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Maysa Polcri
Publicado em 16 de julho de 2024 às 16:00
Antes de ser espancada e obrigada a entrar em uma casa com resquícios de fogo, na aldeia Corumbauzinho, no sul da Bahia, Miscilene Dajuda Conceição, 44, foi ameaçada pelo cunhado. A residência em que a indígena morava com o companheiro, Lucimar Rocha da Silva, 40, pegou fogo depois que ele queimou notas de dinheiro, no domingo (14). Ao chegar no local, o irmão de Lucimar, que mora em uma aldeia vizinha, acreditou que Miscilene teria causado a morte. O cunhado ameaçou a indígena e, depois, retornou com três homens armados para torturá-la. >
De acordo com um morador de Corumbauzinho, que presenciou a tortura sofrida por Miscilene, a indígena pediu para que a polícia e os familiares do companheiro fossem acionados, após o incêndio no imóvel. As chamas começaram após Lucimar colocar fogo em notas de dinheiro, durante uma discussão do casal, segundo a Polícia Civil. Ele, que estava alcoolizado, teria entrado na residência para salvar pertences durante o incêndio, mas não conseguiu escapar.>
“O irmão do Lucimar veio na aldeia, analisou a situação e falou que ia matar a Miscilene. Ela continuou aqui e disse que não devia nada, que foi o próprio Lucimar que incendiou a casa por acidente. Foi ela que pediu para ligar para a polícia e para o cunhado ", conta a testemunha. O cunhado da vítima mora na Aldeia Águas Belas, localizada em Prado. >
Depois de ameaçar Miscilene, o irmão de Lucimar retornou a Corumbauzinho com Evail da Conceição Brás, o cacique Baia, da aldeia Águas Belas. Também estavam presentes o pai e o irmão do cacique. Agressivos, os quatro homens ameaçaram os indígenas e torturaram a mulher. Ela tentou explicar, diversas vezes, que o incêndio tinha sido acidental, mas não foi ouvida pelos agressores. >
“O irmão do Lucimar foi até a aldeia e voltou com o pessoal armado. Eles ameaçaram a comunidade toda e disseram que, quem tentasse ajudar ela, ia morrer. Torturaram ela, jogaram ela no fogo várias vezes. Foi quase meia hora de tortura, tiravam ela do fogo, jogavam de novo. Quando ela tentou fugir, ele [cunhado] matou ela com um golpe de enxada na cabeça”, relata a testemunha. >
As brigas entre Miscilene e Lucimar não eram novidade na aldeia Corumbauzinho. Um dos indígenas que presenciou a tortura contou que ambos tinham problemas com álcool. “Ela é nativa da aldeia, uma pessoa tranquila. Mas os dois tinham essa relação com a bebida, que gerava brigas entre eles”, contou. As discussões nunca tinham tomado proporções como no último domingo. >
Os quatro homens responsáveis pela ação, segundo investigações da 8º Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Teixeira de Freitas), foram presos em flagrante. De acordo com o delegado Moisés Damasceno, responsável pelo caso, o irmão de Lucimar disse não lembrar de nada do que ocorreu no domingo (14). Os demais envolvidos negaram a participação no crime. >