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A detecção precoce de possíveis alterações pode reduzir os impactos negativos à qualidade de vida dos pequenos
Portal Edicase
Publicado em 12 de agosto de 2024 às 16:36
O bom funcionamento do ouvido, da garganta e do nariz é essencial para o desenvolvimento infantil saudável. Quando a fala, a audição, o sono ou a respiração não vão bem, a compreensão, o rendimento escolar, a expressão da linguagem e o desempenho social da criança ficam prejudicados, assim como a sua evolução física.
Nesse sentido, a detecção precoce de possíveis alterações pode reduzir os impactos negativos à qualidade de vida da criança. Por isso, o Dr. Rodrigo Pereira, presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe) e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), elenca os principais sinais de alerta de que os pequenos precisam de uma avaliação especializada de um otorrinolaringologista. Confira!
As primeiras palavras com sentido, geralmente, se iniciam por volta do primeiro aniversário, e a demora nesta etapa pode ser um indicador de problemas na audição. O atraso de linguagem também é um sinal de alerta para investigar o autismo , mas é fundamental termos a certeza que a criança ouve bem.
“A dificuldade de associar palavras ou fazer trocas de letras na hora de pronunciá-las também podem ser demonstrativos do problema, que se não identificado e tratado, pode gerar uma barreira para o desenvolvimento integral nas fases iniciais da infância”, explica o Dr. Rodrigo Pereira.
O comportamento de falar alto, aumentar o volume de aparelhos sonoros, não localizar adequadamente de onde os sons estão vindo – não olhar para de onde vem algum ruído novo no ambiente e/ou não reagir ao ser chamado pelo nome –, podem representar que há dificuldade auditiva.
O problema pode estar ligado às questões simples, como o acúmulo de cera no ouvido, ou a casos mais sérios devido a questões genéticas ou por otites – inflamações do ouvido –, às vezes se manifestando apenas como uma secreção indolor e residual no ouvido ou como infecções bacterianas dolorosas, podendo inclusive ocasionar febre . “As otites são comuns em crianças e, mesmo após o tratamento com antibiótico, elas podem permanecer com algum comprometimento na audição, por isso o cuidado é redobrado. A criança que não escuta adequadamente ficará com o desenvolvimento da fala e da linguagem prejudicados. Uma avaliação do ouvido é sempre importante”, destaca o Dr. Rodrigo Pereira.
Rouquidão por mais de duas semanas e dores de garganta recorrentes indicam uma necessidade de avaliação com otorrinolaringologista, pois podem não ser apenas decorrentes de infecções nas vias aéreas superiores, como resfriados , sinusite e infecção na garganta. Em casos mais raros, os sintomas se mostram reflexo de alterações anatômicas da laringe desenvolvidas de forma congênita ou de problemas neurológicos.
A criança que respira só pela boca ou tem dificuldades de fazer esse processo pelo nariz pode estar enfrentando um quadro de rinite alérgica. Esta se trata de uma inflamação no revestimento interno das narinas, capaz de provocar também coceira no nariz, espirros e coriza. Por outro lado, esse sintoma também pode ser causado por quadros mais complexos que podem necessitar de cirurgia, como hipertrofia (crescimento demasiado) das amígdalas e/ou adenoide.
A respiração bucal, quando não identificada e tratada ainda na infância, também costuma provocar muitos problemas, como deformidades na face ao longo do tempo, problemas odontológicos, sono ruim e aumento de infecções no organismo.
“O nariz filtra o ar direcionado para os pulmões e o mau hábito de respirar pela boca elimina essa etapa de limpeza, além de não aquecer e umidificar o ar respirado de forma adequada – irritando toda a via aérea e prejudicando as trocas gasosas. Como o organismo da criança é mais vulnerável, pois está em formação, essa prática aumenta ainda mais as chances de ela desenvolver viroses e outras doenças”, afirma o Dr. Rodrigo Pereira.
Dormir mal, roncar ou ter paradas na respiração, as chamadas apneias, apontam algum distúrbio do sono.“Muitas vezes identificamos como causa desse problema o aumento das amígdalas ou das adenoides, conhecidas popularmente como carne esponjosa. Esse quadro pode prejudicar a passagem do ar, levando à obstrução nasal , respiração incorreta e roncos, impactando o sono, que é essencial para o desenvolvimento cognitivo da criança”, completa o médico.
O Dr. Rodrigo Pereira destaca que a atenção e o conhecimento dos pais e responsáveis sobre esses sinais são primordiais para detectar precocemente qualquer problema de audição, respiração, sono e fala na infância. Ao identificar as alterações, a criança deve ser direcionada a uma avaliação especializada com otorrinolaringologista.
“O médico fará uma investigação clínica, testes no consultório e exames especializados com equipamentos no consultório ou encaminhará para centros de diagnóstico por imagem. Isso varia conforme o problema. Quanto antes houver o diagnóstico, menores são as chances de complicações e comprometimentos no desenvolvimento da criança”, explica o presidente da ABOPe.
O tratamento varia conforme o problema.No caso da rinite alérgica, além do controle ambiental para evitar o contato com fatores alergênicos, o uso de medicação adequada à faixa etária pode ser prescrita. Já as crianças com adenoides e amígdalas aumentadas geralmente têm como recomendação médica a cirurgia de retirada dessas estruturas. Para problemas de audição, os tratamentos podem ser à base de medicamentos, pequenos procedimentos, reabilitação com aparelhos auditivos e/ou mesmo uma cirurgia para implante coclear. No caso do atraso de linguagem, o trabalho terapêutico costuma envolver uma equipe multidisciplinar, reunindo não só o otorrinolaringologista, mas também psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, entre outros especialistas, para que o processo de reabilitação seja eficiente.
“A consulta com o otorrinolaringologista deve acontecer pelo menos uma vez ao ano para acompanhar o desenvolvimento da criança de maneira integral. Essa abordagem permite identificar complicações potenciais, que, se tratadas desde o início, podem ser superadas e contribuir para a experiência de vida e saúde geral da criança”, finaliza o Dr. Rodrigo Pereira.
Por Cidiana Pellegrin