Juarez Restaurante retorna ao Centro Histórico acompanhado da velha guarda baiana

Tradicional Filé à Juarez é o carro chefe da casa

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 11 de dezembro de 2023 às 16:06

Agnoel Torres, filho adotivo dos fundadores, é quem comanda o local
Agnoel Torres, filho adotivo dos fundadores, é quem comanda o local Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Houve um tempo em que não existiam supermercados e o Centro - hoje, Histórico - de Salvador era palco da euforia de um intenso comércio. Em meio ao vai e vem de mercadorias, surgiam estabelecimentos que tentavam dar conta dos mercadores famintos que ali transitavam. Boa parte desses locais resistem apenas na memória de uma população envelhecida. Quem escapa da regra é o Juarez. Fundado em 1955 e dono do tradicional “filé de petróleo”, o restaurante retornou ao Centro nesta segunda-feira (11), para a felicidade da clientela nostálgica.

O relógio marcava 11h37 quando a porta de vidro foi aberta para dar espaço aos dois primeiros clientes do dia. Àquela altura eles não sabiam ao certo, mas estavam prestes a fazer parte de um novo capítulo da história de um dos restaurantes mais tradicionais de Salvador. “Reformaram só a casa ou os preços também?”, perguntou Mário Diniz, de 58 anos, logo ao entrar. O tom simpático da brincadeira dava indícios do sotaque de fora.

Filé à Juarez, o prato mais famoso da casa, leva vinho na preparação
Filé à Juarez, o prato mais famoso da casa, leva vinho na preparação Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

O auditor fiscal gaúcho mora há duas décadas na capital baiana e frequenta a casa desde então. Mário é um dos muitos clientes que lamentaram o fechamento temporário do restaurante, em dezembro do ano passado. “Eu estava esperando abrir para vim comer. É importante vir porque os restaurantes tradicionais de Salvador estão fechando, temos que prestigiar”, disse. Ele estava acompanhado do colega de trabalho Rivaldo Moraes, 61.

Tão logo sentaram em uma das 15 mesas do andar de baixo, pediram o almoço. A escolha não poderia ser outra senão o prato mais famoso: o Filé à Juarez. Com crosta preta por conta do banho no óleo quente, a suculência da carne rosada por dentro é famosa desde a década de 50. Rivaldo Moraes esteve pela primeira vez no restaurante na reinauguração, já Mário, saudoso do filé, foi categórico. “Gostoso como sempre”, disse depois de se deliciar.

Os amigos Mário e Renivaldo pediram o prato mais tradicional da casa
Os amigos Mário e Renivaldo pediram o prato mais tradicional da casa Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Durante os 12 meses que esteve fechado, o estabelecimento passou por reformas estruturais. Localizado no antigo Mercado do Ouro, na Avenida Jequitaia, o espaço de dois andares foi modernizado para atender a clientela. Em 2019, uma filial foi inaugurada em um supermercado da Avenida Antônio Carlos Magalhães. Mudanças do local, no entanto, fizeram com que o restaurante fechasse as portas na última quinta-feira (7).

As mesas e cadeiras que lá estavam foram realocadas para a sede, o que tornou o retorno ao Centro Histórico atabalhoado. “Fizemos dois restaurantes caberem em um só”, resumiu Vanessa Freitas, de 21 anos. A jovem faz parte da quarta geração de donos do Juarez Restaurante. A história remonta há quase 70 anos, quando Luís Miranda Formigli abriu o estabelecimento em sociedade com Juarez Zenóbio da Silveira.

Depois da morte de ambos, Felisberto Formigli, filho de Luís, assumiu o restaurante ao lado de Agnoel Torres, de 48 anos, filho de consideração do fundador. Depois da morte de Fefê, como Felisberto era conhecido, há cinco anos, a missão de dar continuidade ao restaurante ficou a cargo de Agnoel - que tem seguido os passos do pai adotivo com orgulho.

O restaurante funcionou primeiro dentro da loja em que Luís Formigli vendia cereais
O restaurante funcionou primeiro dentro da loja em que Luís Formigli vendia cereais Crédito: Acervo Pessoal

“Esse lugar funciona ainda hoje como uma família. Os funcionários são meus amigos e me ajudam muito nessa caminhada”, diz Agnoel. A jovem Vanessa Freitas é filha de Agnoel e a esposa dele também trabalha no local. “Nossos clientes nos acompanham onde nós fomos. Mantemos aqui por conta da tradição”, conclui. Agnoel Torres tomou empréstimos no banco para custear a reforma de quase R$70 mil. Em uma época em que comércios deixam o Centro Histórico, o Juarez fez o caminho contrário: retornou ao local de origem apostando na fidelidade dos clientes saudosos.

O movimento no primeiro dia de abertura não foi intenso. Mais da metade das mesas foram ocupadas e não houve demora no serviço. Os pratos principais custam entre R$43 e R$86 e são individuais, mas podem servir duas pessoas - “a depender da fome”, explica Agnoel. O prato mais caro é o Filé à Juarez, que acompanha arroz, feijão, salada e farofa.

A maior parte da clientela era formada por pessoas com mais de 50 anos, que frequentavam o lugar na época de Juarez e Fefê. Um deles é o comerciante Benedito Nascimento, que lembra de Agnoel Torres, ainda criança, transitando pelo estabelecimento. “É bom ver que Agnoel veio de uma família que cuidou dele e está seguindo com a tradição”, afirmou. É como se cada uma das pessoas que prestigiaram a reinauguração tivesse uma história a ser contada sobre o lugar.

Placa localizada em frente ao estabelecimento
Placa localizada em frente ao estabelecimento Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Maria Renilda, 59, esposa de Benedito, lembra da primeira vez que esteve no local. “Eu vim grávida do meu primeiro filho, que hoje tem 32 anos, e lembro até hoje que pedi a língua. Eu comi e passei mal de enjoo, nunca mais comi língua, mas sempre pedi o filé”, contou aos risos. Assim que chegou no espaço reformado, o casal se dirigiu à mesa que historicamente ocupam. Ao lado direito, atrás do balcão de bebidas. “Quando a gente chegava, Fefê sempre estava sentado aqui. Aí eu dizia que esse era o nosso lugar e ele ficava batendo papo com a gente”, relembra.

A casa tem seis funcionários, sendo a mais antiga delas a cozinheira Valdirene Santos Faria, de 56 anos. “Vim do interior e comecei a trabalhar aqui em 1988. Aprendi a receita do filé com Juarez e faço a mesma desde então”, conta. Do que depender das memórias da velha guarda, a volta tem tudo para ser um sucesso. O Juarez Restaurante funciona de segunda a sábado, das 11h às 15h, na Avenida Jequitaia, 1. O estabelecimento também faz delivery. O número para contato é o 71 9922-5298.

Serviço

  • O que: Juarez Restaurante 
  • Onde: Avenida Jequitaia, 1 - Centro
  • Quando: De segunda a sexta, das 11h às 15h
  • Contato: 71 9922-5298
  • Para mais informações: @restaurantejuarez