeste 2022. Tudo isso na categoria com motocicletas de 50 cilindradas.

“Ela começou pilotando motocross. Gostou porque eu andava e levava ela nos meus treinos. Via alguns meninos correndo e bateu a vontade nela. Então eu comprei uma moto para ela. O detalhe é que ela nem sabia andar de bicicleta sem rodinha e já queria o motocross”, explica Felipe.

Neste fim de semana, Nicolle compete uma das etapas do Campeonato Baiano de Kart, que acontecerá no kartódromo Ayrton Senna, em Lauro de Freitas. Apesar de correr em solo baiano, ela não estará na disputa geral pelo troféu estadual, já que sua programação envolve apenas esta etapa do baiano.

Isso porque ela não quer passar por um período de calendário esvaziado e tem tentado se manter em forma nas pistas. Já a moto só é utilizada em competições, sem grandes períodos de treino, e, após a vinda para Salvador, a atleta irá competir no motocross em Aracaju.

A garota lembra bem do acordo que fez com o pai para começar a andar nas pistas de moto. “Eu queria muito andar de moto, mas meu pai achava perigoso porque não sabia nada de bicicleta. Então ele disse ‘se você aprender a andar de bicicleta eu compro a moto para você’. No mesmo dia eu aprendi, fui me soltando sozinha na pista, e ele comprou pra mim”, completa a pequena, que é a única menina nas categorias de kart e moto que atua.

E é claro que não poderia faltar uma referência feminina. Nicolle não esconde de ninguém quem é sua maior inspiração: a piloto Bia Figueiredo. A brasileira já brilhou nas pistas da Fórmula Indy, Stock Car Brasil e hoje pilota na Fórmula Truck. E como toda atleta aplicada no automobilismo, a imagem de Ayrton Senna segue sendo referência. Mesmo o ídolo brasileiro tendo morrido quase 20 anos antes do nascimento de Nicolle, ela afirma que sempre ouviu falar sobre ele e hoje tem o sonho de correr na Fórmula 1.

Nicole e seu pai, Felipe
Nicole e seu pai, Felipe Crédito: Reprodução/Redes Sociais

Começo no kart

A passagem pro kart aconteceu poucos meses depois. Felipe lembra que a levou ao Instituto Chico Neto Racing, que hoje não funciona mais, para experimentar a pequena piloto dentro de kart. O efeito foi imediato e o próprio professor e instrutor do Chico Neto, José Erivan da Silva, 52, afirmou que ela estava avançada demais para os padrões dela.

“Ela é assim por conta da dedicação que tem no esporte. Nas primeiras voltas já percebi que tinha que liberar a potência máxima do kart dela, sabia que iria se adequar. Acho ela muito superior à idade dela. Ela tem apenas 8 anos e era para estar em uma categoria mais baixa”, revelou Erivan, mais conhecido carinhosamente como Tio Erivan por Nicolle.

Já nas disputas do kart, categoria que se tornou a principal na vida de Nicolle, a menina também acumula troféu estadual, como o pernambucano no último ano, um vice no paraibano e mais uma competição regional do nordeste. Os troféus foram levantados já na categoria cadete, que vai até os 10 anos de idade e envolve meninos e meninas.

Vida de atleta

No seu Instagram, que soma pouco mais de 20 mil seguidores, Nicolle compartilha sua rotina de treinos nas duas categorias, competições e, de quebra, ainda sobra tempo para postar vídeos andando de skate e praticando outros esportes. Pois é, você não leu errado. Nicolle compete no kart, motocross, anda de skate e ainda faz ginástica e natação no dia a dia. E ao questionar se essa rotina intensa de esportes vale a pena, já dá para imaginar a resposta.

“Eu fico mais cansada nos dias que tenho ginástica e ainda ando de skate, porque a professora da ginástica pega pesado. Mas eu amo tudo. A minha diversão é andar de kart, mas eu levo a sério. Gosto de fazer todas essas coisas legais juntas”, lembrou Nicolle.

E se alguém ousar dizer que não sobra tempo para estudar, basta pegar as notas da aluna aplicada: “minhas notas são ótimas, meus pais não ficam no meu pé, graças a Deus. Minhas únicas notas baixas que eu já tirei até hoje foram um 8 em matemática e outro em poriguês. Mas o resto é tudo 9 ou 10”, completou.

Como foi citado no começo do texto, não há uma motivação clara para que a filha de Felipe tenha passado por essa transformação de interesses, principalmente após um contato grande com telas através das redes sociais durante o período de maior restrição na pandemia. Mesmo assim, o pai vê na filha uma personalidade persistente, que vai atrás do que quer quando tem um objetivo. Como ele mesmo define, uma das principais qualidades da filha é a “determinação”.

Outro “combustível” que move a jovem atleta parte justamente dos competidores de pista, seja no kart ou na moto. “De vez em quando ela se depara com um menino que não quer perder para uma menina. Ouço outros pais dizendo: ‘vai perder para ela?’. E ela nem liga. Se escutar aí que ela vai querer forçar para fazer melhor ainda, não se deixa abater por essas coisas. E ela também acaba sendo um combustível para os meninos, que às vezes estão correndo devagar e sem vontade, e quando ela chega todo mundo acelera porque não querem perder para ela. Mas ela não baixa a cabeça”, afirma Felipe.

"Eu nem ligo na maioria das vezes. Mas se falam algo eu também tenho que responder e falar de volta. Para eles verem que não sou fraca e nem me deixo abalar "

Nicolle Campos

sobre as corridas no kart

Em busca de melhores condições

Do começo dessa jornada até hoje, dois anos para cá, Felipe e Nicolle, muitas das vezes acompanhados por Tio Erivan, têm dirigido centenas e centenas de quilômetros ao redor do Nordeste para chegar até essas competições. Para vir a Salvador, por exemplo, forram mais de 20h seguidas na estrada. Sem patrocinadores, Felipe ressalta que a ideia é não deixar a filha sem disputar competições e que o foco está em 2024.

“Nesse ano ela ainda está na categoria mirim do kart, mas já está na cadete. Então a ideia é chegar até o ano que vem competindo bem, conhecendo novas pistas e adversários, e correr forte a partir de 2024. Porque ela ainda tem mais dois anos nessa categoria”, iniciou.

“O mais importante seria ter um patrocinador. Temos algumas pessoas que dão apoio ou suporte, mas o automobilismo requer muito investimento. A gente pensa ‘vamos para a corrida X’ para que possam ver ela e ter, quem sabe, um futuro patrocinador. Mas envolve muitos gastos. Enquanto não aparece não posso reclamar muito porque existe gente que nos ajuda, seja com inscrição ou com os pneus”.

Olhando para frente, Nicolle já tem um objetivo, seguir conquistando seu espaço num esporte tão masculinizado, acumular troféus e tornar o seu nome conhecido em todo o Brasil, quebrando as barreiras regionais e, quem sabe, recebendo um grande incentivo para chegar ainda mais longe nas pistas.