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Lázaro Ramos discute racismo em Na Minha Pele, livro que lança hoje em Salvador

Escritor estabelece diálogo franco e sensível sobre ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação

  • D
  • Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2017 às 07:20

 - Atualizado há 2 anos

"Quero estar num lugar onde eu possa denunciar injustiçase  ao mesmo tempo ver onde estou sendo algoz"(Foto: Mauricio Fidalgo/TV Globo)Lázaro Ramos quer comunicar. Seja no ofício de ator, diretor, produtor ou escritor, o baiano de 38 anos acha mesmo que sua meta de vida é essa. “Eu aprendi a falar isso muito recentemente, porque [comunicar] sempre foi um processo natural. E eu ficava meio tímido de dizer que eu era um comunicador no início. Acho que tá na hora de tomar vergonha na cara”, brinca. É por isso, que Lázaro encara agora um novo desafio: o de lançar seu primeiro livro adulto - ele já é autor de outras três publicações infantis.Nas livrarias desde o início do mês, Na Minha Pele (Objetiva|142 páginas| R$ 35,90) já é o oitavo livro mais vendido do país em junho e será lançado oficialmente em Salvador hoje, às 15h, na Saraiva do Shopping Barra, com sessão de autógrafos e também um bate-papo com o autor (confira regras de participação ao final desta matéria). Pela manhã, o autor conversa com estudantes de duas escolas públicas da capital.Dividindo espaço com os muitos projetos em que Lázaro está envolvido, o livro é resultado de dez anos de maturação. E de 2007 para cá muita coisa mudou. Tanto no mundo, quanto no autor. “O desejo que eu tinha na época era o de fazer quase uma tese. Eu peguei muitos dados sobre a situação dos negros no Brasil e comecei a fazer um livro como se fosse um pesquisador, coisa que não sou. Sou um artista, um militante”, diferencia.Incomodado com o tom duro que a escrita assumiu, Lázaro diz que teve de estudar muito para conseguir chegar à espécie de conversa na qual o leitor é fisgado desde a primeira página. “A editora do meu livro falou que era para eu escrever como estava sentindo. E eu pensava que era impossível, porque era tudo muito disforme, às vezes tinha vontade de transitar entre formatos, escrever prosa, mas também uma peça de teatro. E num primeiro momento eu tinha vergonha, porque parecia ser uma coisa errada”, lembra.Foi preciso, então, se atentar como a comunicação com as pessoas, diariamente, acontecia. “O que está no livro é a forma como eu me comunico, essa é minha voz. Eu fiquei muito feliz com esse resultado e acho que o exercício é entender mesmo qual a nossa voz, porque muitas vezes a gente tenta se adaptar ao que já está estabelecido. O livro é a aceitação de quem eu sou”, resume.Movido pelo desejo de viver num mundo em que a pluralidade cultural, racial, étnica e social seja vista como um valor positivo, e não uma ameaça, Lázaro Ramos divide com o leitor suas reflexões sobre temas como ações afirmativas, gênero, família, empoderamento, afetividade e discriminação.Se engana quem pensa que o livro assume uma visão retrospectiva da vida, no sentido da grande história do homem Lázaro Ramos e dos projetos nos quais esteve envolvido.  “Sou uma exceção, e história de exceção só confirma a regra. Fazer mais um livro sobre o ponto de vista de uma exceção não ajuda em nada a questão da exclusão dos negros no Brasil”, escreve ainda nas primeiras páginas de Na Minha Pele, ao se questionar sobre como fazer um relato quase autobiográfico sem tornar o texto uma apologia a si mesmo e aos pares um pouco mais bem-sucedidos.Sobre o formato, ele defende: “É necessário abandonar uma certa cafonice, essa coisa de pregar que há uma maneira certa de se executar a arte. A arte é um dos campos profissionais em que se mais se preza a liberdade, o experimento. Ela fica mais rica quando se assume isso”.Epígrafe de Na Minha Pele surgiu durante conversa com Emicida para o programa Espelho. "Todos nós somos educados de uma maneira muito torta acerca do outro. O que a gente pode fazer é admitir que estamos em obras e ir corrigindo isso", disse o rapper. (Foto: Reprodução)Lázaro dedica Na Minha Pele aos filhos João Vicente, 6, e Maria Antônia, 2. “Venho escrevendo o livro há dez anos e é muito bom hoje ter meus filhos para dedicar. Acho que esse livro é uma carta ao futuro. Fala muito de passado, mas visando melhorias para quem está vindo aí”, pondera.Para a epígrafe, uma fala dita pelo rapper Emicida durante uma entrevista ao programa Espelho, conduzido por Lázaro Ramos há 12 anos no Canal Brasil. “Os nossos saberes estão sendo gerados a todo momento, independente da geração. Todas as conversas e situações que recupero no livro são saberes que às vezes não têm uma organização formal, mas que repercutem muito, de forma muito espontânea. Essa citação de Emicida foi uma fala, algo que ele disse daquele jeito uma única vez, que não vai ser dito da mesma maneira nunca”, comenta.Superconectado nas redes sociais, Lázaro define como uma “grata surpresa” a repercussão da publicação. “Eu sempre quis que esse livro conversasse com o maior número possível de pessoas. Eu queria que um jovem negro fosse acolhido nas suas questões acerca da identidade, e também nas suas possibilidades. Queria que um branco, que a priori não tivesse empatia pelo assunto racismo, se entregasse a ele. Só que eu tenha tido algumas surpresas também nesse processo”, conta, ao lembrar  que seu livro foi lido e recomendado por um gerente de uma grande empresa que ele nunca sonhara que se interessasse. ”E ainda tem as postagens com metade rosto! Faço questão de comentar cada uma, acho um gesto de aproximação muito bonito, uma generosidade gigante”, complementa.Superconectado nas redes sociais, Lázaro define como uma “grata surpresa” a repercussão da publicação. Público tem compartilhado fotos com capa do livro e metade do rosto (Foto: Reprodução/ Instagram)Ainda que não seja uma biografia, em Na Minha Pele, Lázaro narra episódios íntimos e também suas dúvidas, descobertas e conquistas. Ao rejeitar qualquer tipo de segregação ou radicalismo, ele fala da importância do diálogo.E é no lugar do diálogo, da conversa qualificada, que ele quer estar. “É mais fácil apontar o dedo pro outro, mas eu quero estar num lugar onde que possa denunciar injustiças e ao mesmo tempo ver onde estou sendo algoz”, deseja.Em tempos onde se exalta a possibilidade e o poder de fala de todo mundo, Lázaro também quer recuperar a escuta. “E eu não falo dos outros, falo de mim mesmo. O feminismo tem sido um assunto bastante discutido atualmente e esse é um tema que eu tenho acompanhado com muito interesse, sempre no lugar da escuta. Acho interessante ver esse esgarçamento das questões, gente defendendo com coragem determinados pontos de vista, gerando esse incômodo. De vez em quando há exageros, mas acho que podem sair coisas muito bacanas daí”, deseja.Convidado para a mesa de abertura da 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), ao lado da historiadora Lilia Moritz Schwarcz e do diretor Felipe Hirsch, Lázaro comemora a homenagem ao escritor Lima Barreto, que só teve sua literatura reconhecida postumamente, e o fato de a grade dar mais destaque a negros e mulheres. E alerta. “Comemoro, mas precisamos entender que existe muita qualidade na diversidade isso  deve ser celebrado todos os dias, em todos os setores, não só porque há hoje uma demanda social”, ressalta.

