LITERATURA

Baiano que pensou o mundo: livro sobre Luiz Gama é lançado no Espaço Cultural da Barroquinha

Lançamento aconteceu em evento gratuito nesta sexta-feira (03) e contou com participação do cantor Mateus Aleluia

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Publicado em 3 de maio de 2024 às 23:30

Evento aconteceu no Espaço Cultural da Barroquinha
Evento aconteceu no Espaço Cultural da Barroquinha Crédito: Ana Albuquerque/CORREIO

A ruas de distância de onde, em 1830, nasceu o jurista Luiz Gama, aconteceu nesta sexta-feira (03) o evento "Uma História que a Bahia precisa ouvir", no Espaço Cultural da Barroquinha. O encontro marcou o lançamento do livro Luiz Gama Contra o Império – A Luta Pelo Direito no Brasil da Escravidão, do advogado e doutor em história do Direito Bruno Rodrigues de Lima.

O livro, que já foi lançado em Brasília e São Paulo, requalifica a importância do abolicionista Luiz Gama, que viveu entre os anos de 1830 e 1882, na história do Direito e proclamação da Lei Áurea. Em sua atuação como advogado, estima-se que Gama tenha libertado 750 pessoas escravizadas ou em discussão de liberdade.

No lançamento, que atingiu a lotação máxima do auditório, o autor dividiu o palco com o pensador, cantor e compositor Mateus Aleluia, que veio de Santo Amaro para participar do evento. O artista apresentou canções como “Homem! O animal que fala”, conectando com tópicos abordados no livro por Bruno.

Antes de tomar forma como livro, as ideias presentes na obra nasceram como a tese de doutorado de Bruno na Universidade de Frankfurt, na Alemanha, e vêm de pesquisas que ele faz do arquivo de Luiz Gama às quais se dedica desde os seus 14 anos. Ao longo dessas duas décadas, se debruçou sobre mais de mil textos.

Natural de São Paulo, ele fez contato com a obra de Luiz Gama quando atuava na luta em defesa do quilombo Brotas, em Itatiba, interior paulista. Na ocasião, um grupo de famílias que ocupavam a terra há mais de um século era ameaçada de despejo pela especulação imobiliária.

Em meio ao conflito territorial, a matriarca da comunidade, Maria Emília Gomes Barbosa, conhecida como Tia Lula, organizou um movimento de resistência e distribuiu algumas tarefas. A do então jovem estudante foi buscar nos arquivos públicos elementos que comprovassem a presença do quilombo naquele espaço, bem como registros da atuação do abolicionista Gama.

“São 21 anos pesquisando a história do Luiz Gama, sendo 13 deles profissionalmente. [Estudando] os arquivos da escravidão, recolhendo todos os indícios, vestígios e documentos que me levavam a ele, que eu já intui a ser o maior jurista do Brasil e a pesquisa acadêmica confirmou isso. Porque lendo suas centenas de escritos, petições, textos na imprensa, poesias e encontrando material novo, eu posso afirmar hoje que Luiz Gama é o maior jurista do Brasil, que é o argumento síntese do livro, e até mesmo do mundo moderno”, afirmou.

Hoje, Bruno define Gama como alguém que compreendeu as contradições da modernidade, as enfrentou e deu respostas a elas de uma maneira original. Segundo ele, o jurista é da Bahia, do Brasil e pensa o mundo. “Luís Gama tem um tamanho que não se reduz às fronteiras do país”, disse.

O autor explica que a conexão entre a sua obra e a de Mateus Aleluia se dá na encarnação da luta abolicionista tanto para Luiz Gama como na trajetória de Aleluia. Luta essa que é atualizada sempre e de maneiras distintas, defende ele: nas artes, nas religiões, no direito, nas ciências e em muitas áreas do conhecimento.

“Mateus Aleluia é um pensador do Brasil. Ele está preocupado em compreender as fundações do Brasil, a história do país e do Luiz Gama. A história do Gama está procurando leitores que queiram compreender o Brasil, e esses leitores podem estar no samba, no reggae, no direito ou na psiquiatria. Digo isso tão amplamente porque amplo é o pensamento do Luiz Gama. Ampla é a sua contribuição para compreensão do Brasil”.

Durante a apresentação, o artista convidado reafirmou a importância de celebrar o jurista baiano, assim como de reconhecer mais profundamente sua obra. “Quando conheci a obra de Bruno Rodrigues de Lima, pensei: ‘meu Deus, como eu ando enganando as pessoas dizendo que sou pesquisador’. Eu me vejo na necessidade de dizer para as pessoas, ‘por gentileza, procure conhecer Luiz, procure conhecer a trajetória desse meteoro’. Não podemos continuar assim dentro da nossa intelectualidade preguiçosa”, disse.

A proposta do livro atraiu pessoas como a psicóloga Gisela Lima, de 60 anos, que soube do lançamento através das redes sociais. Segurando a sua cópia, que garantiu logo ao chegar no espaço, ela contou que, mesmo que ainda não conheça o autor, sabe a importância de uma obra como essa. 

"Nos primórdios, a gente nem sabia que Luiz Gama era negro. E agora, além de saber disso, sabemos do peso histórico e do que ele representa em relação ao direito da população negra, do que ele defendia, do que ele entendia que era referência de liberdade também. Eu vim movida por isso e movida também pela minha profunda admiração pelo Mateus Aleluia. E quando eu entrei ali na fila e vi o livro, falei: 'eu preciso ter essa obra, eu preciso ter contato com essa história'", contou.