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Gil Santos
Publicado em 11 de julho de 2023 às 05:30
A hepatite é uma doença silenciosa, mas pode ser evitada e tem cura para alguns dos tipos de vírus. Sem o tratamento adequado, no entanto, pode matar. Este mês acontece o Julho Amarelo, período em que especialistas do Brasil inteiro reforçam a campanha de conscientização do Ministério da Saúde sobre as hepatites virais. Na Bahia, no ano passado foram 1.163 notificações. No ano anterior, 1.055; e, em 2020, 866. Entre 2020 e 2022, os registros da doença cresceram 34,2%, mas há muita subnotificação. >
Maria*, 62 anos, está fazendo tratamento para hepatite B no Hospital Geral Roberto Santos. Ela estava em Portugal quando começou a sentir fraqueza, falta de apetite e percebeu que a urina estava ficando escura. Um amigo médico, no Brasil, perguntou se os olhos dela estavam amarelados. >
“Eu respondi que não, mas depois percebi que estavam de fato ficando amarelados. Ele disse que poderia ser hepatite, meu filho conseguiu a passagem de volta às pressas e quando fiz os exames confirmou. Todas as minhas taxas estavam muito elevadas. Estou internada há oito dias e fazendo o tratamento com medicação”, contou. >
Na Bahia a maior concentração de casos de hepatite B foi no sexo feminino (52,6%) e a faixa etária mais acometida foi a população adulta de 30 a 39 anos (28,5%). Em relação ao vírus C a maior ocorrência foi no sexo masculino (57,5%) e a faixa etária de 50 a 59 anos (33,1%). Em Salvador, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) registrou 331 casos este ano, com 13 mortes. No ano passado inteiro foram 636 ocorrências, com 30 óbitos. >
Neste ano, a campanha da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) usa o slogan 'De Julho a Julho Amarelo. A cura começa com o teste!'. A cor é uma referência aos olhos e a pele dos pacientes, e o objetivo é conscientizar e incentivar o teste e a busca pela vacina e pelo tratamento.>
O presidente da Associação Baiana de Epidemiologia e Controle de Infecções (Abeci) e professor de infectologia na Faculdade Unex Itabuna, Fernando Romero, explica que as hepatites são um quadro inflamatório no fígado, podendo provocar alterações leves, moderadas ou graves, e que o mais comum no Brasil são os tipos A, B e C. >
“As hepatites podem ser silenciosas, ou seja, ter a infecção sem manifestar sintomas. Uma parcela menor de pessoas pode ter cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Os tipos B e C, podem evoluir para hepatite crônica, o diagnóstico e o tratamento tardio podem levar a cirrose e inclusive hepatocarcinoma [câncer]”, afirma. >
A forma mais eficiente de proteção é a vacinação, disponível nos postos de saúde para os tipos A e B. A médica hepatologista do Hospital Geral Roberto Santos e do Hospital Santa Izabel, Aloma Campeche, explica que existe um teste rápido para detecção de hepatites disponível nos postos de saúde. O tipo C é a mais comum no Brasil e o mais perigoso. >
“Em 80% dos casos o vírus C se torna crônico e ele também é responsável por 70% das mortes atribuídas à hepatite, enquanto no tipo B apenas 10% dos pacientes cronificam. O tipo C tem cura em mais de 95% dos casos e o tratamento dura cerca de 3 meses. No tipo B não há cura, mas o controle da doença. Já no tipo A não há fase crônica e nem tratamento específico, a doença cura naturalmente”, explica. >
Exames de sangue conseguem identificar se o paciente já tem no organismo a proteção contra o vírus da hepatite, o que ajuda quem não tem certeza se já tomou a vacina. A transmissão mais comum para o tipo C é através de contato com sangue contaminado, como compartilhamento de agulhas, lâminas, alicates e transfusões. No tipo B, as relações sexuais sem proteção dominam. Já no tipo A é o contato com fezes, água e alimentos contaminados. >
A médica frisou que entre 2018 e 2019 a Bahia viveu um pico de infecções por hepatite, o que pode estar relacionado com o aumento de testagens, e que os números caíram em 2020 e 2021 em função da pandemia. “Como o número de pessoas fazendo teste diminuiu por conta da covid, a quantidade de registros de casos foi menor, mas estamos percebendo um novo aumento. Essa é uma doença silenciosa e que pode matar, não espere, faça o teste e tome a vacina”, orienta.>
Em Salvador, a SMS informou que as 160 salas de vacinação da rede disponibilizam a vacinação para hepatite B para todas as faixas etárias. Já a de hepatite A está no calendário aos 15 meses, mas pode ser feita até 4 anos 11 meses e 29 dias (não vacinados) e grupos especiais conforme definido pelo Ministério da Saúde. É preciso apresentar documento de identificação com foto, cartão SUS e cartão de vacinação.>
As Unidades de saúde estão ofertando testagem rápida e distribuindo material informativo. Será feita a iluminação cênica na cor amarela nos monumentos e edifícios públicos como Farol da Barra, Praça da Sé, Elevador Lacerda, Viaduto Governador Eduardo Campos (Imbuí) e o complexo de viadutos João Gilberto (Complexo de viadutos do BRT no bairro do Itaigara) como um sinal de alerta.>
Hepatite A - A transmissão é fecal-oral (contato de fezes com a boca), alimentos ou água contaminados, por isso, a doença está relacionada a baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal. Os sintomas são fadiga, mal-estar, febre, dores musculares, enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia, urina escura, pele e os olhos amarelados. Não há tratamento específico. A prevenção é a vacina e cuidados com a higiene. >
Hepatite B – A transmissão mais comum é através do sexo. Na maioria dos casos não apresenta sintomas e muitas vezes a doença é diagnosticada décadas após a infecção, com sinais relacionados a outras doenças do fígado. O diagnóstico é através de teste laboratorial ou teste rápido. Não tem cura, e o tratamento é através de medicamentos antivirais disponíveis no SUS. A prevenção é a vacina e o uso de preservativo. >
Hepatite C – É a mais comum e a mais perigosa, porque em 80% dos casos ela torna-se crônica. A transmissão acontece através do contato com sangue contaminado por meio de transfusões e compartilhamento de objetos pessoais. O surgimento de sintomas é raro. O diagnóstico é por teste rápido e exame de sangue. Não existe vacina. A prevenção é não compartilhar objetos pessoais. O tratamento é feito com antivirais disponíveis no SUS, com taxas de cura de mais 95%, durante cerca de 3 meses. >
Hepatite D – É considerada a forma mais grave de hepatite viral crônica, com progressão mais rápida para cirrose e um risco aumentado para descompensação, CHC e morte. É mais comum na região Norte. A transmissão é pelo contato com o sangue contaminado e pode não apresentar sintomas. Não tem cura. >
Hepatite E – O vírus causa doença aguda de curta duração e auto-limitada. Na maioria dos casos é de caráter benigno. A forma de transmissão e os sintomas são similares ao da hepatite A, e ela também não tem tratamento específico. O vírus é menos comum no Brasil, sendo encontrado com maior facilidade na África e na Ásia. >
*Usamos nome fictício para proteger a identidade da paciente>