Fim de uma era: sem a da Vasco da Gama, Perini terá apenas três unidades funcionando

Fechamento da unidade foi anunciado nessa segunda-feira (20)

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  • Raquel Brito

Publicado em 21 de maio de 2024 às 05:00

Unidade da Vasco da Gama fechará as portas no fim do mês
Unidade da Vasco da Gama fechará as portas no fim do mês Crédito: Ana Albuquerque/CORREIO

“Me vem um filme na cabeça”, diz Daniela Souza, de 28 anos, ao pensar na relação que tem com a Perini. Frequentadora fiel da unidade da Vasco da Gama, a notícia do encerramento das atividades no fim deste mês a pegou de surpresa. “Lugar nenhum tem os pães e a coxinha daqui”, lamenta.

O anúncio do fechamento de mais uma loja veio nesta segunda-feira (20). Segundo a nota divulgada pela assessoria de comunicação da rede, comprada pela Cencosud em 2010, a decisão está alinhada à estratégia de reposicionamento da marca.

Contando com os quiosques em shoppings, a Perini já contou com 12 espaços em Salvador. Hoje, a marca já não está presente nos centros comerciais da capital baiana e apenas três unidades resistem: Graça, Pituba e Café Costa Azul, além da que será fechada em menos de duas semanas.

“Além disso, a empresa afirmou que vai considerar aproveitar os funcionários da unidade em outras lojas da companhia. “Os colaboradores serão considerados para atuar nas outras unidades da rede (Graça, Pituba e Café Costa Azul). A Perini reforça seu compromisso em seguir oferecendo produtos de qualidade para melhor servir aos seus clientes”, completou.

A loja da Vasco da Gama, conhecida como Perini Master, foi inaugurada em 1995. Maior das unidades, ela centralizou a produção dos produtos Perini, a administração e o depósito principal da empresa em um prédio de 7.200 m².

A primeira unidade da Perini foi fundada em 1964, pelos sócios Delmiro Carballo Alfaya e José Faro Rua - o Pepe. O nome ainda era outro: Panificadora Elétrica da Barra. A intenção já era criar uma padaria que atendesse seus clientes de forma especial, com produtos diferenciados.

Em 2010, o grupo chileno Cencosud comprou a rede por U$27,7 milhões. Na época, eram oito unidades pela capital baiana. A primeira a surgir fechou em 2021, após 57 anos.

Em abril de 2023, a empresa fechou a última unidade que ainda funcionava dentro de um shopping da cidade, a Perini do Shopping Barra. Antes, no início deste mesmo ano, foram anunciados os encerramentos das lojas no Shopping da Bahia, no Salvador Shopping e no Shopping Paralela.

O encerramento das atividades das lojas deixa muitos órfãos pela cidade e aflige até aqueles que já não vivem na capital. É o caso de Mariana Tarcília, de 42 anos, que conheceu e se apaixonou pela Perini enquanto trabalhava no Shopping Barra. Há seis anos, ela voltou a morar na cidade em que nasceu, mas acompanha com tristeza as notícias dos fechamentos.

“Eu fico de coração partido quando ouço essas histórias, mas os produtos já não são os mesmos também. Lembro que quando eu ia ao banheiro no shopping, passava em frente àquela vitrine linda e ficava maravilhada. Um dia, resolvi comprar e me apaixonei”, conta.

Com o tempo, a Perini se tornou uma espécie de grife do setor alimentício de Salvador. Mariana viu isso de perto. “Era sempre a elite, essas madames todas sempre comprando, saindo com sacolas volumosas, lanches diferentes. As coisas também eram caras para nós, que trabalhávamos no shopping. Na época eu fazia comparação e um quilo de frango era o valor de uma coxinha com catupiry. Mas sempre que dava eu comia”, lembra.

Para Vinícius Barbosa, jornalista de 25 anos, a delicatessen da Barra tinha uma dimensão a mais: era lá que ele passava momentos com seu avô, que morava perto da loja. Sempre que ia visitá-lo, os pãezinhos delícia recheados e a coxinha que é marca registrada da Perini estavam presentes.

“Toda vez que eu ia para lá eu sabia que ia ter isso, e quando eu não tinha, ele descia comigo, comprava e a gente ficava na piscina do prédio, brincando e comendo. Era quase um ritual passar e comprar. Eu devia ter entre cinco e oito anos de idade. Eu perdi um pouco desse costume depois que ele morreu, mas guardo muito a memória afetiva”, lembra.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.