Com histórias de bastidores, Dadi Carvalho celebra sua longa carreira

Com tanta história pra contar, já era hora do carioca Dadi, aos 62 anos, revirar suas memórias e revelar suas lembranças em um livro

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  • Roberto Midlej

Publicado em 1 de fevereiro de 2015 às 11:20

- Atualizado há um ano

No comecinho dos anos 70, Dadi tinha 19 anos de idade e havia passado mais uma tarde tocando instrumentos com o amigo Louie, perto do Arpoador, no Rio de Janeiro. Foi dar uma volta na praia, sem pretensões, mas, poucos minutos depois, teve um encontro decisivo que o transformaria, em breve, em um participante de alguns dos momentos mais importantes da música brasileira nas últimas décadas.Naquele dia, Dadi conheceu Baby Consuelo, que o levou a um teste para ser baixista dos Novos Baianos. Foi aprovado por Moraes Moreira e sua trupe, entrou para a banda e, quando saiu dela, continuou fazendo história: fundou a revolucionária A Cor do Som, além de ter tocado com Jorge Ben Jor, Caetano Veloso, Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Tribalistas... E chegou até a gravar uma música com Mick Jagger, num desses verões cariocas dos anos 70.Para Dadi, livro é um registro dos caminhos pelos quais a música o conduziu (Foto: Pedro Loes/divulgação)Memórias Com tanta história pra contar, já era hora do carioca Dadi, aos 62 anos, revirar suas memórias e revelar suas lembranças em um livro. Dadi - Meu Caminho é Chão e Céu (Record/R$ 30/ 176 págs.) não é, segundo o próprio autor, uma biografia, mas um registro da sua relação com a música e os caminhos pelo qual a arte o levou.E, sem a pretensão de ser uma autobiografia, o livro se torna um grande deleite para os interessados na história dos bastidores da música brasileira. Afinal, poucos músicos brasileiros acompanharam tão de perto quanto Dadi alguns dos maiores nomes da MPB. E raros privilegiados participaram das gravações de alguns dos mais importantes discos brasileiros, como África Brasil (1976), de Jorge Ben Jor, e Acabou Chorare (1972), dos Novos Baianos.Filho de um funcionário público muito interessado em música popular e de uma amante da música erudita, Dadi ouvia de tudo em casa. Mas um disco especialmente provocou nele o desejo de ser músico: Samba Esquema Novo, o primeiro de Jorge Ben Jor, lançado em 1963.“Eu tinha uns 11 anos de idade e ouvia esse disco o dia inteiro. Eu adorava Mais Que Nada, Chove Chuva, Por Causa de Você...”, lembra-se. O que ele não imaginava naquela época é que um dia iria tocar na banda de seu primeiro ídolo, logo após deixar os Novos Baianos.Capadócia Dadi diz que tem tanto orgulho de ter tocado com Ben Jor que gostaria de mandar fazer um camisa com a frase: “Eu sou o baixista da gravação original de Jorge da Capadócia”, referindo-se a uma das faixas do álbum Solta o Pavão (1975). Foi só quando começou a tocar com o autor de Chove Chuva que o baixista deixou para trás os perrengues financeiros dos tempos dos Novos Baianos, onde passou quase quatro anos.Mas, mesmo com todos os problemas, Dadi tem divertidas lembranças dos tempos em que viveu com Pepeu, Moraes, Baby, Paulinho Boca de Cantor... “O clima era maravilhoso e vivíamos todos em um mesmo apartamento em que os ambientes eram separados por panos pendurados”, lembra-se.Quem bem conhecia o estilo ‘novo baiano’ de  viver era João Gilberto e uma história que está no livro mostra bem como ele, apesar de adorar os amigos hippies, não tinha muita sintonia com o modo de viver deles. Uma vez, já na década de 80, Dadi estava na casa de Caetano Veloso e Paula Lavigne e os três esperavam por João Gilberto, que se preparava para chegar lá. De repente, João decidiu não aparecer mais, sem maiores justificativas.Leãozinho Só depois, Dadi ficou sabendo o que havia provocado a desistência de João Gilberto. Quando soube que o baixista estava lá, ele disse a Caetano: “Olha, eu adoro o Dadinho. Mas depois vem Baby, Moraes, Pepeu, Galvão...”. Receoso, João Gilberto achou mais seguro desistir da visita.De Caetano, Dadi havia ganhado um presente anos antes, quando o compositor lhe homenageou com a canção O Leãozinho,  de 1977. “Assim como Caetano, eu sou leonino e a gente pensa muito parecido. Fiquei amarradão com essa homenagem dele”, diz o muso inspirador .A cor do som No dia em que ouviu O Leãozinho pela primeira vez, Dadi estava ensaiando com Armandinho, Gustavo e Mú (seu irmão) num estúdio da Phonogram. Juntos, eles tinham uma banda formada para acompanhar Moraes Moreira, que estava em carreira solo depois de sair dos Novos Baianos. Foi daquela banda que surgiu a nova empreitada musical de Dadi, com aqueles mesmos músicos: A Cor do Som, que misturava rock com ritmos regionais e ainda tinha influência da música erudita.A Cor do Som lançou seu primeiro disco somente com músicas instrumentais e recebeu elogios de todos os lados, até de críticos exigentes como José Ramos Tinhorão e de músicos de alto prestígio como Egberto Gismonti. Mas as vendas não correspondiam à qualidade da banda. Foi então que a gravadora, a WEA, pressionou o grupo a gravar músicas cantadas. De presente, Caetano ofereceu a canção Beleza Pura; de Gilberto Gil e Dominguinhos, Dadi e sua turma gravaram Abri a Porta. Logo, as duas canções estouraram nas rádios e o álbum Frutificar (1979) vendeu mais de 80 mil cópias contra as duas mil do disco de estreia.A banda acabou nos anos 80, mas às vezes volta a se reunir . “De vez em quando a gente se encontra aqui no Rio e já temos umas cinco músicas para um novo disco. Não sei quando será lançado, mas vai sair ”. Enquanto isso, segue na banda de mais uma estrela : Marisa Monte, com quem já toca há mais de 20 anos, desde o álbum Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão (1994).