De chuveiro inteligente a suplemento bovino sustentável: conheça projetos de estudantes que vão representar a Bahia em feira nacional

Cinco trabalhos de alunos da Escola SESI Bahia foram selecionados para participar de evento científico em São Paulo entre os dias 19 e 21 de março

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  • Larissa Almeida

Publicado em 21 de março de 2024 às 06:30

Alunos da Iniciação Científica da Escola SESI Bahia Crédito: Marina Silva/CORREIO

Um sistema de medição de combustível adulterado, um chuveiro inteligente que reduz o consumo de água e um livro paradidático para inserir a história de quilombolas dentro das salas de aulas. Essas são três das cinco ideias de estudantes da Escola SESI Bahia que viraram projetos científicos e foram selecionados para a 22ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), que acontece na Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo.

Os cinco trabalhos selecionados são de alunos das unidades de Piatã e Retiro, em Salvador, e da unidade de Vitória da Conquista, no Sudoeste da Bahia. Nesta segunda-feira (18), eles embarcaram rumo a São Paulo, onde expõem suas pesquisas na Febrace nos dias 20 e 21 de março para estudantes, professores, pesquisadores e público geral de todo o Brasil.

Combinando Engenharia e Programação, as alunas Franciele Pereira, de 17 anos, e Daniela de Paula, de 16 anos, criaram um equipamento automatizado para funcionar como um sistema de medição de adulteração de combustível (Smac). A proposta do projeto é disponibilizar esse dispositivo nos postos para evitar que o consumidor compre um combustível adulterado.

“O Smac foi criado para ser prático, então fizemos de uma forma que tivesse praticidade maior para leitura e conversão de dados, como densidade e temperatura, para ser utilizado em um posto de gasolina. Tanto para o consumidor fazer os testes mais rápidos de maneira rápida, segura e eficaz, como também para o dono do posto fazer o teste e saber se ele está com combustível apto para ser vendido”, detalha Daniela de Paula.

Franciele Pereira e Daniela de Paula são autoras do projeto "SMAC - Sistema de medição de adulteração de combustível" Crédito: Marina Silva/CORREIO

Vencedoras em 1º lugar da última edição do Prêmio Jovem Cientista da Universidade Federal da Bahia (Ufba), elas foram automaticamente classificadas como finalistas da Febrace. “Fizemos uma avaliação online e recebemos a notícia bombástica e fantástica de que estávamos indo para a Febrace. Estamos muito ansiosas”, admitiu.

Na expectativa para a viagem, o protótipo do chuveiro inteligente do aluno Luiz Filipe Santos, 18 anos, já estava embalado e devidamente guardado para evitar qualquer tipo de dano desde a última sexta-feira (16). O cuidado reflete a dedicação com o trabalho. Intitulado de ‘Aqua System – A utilização de chuveiros inteligentes no gerenciamento do consumo hídrico’, o projeto surgiu em 2021, durante uma atividade da aula de Robótica que tinha como missão a construção de um dispositivo inteligente para a casa dos alunos. De imediato, Luiz pensou em algo que tem como objetivo reduzir o consumo de água.

“O chuveiro tem um sistema infravermelho. Com a aproximação da mão do usuário ou de qualquer parte do corpo, ele ativa uma válvula que permite ou não a passagem de água. Quando ativada, a passagem acontece por um período limitado e ainda tem um display que apresenta o tempo que o usuário está usando o chuveiro”, explica Luiz Filipe.

Luiz Filipe Santos é autor do projeto "Aqua System: utilização de chuveiros inteligentes no gerenciamento do consumo hídrico" Crédito: Marina Silva/CORREIO

A ideia do estudante foi aprimorada com a orientação da professora de Química e Iniciação Científica do SESI Retiro, Carolina Alcântara, que não escondeu o orgulho do pupilo. “Luiz é um aluno proativo e criativo. Fico muito feliz por ele ter alcançado a Febrace. O projeto dele é relacionado à Cidade Inteligente. Se pensarmos nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para melhorar e ter um mundo mais sustentável, cada etapa da Cidade Inteligente faz parte desse processo”, afirma.

Tendo como base a Lei 11.645/2008, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira no Ensino Fundamental e Médio, as estudantes Bruna Mendes, 16 anos, Amália Bonfim, 16 anos, e Ana Júlia Alves, 18 anos, decidiram criar um livro paradidático para falar sobre as existências, vivências e desafios das comunidades quilombolas do Brasil.