Leia mais trechos da conversa que ele teve com o CORREIO:

Esse não é o seu primeiro livro, mas é sua primeira obra literária voltada ao público adulto. São processos muito distintos de escrita?Quando eu escrevo, eu não sei para qual público estou escrevendo. Como não sou um autor profissional, não tenho obrigação de escrever um livro por ano, o que me conduz é o assunto. Quando chega no final é que eu digo se é para adolescente, para criança, para adulto. Para mim, o importante mesmo é ser fiel o assunto. O Na Minha Pele é um livro muito emocional, cria um processo de empatia forte. Muitos dos capítulos saíram depois de eu transcrever trechos que eu falava e gravava em voz alta para mim mesmo. E a grande dificuldade que eu tive a partir daí foi a pontuação. Dei alguns dos capítulos para uma amiga minha especialista em linguística ler e ela disse para soltar o texto, tinha muito vírgula, o que era a representação de uma voz presa. Essa fala disforme não segue as regras de pontuação. As vírgulas, os pontos parágrafos, não correspondiam exatamente o que queria dizer.

(Foto: Graça Paes/ Brazil News)Você diz que não queria fazer uma biografia, por ser a sua história uma história de exceção que só confirma a regra. Sabendo dessa sua trajetória bem-sucedida, como você se porta diante dos tantos outros que não tiveram as mesmas oportunidades?Acho que não me acomodando, tentando pensar meu lugar em cada uma das situações: quando meu papel é tornar visível ou quando meu papel é silenciar para que outra voz seja escutada. É um exercício diário, não tem muito regra. Às vezes a presença abre novos caminhos, e às vezes a função é ser um estímulo para que outras vozes seja escutada. Então, às vezes o lugar é de coadjuvante, você não é protagonista. Eu não tenho atuado somente, tenho sido produtor, diretor, incentivador e isso também é participar. No meu lugar de exceção, a maior contribuição que eu posso dar, é essa: entender que tem hora de fazer, tem hora de ser plateia, de ser parceiro e de ser incentivador.

Muitas das referências que estão no livro não estão registradas formalmente: foram conversas, viagens, coisas que você viu e ouviu. Mas quais obras lhe influenciaram nesses dez anos de escrita?Caramba, é muito difícil dizer! As influências não são das obras, são das pessoas. Vanda Machado, por exemplo, é o conjunto da pessoa, a forma dela escrever, mas também dela existir. O Muniz Sodré é por conta da forma de ver o mundo, tudo que está no livro foram coisas que ele me disse, nada está escrito. Tem muita gente do mundo da música, essa galera mais jovem, que eu chamo de Geração Tombamento: Liniker, Rico Dalasam, Emicida. A Chimamanda [Ngozi Adichie] não é exatamente ela, mas a palestra dela no TED que até hoje eu vejo. Tem a Ana Maria Gonçalves e seu Um Defeito de Cor, um livro fundamental que eu indico em todo lugar. 

Regras de participação no lançamento: Somente leitores que possuírem o livro poderão participar da tarde de autógrafos. A partir das 9h, serão distribuídas 400 senhas e casa pessoa terá direito a autografar um livro. Não serão permitidas fotos; haverá um fotógrafo oficial no evento que irá divulgar os registros no Facebook. Antes da sessão de autógrafos, Lázaro Ramos baterá papo com o público presente.