Missa na Graça celebra 495 anos de batismo de Catarina Paraguaçu

Indígena, que foi esposa de Caramuru, doou terras da Graça e igreja a monges beneditinos

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Publicado em 1 de agosto de 2023 às 05:00

arquiabade Emanuel D'able do Amaral, do Mosteiro de São Bento., presidiu a missa
arquiabade Emanuel D'able do Amaral, do Mosteiro de São Bento., presidiu a missa Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Fundada em 1535, a Igreja de Nossa Senhora da Graça é uma das mais antigas da Bahia. Se considerarmos apenas as que ainda estão erguidas, há possibilidade até de ser a mais antiga, já que não há certeza sobre a data de fundação da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, que, segundo alguns registros, pode ter sido erguida em 1534.

Mas sobre outro fato, não há dúvida: a indígena Catarina Paraguaçu foi essencial para a fundação da Igreja da Graça, pois foi que ela que doou a igreja e também as terras onde está construída a estrutura. Por isso, foi dia de celebrar na missa noturna de domingo os 495 anos do batismo de Catherine dü Bresil. A cerimônia foi presidida pelo arquiabade Emanuel D'able do Amaral, do Mosteiro de São Bento.

"Os monges beneditinos chegaram em 1582, um ano antes da morte de Catarina Paraguaçu. Logo que chegaram, ela os procurou para doar suas terras da Vitória e da Graça. Já havia jesuítas e tinha também padres na diocese de Salvador, mas ela escolheu doar aos beneditinos as terras que havia herdado do pai, o cacique Taparica", explicou o arquiabade ao CORREIO.

Mas também durante a cerimônia, que começou às 18h, o religioso destacou aos fiéis a importância da indígena. 

"Catarina é a fundadora desta igreja e deste mosteiro. Ela foi uma pessoa de grande sabedoria e viveu uma vida transformada pelo seu batismo. Ali, ela escolheu a pedra mais preciosa de sua vida, que se chama Jesus Cristo"

Emanuel D'able do Amaral
Arquiabade do Mosteiro de São Bento

Catarina foi batizada na França, aos 25 anos. Na Igreja da Graça, há um facsímile do registro de batismo de Catarina, que era esposa de Diogo Álvares Correia, conhecido como Caramuru. Diz o texto: "No penúltimo dia do dito mês (julho de 1528) foi batizada Katherine du Brésil, e foi padrinho o nobre senhor Guyon Jamyn, reitor de Saint-Jagu, e madrinha Katherine des Granches e Fraçaise Le Gibien, filha do procurador de Saint-Malo (...)".

Emanuel D'able do Amaral destacou a importância do batizado na igreja: "É o sacramento da iniciação, através dele você entra na igreja. É a porta de entrada na vida da comunidade para outros sacramentos. A pessoa se torna cristã quando é batizada".

Também durante a missa, o arquiabade falou sobre um sonho que Catarina tinha com frequência e que foi fundamental na sua relação com a igreja: "Foi revelada a Catarina, durante os sonhos, a presença de uma mulher, depois que ela voltou da França. Ela contou ao marido o sonho e descreveu a imagem da mulher, junto com uma criança. Depois de um tempo, Caramuru achou a imagem de Nossa Senhora e perguntou a Catarina se era aquela a imagem que aparecia nos sonhos dela. Catarina confirmou. Podemos dizer que Deus revelou a ela então talvez o primeiro milagre brasileiro: Nossa Senhora".

O religioso estendeu a homenagem da missa a todo o povo indígena: "Nosso país é profundamente marcado pela herança dos indígenas, sobretudo em algumas regiões do país. Tiveram importância muito grande por essa mistura feliz de portugueses com indígenas. Aqui, rezamos especialmente por todos os povos originários do país, que já habitavam esta terra quando nossos antepassados portugueses chegaram".

Entre as frequentadoras mais assíduas do templo está Margot Viana Chaves. Moradora da Barra, ela costumava ir às missas de domingo do Mosteiro de São Bento, mas mudou para a Graça por questões de segurança: "A primeira missa que vi aqui foi ainda com Dom Gregório, num 18 de dezembro, quando é celebrado o dia da Nossa Senhora da Graça. Naquele dia, a igreja estava sendo reaberta e vieram parentes de Catarina Paraguaçu".