Para desenvolver o projeto, elas tiveram contato com a Fundação Palmares, visitaram o Quilombo Kingoma, em Lauro de Freitas, tiveram a colaboração de professores da educação básica e de alunos quilombolas da Ufba. Com seis capítulos que falam sobre aspectos como saberes ancestrais, direitos e deveres desses povos, além das vivências nos quilombos, o livro ainda está em construção, mas tem como objetivo ser distribuído gratuitamente pela rede pública de ensino.

“Nós percebemos que os materiais didáticos disponíveis sobre comunidades quilombolas são poucos. Fizemos mapeamento dos materiais recomendados pelo Ministério da Educação para aplicação da Lei 11.645 e, com a baixa tiragem de materiais reunido com o fato de que eles são muito mais direcionados para professores terem aporte para lecionar dentro de sala de aula, temos como intenção trazer esse conhecimento de forma mais didática e sucinta para os próprios estudantes”, destaca Bruna Mendes.

Bruna Mendes, Ana Júlia Alves e Amália Bonfim são autoras de "Desafios para garantir uma educação de qualidade voltada à existência quilombola no Brasil" Crédito: Marina Silva/CORREIO

Michele Sodré, professora de Iniciação Científica da Escola SESI Piatã e orientadora das três estudantes, ressalta ainda o fato de a pesquisa manter diálogo constante com pessoas pertencentes às comunidades quilombolas. “Fico muito feliz de orientar esse projeto porque elas são muito responsáveis e estudiosas. Foi muita competência e respeito, porque elas têm consciência de que não são quilombolas, mas entendem que o espaço da escola e a oportunidade de fazer Iniciação Científica no ensino básico pode ser também utilizado à serviço da sociedade”, pontua.

Já formadas no Ensino Médio, as alunas Clara Dias, 18 anos, Sabrina Rocha, 19 anos, e Mariah Clara Silva, 18 anos, representam a escola com o projeto de um suplemento para bovinos de corte a base de microalgas que ajuda a evitar problemas de saúde no animal e melhora a qualidade da carne consumida por humanos.

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Mariah Clara Silva, Clara Dias e Sabrina Rocha Crédito: Marina Silva/CORREIO

“Por conta da dependência de fatores climáticos, do solo das pastagens e forragens, são oferecidos alimentos a esses animais que impactam na sua saúde digestiva, ocasionando estresse oxidativo no seu período de confinamento. Por isso, nosso suplemento com microalgas não depende de fatores climáticos e solo favorável, ajuda a complementar as exigências nutricionais dos animais”, conta Mariah.

Por fim, as estudantes de Vitória da Conquista Marina Torres, Julia Carvalho e Rebeca Ventura, 17 anos, expõem na feira o trabalho ‘Os estereótipos do nordestino em obras cinematográficas e suas influências na formação do imaginário popular’. “Além de citar a importância de analisarmos como o nordestino vem sendo representado nas obras cinematográficas, buscamos levar a problemática para as salas de aula, utilizando das análises feitas no projeto para direcionar a discussão”, ressaltam.

Marina Torres, Julia Carvalho e Rebeca Ventura são autoras da pesquisa "Os estereótipos do nordestino em obras cinematográficas e suas influências na formação do imaginário popular" Crédito: Divulgação SESI

“São três meninas nordestinas, do interior da Bahia, produzindo um trabalho científico e de Humanidades e sobre estereótipos do Nordeste no cinema. Isso mobiliza um aparato sociológico e linguístico imenso. A aprovação Febrace significa o mundo. Um trabalho de Humanidades com essa temática sendo finalista é realmente muito massa. Eu estou bem feliz, esperançoso, orgulhoso das meninas e até de mim”, disse o professor Victor Lima, orientador do trio.

Para Fabiane Lima, especialista de educação científica da Escola SESI, diante da aprovação de tantos alunos na Febrace, o sentimento é de que o investimento na pesquisa tem dado frutos. “É uma felicidade perceber não só a quantidade de estudantes que enviamos todo ano, mas também a diversidade e qualidade. São áreas e habilidades diversas, e isso também é muito importante”, finaliza.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro